Após se desincumbir, em Brasília, da complicada e árdua tarefa de relatar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma tributária, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP), se deu ao luxo de conceder algumas entrevistas na Paraíba para falar de política. A mais densa delas foi ao programa Frente a Frente, do jornalista Luís Torres, a partir da qual tem sido possível fazer algumas leituras do pensamento do parlamentar a respeito das disputas pelo poder no Estado.
Registre-se, antes, que a experiência no Congresso e nos bastidores do poder em Brasília nos últimos anos deram maturidade política ao deputado Aguinaldo Ribeiro. É perceptível no seu modo mais seguro de abordar os assuntos nacionais e locais e até na matreirice política, mais sutil e desprovida de qualquer afetação.
Das entrevistas, foi possível conhecer pensamentos e planos de Aguinaldo para o Progressistas e a família Ribeiro para as eleições de 2024 e 2026. Ele verbalizou sem problemas: não há pretensão de apresentar um candidato a prefeito em Campina Grande, que seria responsabilidade da oposição, e que cabe apenas um nome da família na chapa majoritária de 2026.
Pelas entrevistas, de forma aparentemente humilde,o presidente estadual do Progressistas abre mão de apresentar um candidato a prefeito na segunda maior cidade do Estado, plataforma para lançamento de candidaturas ao governo do Estado e ao Senado, e se mostra flexível em relação a 2026, deixando aberta a possibilidade de ter o sobrinho Lucas Ribeiro como candidato a governador, caso João Azevedo seja candidato a senador, ou a manutenção da candidatura de Daniella ao Senado, em caso contrário.
O tom meio despretensioso da fala de Aguinaldo tem objetivos: desarmar possíveis animosidades dentro do governo e não provocar partidos potencialmente aliados. A família Ribeiro estaria aberta para o jogo, para conversar, negociar, sem imposição. Essa é a mensagem verbalizada.
O problema é que Aguinaldo sempre cultivou um jeito misterioso de fazer política. Quase não verbaliza o que pensa e invariavelmente surpreende na última hora. Vide o que ocorreu em 2022, quando se esperava que confirmasse sua candidatura a senador, mas ele desistiu e anunciou o nome de Lucas como candidato a vice-governador.
Não existem motivos para se duvidar da palavra de Aguinaldo verbalizada nas nos últimos dias, mas, pelo seu próprio histórico político, também parece lícito se extrair ou tentar se extrair a leitura das entrelinhas das entrevistas, a mensagem não dita, não pronunciada verbalmente.
E qual seria essa mensagem e onde ela estaria embutida?
A mensagem é que a família Ribeiro já parece decidida a defender a candidatura de Lucas a governador de qualquer jeito. Esse é plano principal e todas as ações devem convergir prioritariamente para tal.
As entrelinhas na qual a mensagem veio embutida foi o momento em que Aguinaldo admite o sacrifício da irmã Daniella (na entrevista a Luís Torres ele diz que desde a hora que escolheram Lucas como candidato a vice-governador já sabiam que a reeleição de Daniella ao Senado estaria comprometida) e na forma revestida de humildade na qual apresenta a possibilidade da candidatura de Lucas, afirmando que só cabe um Ribeiro na chapa majoritária.
Na política, é comum que se peça muito para negociar depois. Aguinaldo poderia dizer que Daniella é candidata natural à reeleição e que Lucas, com a possível desincompatibilidade do governador, seria o candidato automático ao governo. Mas aí, com certeza, anteciparia uma imprevisível disputa política, com a possibilidade real de perder muitos apoios. O jogo agora requer mais habilidade e paciência.
Como sempre, Aguinaldo sabe muito bem o quer e já age para tentar conseguir. Os planos já estão bem armados. Porém, em muito dependem de decisões do governador João Azevedo.
Máximas do futebol
De todas as ponderações do deputado Aguinaldo Ribeiro sobre as disputas políticas na Paraíba, uma talvez mereça reparos ou questionamentos. É a aparente decisão que nenhum nome da família Ribeiro disputará as eleições municipais em Campina Grande. Retira, assim, a possibilidade de Daniella ser candidata a prefeita.
Duas máximas do futebol podem ser aplicadas perfeitamente à situação. São aquelas que sentenciam que "time que não entra em campo não consegue torcida" e a que "time que não disputa campeonato não ganha títulos".
A verdade é que Campina Grande continua sendo um estratégica plataforma para se chegar ao núcleo do poder na Paraíba e, além do mais, Daniella não perde nada sendo candidata.
Parece haver erro de avaliação nesse caso.
Fonte: Portal T5