Em julho de 2022, a Anvisa manteve a proibição da importação e a venda dos DEFs, ou vapes, no Brasil, mas a compra continua ocorrendo pela internet e em pontos de venda do comércio, incluindo camelôs, além de festas e boates.
Nesta quinta-feira (6), a Anvisa reiterou à AgĂȘncia Brasil que a importação de DEFs, acessórios, refis e essĂȘncias desses produtos é proibida no Brasil e que o descumprimento da norma é passĂvel de sanções. As penalidades previstas variam de advertĂȘncia a multas, conforme a gravidade do fato e o porte da empresa, de acordo com o previsto nas leis nÂș 6437/77 e 9294/96. Em caso de propaganda irregular, além das penalidades, as empresas são notificadas a retirar o site com conteĂșdo irregular da internet.
No âmbito das ações de fiscalização, tendo como fundamento o princĂpio da descentralização polĂtico-administrativa, cabe primordialmente às vigilâncias sanitĂĄrias locais a fiscalização de tais produtos, conforme prevĂȘ o Artigo 7Âș da Lei nÂș 8.080 /1990, cominado com a Lei nÂș 9.782/1.999, que define o Sistema Nacional de Vigilância SanitĂĄria. A Anvisa, contudo, "vem reforçando e integrando as ações de fiscalização em cooperação com estados e municĂpios e atuando na capacitação das vigilâncias sanitĂĄrias locais". A Anvisa informou ainda que não possui competĂȘncia legal para regular o uso individual de cigarro eletrônico.De acordo com relatório divulgado em maio do ano passado pelo sistema Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da SaĂșde, pelo menos um a cada cinco jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil. Do mesmo modo, a Ășltima pesquisa Covitel, desenvolvida pela organização global de saĂșde pĂșblica Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), mostra que os adultos jovens apresentaram as maiores prevalĂȘncias de experimentação de cigarro eletrônico (19,7%) e de narguilé (17%), no paĂs, no ano passado. O consumo desses produtos é considerado modismo no Brasil e segue comportamento observado em outros paĂses, como Estados Unidos e Reino Unido, onde é permitida a comercialização.
CDC
Estudo recente, divulgado no fim de junho pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), informa que as vendas mensais de cigarros eletrônicos aumentaram 46,6%, passando de 15,5 milhões de unidades, vendidas em janeiro de 2020, para 22,7 milhões, em dezembro de 2022 naquele paĂs. Esse incremento considera somente as vendas de varejo, excluindo o comércio online.
A sondagem mostrou que os e-cigarros com sabores são os preferidos do consumidor, evoluindo de 29,2% para 41,3%. A indĂșstria estĂĄ também em franca expansão, diz o CDC. O nĂșmero de marcas que oferecem produtos eletrônicos à base de tabaco subiu de 184 para 269, alta de 46,2%. JĂĄ a Pesquisa Nacional de Tabaco Juvenil de 2022, aponta que mais de 2,5 milhões de estudantes do ensino fundamental e médio dos Estados Unidos disseram usar o cigarro eletrônico, com um a cada quatro alunos relatando usar diariamente o vaporizador.
No Reino Unido, escolas estão trocando detectores de fumaça por sensores de calor para evitar o disparo de alertas, em razão do uso de vape pelos alunos, em especial nos banheiros das instituições, informou o jornal britânico Daily Mail. Na St George's Academy em Sleaford, em Lincolnshire, a diretora Laranya Caslin estimou que um em cada quatro alunos na faixa etĂĄria de 11 a 18 anos deixa as aulas habitualmente para usar o e-cigarro, visando a aumentar os nĂveis de nicotina no organismo.
Perigos
Falando nesta quinta-feira (6) à AgĂȘncia Brasil, o diretor executivo da Fundação do Câncer, cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni, demonstrou preocupação com os perigos que o avanço desse tipo de derivado do tabaco entre os jovens brasileiros pode trazer para a saĂșde.
Na Europa e nos Estados Unidos, onde a venda é permitida, as indĂșstrias argumentam que os vapes constituem uma maneira de as pessoas pararem de fumar. Maltoni afirmou que o argumento é falso e estĂĄ fazendo o efeito inverso, que é atrair cada vez mais jovens para o hĂĄbito de fumar e o consumo de tabaco. "A permissão para vender o cigarro eletrônico tem criado uma nova onda de crescimento da indĂșstria do tabaco no mundo."
No Brasil, ele disse que o volume de jovens e adolescentes que jĂĄ experimentaram o cigarro eletrônico em algum momento ou fazem uso desse produto só não é maior porque existe uma polĂtica no paĂs que proĂbe o cigarro eletrônico por normatização. "De certa forma, a gente ainda consegue manter Ăndices muito inferiores aos de nações onde é liberada a venda".
Convenção-quadro
Maltoni destacou a reativação da Convenção-Quadro da Organização Mundial da SaĂșde (OMS) para o Controle do Tabaco, que tinha parado de funcionar durante a pandemia da covid-19 e vai voltar agora à carga total. A convenção é assinada por mais de 100 paĂses que acordaram que o cigarro e seus derivados constituem item de grande prejuĂzo para a saĂșde no mundo e exige polĂticas de controle dos signatĂĄrios. "O ideal é que a gente possa erradicar o tabagismo do mundo". Na Convenção-Quadro, hĂĄ uma série de determinações que devem ser cumpridas pelos signatĂĄrios. Maltoni lembrou que o Ășltimo relatório sobre controle de tabaco do mundo foi lançado pela OMS no Rio de Janeiro, porque o Brasil tinha atingido todos os nĂveis mĂnimos necessĂĄrios para controle do tabaco no mundo. "Foi uma deferĂȘncia ao Brasil como um dos paĂses que mais avançaram no controle ao tabaco". Uma das questões da convenção é o cigarro eletrônico.
De acordo com o CDC, é alarmante o nĂșmero de casos de inflamação aguda de pulmão que o aumento do tabagismo tem provocado nos Estados Unidos. O diretor executivo da Fundação do Câncer afirmou que não hĂĄ nenhum estudo clĂnico que demonstre que o cigarro eletrônico seja indutor da cessação do tabagismo. "Pelo contrĂĄrio, nenhum [estudo] comprovou que é um método eficaz para a cessação. Existem outros métodos jĂĄ estabelecidos, que incluem uso de medicamentos, antidepressivos, aconselhamento individual ou em grupo, uso de adesivos de nicotina de reposição para que o dependente vĂĄ reduzindo a dose. Tem uma série de mecanismos para ajudar o tabagista a parar de fumar".
Maltoni insistiu que o cigarro eletrônico é um indutor e tem foco nos mais jovens para criar dependĂȘncia. "E, a partir daĂ, ele se torna não só um consumidor do cigarro eletrônico, mas também do cigarro convencional. Ele ressaltou que, além de doenças pulmonares, as substâncias tóxicas presentes no cigarro tradicional e nos eletrônicos contribuem para as doenças obstrutivas crônicas (DOCs) e doenças cardiovasculares, além de vĂĄrios tipos de câncer. "O cigarro eletrônico tem outro agravante. Como é um composto eletrônico, causa lixo que não é biodegradĂĄvel, polui o ambiente, provocando um problema ambiental cada vez mais significativo", disse o especialista.
Fora isso, hĂĄ também um grande nĂșmero relatado de explosões que deixam queimaduras em boa parte do corpo das pessoas, acrescentou.
Universidades
Além do trabalho de divulgação para ao pĂșblico dos malefĂcios do tabagismo, em especial do cigarro eletrônico, junto a outros parceiros, como a Ecoponte, a Fundação do Câncer pretende expandir este ano as ações realizadas em universidades pĂșblicas e privadas, para sensibilizar professores, pais e alunos sobre como a questão do tabagismo é importante para a preservação da saĂșde.
AgĂȘncia Brasil