A neurologista Tatiane Barros, membro da Academia Brasileira de Neurologia e da SBCE, informou, nesta quarta-feira (3), à AgĂȘncia Brasil, que o paciente sofre de enxaqueca quando tem trĂȘs ou mais dias de dor de cabeça por mĂȘs por, pelo menos, trĂȘs meses consecutivos. A cefaleia é uma dor geralmente unilateral, latejante, acompanhada de nĂĄuseas, às vezes vômito, e incômodos com luz e barulho. "E é uma dor que não melhora com analgésicos comuns."
Tatiane Barros afirmou que quando a dor se repete com frequĂȘncia de 15 dias ao mĂȘs jĂĄ pode ser considerada enxaqueca crônica. A recomendação é que a pessoa não espere chegar a essa situação para procurar um especialista e iniciar o tratamento. "Hoje jĂĄ existem tratamentos preventivos para evitar que a dor fique crônica e que essas crises venham". Reforçou que "não é normal ter esse tipo de dor".O tratamento preventivo inclui classes medicamentosas, como comprimidos e toxina botulĂnica, por exemplo, que visam evitar que a crise surja. "O medicamento preventivo é utilizado para diminuir a frequĂȘncia, a intensidade e a duração das crises".
Ela alertou, por outro lado, que a automedicação deve ser evitada, porque o uso indiscriminado de analgésicos, em médio e longo prazo, pode vir a ocasionar um efeito rebote, disparando episódios de enxaqueca.
Segundo Tatiane, a enxaqueca pode ocorrer em qualquer pessoa, em qualquer idade, mas é mais comum em mulheres a partir da adolescĂȘncia, quando a menina menstrua. "A idade mais frequente é a partir dos 18 ou 20 anos, até por volta dos 45 a 50 anos, e tem relação com o perĂodo hormonal".
Na infância, é igual para meninos e meninas. Depois, a incidĂȘncia aumenta na mulher, chegando a acometer quatro mulheres para um homem.
A enxaqueca crônica é uma das doenças mais incapacitante no mundo entre a população em geral, gerando comprometimento da qualidade de vida e aumento do gasto financeiro. É também uma das principais causas de absenteĂsmo no trabalho, sendo também, nesse caso, mais prevalente em mulheres, conforme indica a OMS. "Eu costumo dizer que a enxaqueca é uma doença subdiagnosticada, subtratada e subestimada. Porque, além de causar o absenteĂsmo, a pessoa não consegue trabalhar por conta da dor de cabeça, ela também tem um fenômeno relacionado que é o chamado presenteĂsmo, porque a pessoa vai de corpo presente, mas não consegue produzir com uma crise de enxaqueca".
Tatiane destacou que a doença tem ainda muito preconceito e julgamento associados. "Dizer ao chefe que não vai trabalhar porque estĂĄ com dor de cabeça parece desculpa esfarrapada", mencionou. A enxaqueca é a doença neurológica mais incapacitante do mundo, sustentou a especialista. Uma a cada seis pessoas tĂȘm dor de cabeça.
No Brasil, estima-se que, a cada ano, haja uma perda por volta de R$ 67 bilhões em gastos no sistema de saĂșde, devido à queda de produtividade relacionada à enxaqueca, ampliando a procura por consultas, exames, atendimento emergencial e internações hospitalares.
A neurologista informou que hĂĄ alimentos que mais comumente causam as dores de cabeça. "A gente não recomenda de cara para cortar isso ou aquilo." O paciente deve observar o que desencadeia a dor para ele.
Entre os alimentos que podem ser gatilho para dores, Tatiane destacou açĂșcar, chocolate, ĂĄlcool e, principalmente, vinho, alimentos ultraprocessados, como linguiça, salsicha, mortadela, temperos prontos, queijos amarelos e alimentos condimentados. As pessoas devem optar por uma alimentação rica em proteĂnas magras, frutas e vegetais, o que acaba por reduzir a inflamação no corpo. Além disso, a prĂĄtica de exercĂcio regularmente e técnicas de relaxamento, como ioga, meditação e respiração profunda, podem ajudar a aliviar estresse e tensão, que também são gatilhos para a doença, explicou.
Fonte: AgĂȘncia Brasil