Um estudo recente revelou que a poluição farmacêutica em rios está alterando o comportamento de salmões jovens, expondo-os a riscos maiores durante sua migração para o mar. A pesquisa, liderada pelo biólogo Marcus Michelangeli da Universidade Griffith, na Austrália, acompanhou mais de 700 salmões no rio Dal, na Suécia, entre 2020 e 2021.
Os cientistas descobriram que o clobazam, um benzodiazepínico comumente encontrado em águas residuais, acelera a migração dos salmões, fazendo com que alcancem o mar mais rapidamente. No entanto, essa exposição também reduz o medo natural dos peixes, tornando-os mais vulneráveis a predadores e aumentando o risco de morte em turbinas hidrelétricas.
Os pesquisadores implantaram dispositivos de liberação controlada de clobazam e tramadol, um analgésico opioide, em alguns salmões e compararam seu comportamento com um grupo de controle. Os resultados mostraram que os salmões expostos ao clobazam chegaram ao Mar Báltico mais rapidamente, mas também nadavam mais afastados uns dos outros, um sinal de redução das respostas ao medo.
"Peixes e humanos compartilham parte significativa da mesma arquitetura biológica. Não é surpresa que drogas desenvolvidas para o sistema nervoso humano também impactem os peixes."Christopher Caudill, professor da Universidade de Idaho, que não participou do estudo, comentou sobre a pesquisa.
Michelangeli alertou que essas alterações comportamentais, mesmo sutis, podem reduzir a taxa de sobrevivência e prejudicar a reprodução dos salmões a longo prazo. Ele enfatizou a urgência de investigar como a poluição invisível, como os remédios presentes em esgotos, pode afetar ecossistemas inteiros.
"A travessia do rio para o oceano é um dos momentos mais perigosos da vida de um salmão. Se as drogas reduzem a cautela desses animais, eles podem ser presas mais fáceis no ambiente marinho."Caudill explicou os riscos associados à alteração do comportamento dos salmões.
A poluição farmacêutica é um desafio global, com a presença de ansiolíticos, anticoncepcionais e analgésicos em águas doces. Estudos anteriores já demonstraram que esses contaminantes afetam peixes, insetos aquáticos e anfíbios. A União Europeia e os Estados Unidos estão discutindo regulamentações mais rigorosas, mas os sistemas de esgoto ainda não conseguem remover completamente essas substâncias.
Os pesquisadores alertam que o caso dos salmões serve como um lembrete de que é necessário rever o impacto da atividade humana sobre os rios e oceanos. A simples chegada de mais salmões ao mar não garante a saúde da população, pois eles podem estar menos preparados para sobreviver.
"Mesmo alterações sutis de comportamento podem, a longo prazo, reduzir a taxa de sobrevivência e prejudicar a reprodução. Precisamos entender melhor como essas mudanças se traduzem em impactos populacionais."Michelangeli ressaltou a importância de compreender os impactos da poluição nos ecossistemas.
Este estudo destaca a necessidade urgente de ações para mitigar a poluição farmacêutica e proteger a vida selvagem aquática, um problema que afeta não apenas os salmões, mas potencialmente muitos outros animais e ecossistemas em todo o mundo.
*Reportagem produzida com auxílio de IA