Criado em 2013, em resposta à reivindicação de movimentos sociais, e paralisado desde o ano passado, o programa busca estimular o ingresso e a permanĂȘncia de estudantes negros, pardos, indĂgenas e quilombolas, além daqueles com transtornos globais de desenvolvimento ou altas habilidades em cursos de graduação e de pós-graduação de universidades e institutos de educação profissional e tecnológica de excelĂȘncia no Brasil e no exterior.
Apesar da cerimônia de recriação do programa ter ocorrido nesta manhã, na sede da Capes, em BrasĂlia, a portaria ministerial que reinstitui a iniciativa foi publicada no DiĂĄrio Oficial da União desta quarta-feira (28).Hoje, além de assinar os editais que tornam pĂșblica a seleção de projetos conjuntos de pesquisa que autorizam a convocação de docentes e pesquisadores vinculados a programas de pós-graduação a apresentarem projetos, o ministro da Educação, Camilo Santana, e a presidente da Capes, Mercedes Bustamante, anunciaram a destinação de mais de R$ 600 milhões para custear ações afirmativas na pós-graduação e na formação de professores.
Deste total, R$ 260 milhões serão investidos ao longo dos próximos quatro anos para financiar até 45 projetos de pesquisa acadĂȘmica sobre temas como promoção da igualdade racial, combate ao racismo, difusão do conhecimento sobre história e cultura afro-brasileira e indĂgena, educação intercultural, acessibilidade, inclusão e tecnologia assistiva (tecnologia de apoio).
As propostas também podem ser relacionadas à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos, equipamentos, serviços e métodos destinados à autonomia das pessoas com deficiĂȘncia e mobilidade reduzida. Vão ser concedidas bolsas de mestrado-sanduĂche e doutorado-sanduĂche, além de recursos de custeio para estudos em universidades estrangeiras de excelĂȘncia.
Os projetos precisam ter a chancela de ao menos uma instituição de ensino brasileira e de outra do exterior. Na seleção, terão prioridade propostas vinculadas a instituições?de ensino das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste ou de municĂpios com Ăndice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito baixo, baixo ou médio. Além disso, pelo menos 50% das missões de estudo fora do paĂs serão destinadas a mulheres.
A iniciativa também destinarĂĄ recursos ao Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação – PolĂticas Afirmativas e Diversidade. Neste segmento, o governo federal deverĂĄ destinar, ao longo de cinco anos, pouco mais de R$ 45 milhões a projetos de formação de professores e pesquisadores acadĂȘmicos de diversas ĂĄreas do conhecimento. As propostas terão que abranger estudos sobre tecnologia assistiva na educação, interculturalidade, polĂticas indigenistas e para povos tradicionais, equidade, inclusão e avaliação de ações afirmativas.
Ainda não foi divulgada a data de inĂcio das inscrições, tanto para projetos a serem desenvolvidos no exterior quanto no Brasil, mas as atividades acadĂȘmicas começarão em janeiro de 2024.
O governo federal também destinarĂĄ mais de R$ 223 milhões para as ações de formação inicial de profissionais da educação para escolas do campo, comunidades indĂgenas e quilombolas, educação especial e inclusiva, previstas no Plano Nacional de Formação de Professores da Educação BĂĄsica (Parfor-Equidade), e para atender estudantes de cursos de licenciatura contemplados pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à DocĂȘncia (Pibid-Equidade).
Além disso, R$ 22,8 milhões serão destinados, em dois anos, ao custeio de bolsas de tutoria de lĂngua portuguesa para estudantes indĂgenas e R$ 56,8 milhões para a educação?especial,?por meio da realização de cursos de extensão a distância da Universidade Aberta do Brasil (UAB).?JĂĄ a?Secadi?destinarĂĄ, em quatro anos, R$ 40 milhões a cursos?preparatórios para acesso à pós-graduação?stricto sensu (em sentido especĂfico, restrito).
"As pessoas talvez não saibam da dimensão, do que representa trazer de volta este programa, que foi extinto de forma autoritĂĄria, sem que fossem avaliadas as consequĂȘncias disso", afirmou o ministro da Educação, Camilo Santana. "Sabemos da dĂvida histórica que nosso paĂs tem com os negros, com os indĂgenas e com os quilombolas. [Por isso] sabemos que tudo que fizermos em termos de polĂticas pĂșblicas serĂĄ pouco para garantir oportunidades para estas comunidades em todo o paĂs", disse o ministro.
"Com este pequeno passo, retomamos, hoje, a estrada que muitos vieram construindo ao longo de muitos anos de polĂticas pĂșblicas. Que venham muitos passos mais. E que sejam largos porque temos pressa", comentou a presidenta da Capes, Mercedes Bustamante.
Concorrida, a cerimônia de recriação do programa contou com a presença de representantes de organizações sociais, autoridades pĂșblicas e parlamentares. Entre os convidados, estava a presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros (IPEAfro) e viĂșva do artista, professor, polĂtico e ativista dos direitos humanos Abdias do Nascimento (1914/2011), Elisa Larkin Nascimento. Ela associou a retomada do programa de desenvolvimento acadĂȘmico à celebração dos 20 anos de instituição das cotas pelas primeiras universidades pĂșblicas do Brasil e às duas décadas da entrada em vigor da Lei nÂș 10.639 , que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileiras no ensino fundamental e médio, pĂșblico e privado.
Também participou do evento a adolescente Mirella Arcângelo, que foi convidada para ser mestre de cerimônia. Hoje com 16 anos de idade, Mirella ficou conhecida nacionalmente em 2017, quando vĂdeos amadores em que ela aparecia simulando uma entrevista com seus irmãos sobre as condições das ruas esburacadas de seu bairro, em Ribeirão Preto, São Paulo, viralizaram na internet. Na época, a menina que sonhava ser jornalista, apareceu em vĂĄrios programas de TV, incluindo o FantĂĄstico, da TV Globo, onde conversou com a repórter Glória Maria, então sua principal influĂȘncia.
Além de conduzir o evento, Mirella tirou fotos com sua famĂlia e terminou sentando, a convite do ministro Camilo Santana, na cadeira destinada a ele. "Em nome de toda a juventude brasileira, cumprimento a Mirella, que representa o sonho dos nossos jovens. E queria convidĂĄ-la para sentar na minha cadeira. Não tenho dĂșvidas de que vocĂȘ vai ser uma grande jornalista. Quem sabe, vocĂȘ que pensou em ser prefeita [de Ribeirão Preto], um dia venha a ser a ministra da Educação deste paĂs."
Fonte: AgĂȘncia Brasil