A Operação Verão foi considerada a segunda mais letal da polĂcia paulista, atrĂĄs apenas do Massacre do Carandiru, resultando em 56 mortes. Sua ocorrĂȘncia, assim como a Operação Escudo, de julho a setembro de 2023, marcaram a retomada de uma postura da corporação com mais valorização do confronto, o que tem levado ao aumento da letalidade policial no estado e a denĂșncias por servidores da saĂșde. Uma denĂșncia contra dois policiais militares jĂĄ havia sido aceita em novembro de 2024, relacionada à mesma operação.
As investigações sobre o caso tĂȘm sido motivadas pela atuação de organizações da sociedade civil que acusam a falta de transparĂȘncia nas ações e excessos nas abordagens realizadas durante as grandes operações policiais em São Paulo, o que motivou uma denĂșncia à Organização dos Estados Americanos (OEA). O próprio MPSP encerrou 17 de 22 processos de investigação relacionados à Operação Verão, no final do ano passado.A primeira denĂșncia aceita envolveu o policial Rafael Cambui, processado pela morte de Luan dos Santos, um homem que estava na garupa de uma motocicleta na cidade de Santos. O Ministério PĂșblico alega que Rafael ocultou informações sobre a ocorrĂȘncia, tendo disparado sem aviso e sem chance de defesa à vĂtima, que estava desarmada. Segundo o MP, o policial disse que perseguia o acusado, em viatura, pois este e o condutor da motocicleta iam roubar outro motociclista, e que a vĂtima deu sinais de estar armada, ao pegar algo no bolso do casaco.
De acordo com a versão do PM, o disparo foi acidental, mas a vĂtima, após ser atingida, arremessou um objeto (supostamente uma arma) em um rio próximo. Conforme a peça de acusação, os ferimentos da vĂtima não parecem ter ocorrido com os veĂculos em movimento e o homem atingido não teria condições de arremessar algo após os ferimentos. "Além das testemunhas condutoras das duas motocicletas, incluindo um policial civil, afirmarem que o ofendido não estava armado, o laudo médico-legal concluiu que a vĂtima estava impossibilitada de lançar um objeto no rio e de posicionar-se sentada no chão".
O segundo caso, que envolveu os policiais Nielson Barbosa Medeiros e Tiago Morato Maciel, foi no dia 7 de fevereiro, no municĂpio de São Vicente. Na ocasião, os dois PMs foram à casa que seria da companheira do assassino de um policial, morto no dia 2 daquele mĂȘs, que motivou a Operação Verão. LĂĄ mataram um homem que tinha passagem anterior pelo sistema prisional, Hildebrando Simão Neto, e uma testemunha de sua morte, Davi Gonçalves Junior. Hilderbrando tinha a visão seriamente comprometida, com cerca de 30 centĂmetros de acuidade visual.
Em um intervalo de menos de 9 minutos, os policias fizeram cinco disparos, o que resultou na morte dos dois envolvidos. Segundo o MP, a versão de Medeiros e Maciel foi de confronto seguido de morte, e as vĂtimas estavam armadas. A promotoria diz que as armas não eram dos acusados, e as condições, inclusive os ferimentos, indicam execução. Os policiais estavam com as câmeras corporais descarregadas. Também foram apontados os policiais Rodrigo Oliveira Sousa e Diego Barbosa Medeiros, que não foram acusados porque não tiveram envolvimento com as mortes.
O advogado da famĂlia de Davi, Rui Elizeu, elogiou a investigação, dizendo que o procedimento de investigação criminal foi feito com apuração bem minuciosa. "Demorou bastante, porém, foi bem detalhado, e chegaram à denĂșncia por conta dos indĂcios, indiscutĂveis. Agora vamos nos habilitar como parte da acusação, pois a famĂlia quer saber, é bastante humilde. Queremos que os dois policiais sejam encaminhados ao jĂșri e respondam pelo homicĂdio", disse o advogado, que representa Nilza, a mãe de Davi.
A AgĂȘncia Brasil procurou a defesa dos policiais acusados, mas ainda não obteve retorno. Os defensores ainda tĂȘm prazo legal para se manifestar dentro do processo.
Fonte: EBC