19/02/2025 +55 (83) 98773-3673

PolĂ­tica

Andre@zza.net

Guerra comercial de Trump terá reflexos no Brasil, dizem economistas

Rio de Janeiro (RJ), 18/11/2024 - Primeiro-ministro do CanadĂĄ, Justin Trudeau e a presidente do MĂ©xico, Claudia Sheinbaum na abertura do G20- Tomaz Silva/AgĂȘncia BrasilOs vizinhos americanos MĂ©xico e CanadĂĄ conseguiram, após conversas com Trump na segunda-feira (3), suspender por 30 dias uma sobretaxação de 25%.

Por Eliashacker.com.br 04/02/2025 às 18:22:24

Rio de Janeiro (RJ), 18/11/2024 – Primeiro-ministro do CanadĂĄ, Justin Trudeau e a presidente do México, Claudia Sheinbaum na abertura do G20- Tomaz Silva/AgĂȘncia Brasil

Os vizinhos americanos México e CanadĂĄ conseguiram, após conversas com Trump na segunda-feira (3), suspender por 30 dias uma sobretaxação de 25%. Os anĂșncios foram feitos pela presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, e pelo primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.

Os trĂȘs paĂ­ses tĂȘm superĂĄvit comercial com os Estados Unidos, ou seja, vendem mais do que compram dos americanos. O Brasil vive situação oposta, tem déficit comercial, comprou mais do que vendeu aos americanos. Mesmo nessa situação, acreditam especialistas, o paĂ­s deve receber reflexos da guerra de tarifas.

Imprevisibilidade

De acordo com a economista Lia Valls Pereira, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisadora associada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a imprevisibilidade criada por Donald Trump é um dos primeiros grandes reflexos que afetarão a economia mundial, incluindo o Brasil.

"É tudo muito incerto, hoje é uma coisa, amanhã pode ser outra", disse a economista à AgĂȘncia Brasil logo após o anĂșncio da suspensão da taxação de itens mexicanos e antes do alĂ­vio aos canadenses.

"Um dos piores efeitos é esse grau de imprevisibilidade que causa no comércio. Comércio internacional é uma coisa que tem planejamento, tem contrato. Se vocĂȘ fica em cenĂĄrio totalmente incerto, é ruim para todos, inclusive para o Brasil", afirma.

Retaliações

Donald Trump também tem ameaçado a União Europeia (UE) com a taxação de importações americanas. A UE tem dito que "deve responder com firmeza a qualquer parceiro comercial que imponha tarifas injustas ou arbitrĂĄrias sobre produtos do bloco".

Antes de chegarem a um acordo com Trump, México e CanadĂĄ tinham prometido medidas retaliatórias, caminho efetivamente seguido pela China.

"Se todo mundo começar a aumentar a tarifa, o comércio internacional recua, a demanda mundial recua", afirma Valls.

Para o professor de economia da Uerj Caio Ferrari, uma guerra tarifĂĄria tem potencial para provocar a desaceleração da economia mundial. Segundo ele, à medida que os paĂ­ses colocam retaliações em prĂĄtica, a economia mundial diminui.

"Os ganhos do comércio, da especialização e da escala de produção eficiente global se reduzem. Isso afeta o Brasil na medida que as exportações brasileiras dependem da renda gerada no resto do mundo", diz Cario Ferrari.

O professor explica, que se a renda é menor, a demanda por exportações é menor. "Logo, terĂ­amos um prejuĂ­zo ao setor externo exportador brasileiro", completa.

Comércio Brasil-EUA

Em 2024ž a balança comercial entre Brasil e Estados Unidos ficou negativa no lado brasileiro em US$ 253 milhões. Vendemos para os americanos US$ 40.330 milhões e compramos US$ 40.583 milhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, IndĂșstria, Comércio e Serviços (Mdic).

Os EUA são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, atrĂĄs da China. Os itens que mais vendemos para os estadunidenses foram petróleo (14% do total exportado), produtos semiacabados de ferro ou aço (8,8%), aeronaves, incluindo partes e equipamentos (6,7%) e café (4,7%).

Apesar do déficit comercial brasileiro, Donald Trump jĂĄ fez menções ao Brasil como um dos paĂ­ses que também podem ter itens taxados. Segundo o governante americano, o Brasil e a América Latina precisam mais dos EUA do que o inverso.

Enquanto o Brasil foi o nono maior importador de produtos dos EUA em 2024, segundo dados até novembro do governo americano, somos apenas o 18° que mais exporta para eles.

BrasĂ­lia (DF), 30/01/2025 - Lula em entrevista coletiva - Jose Cruz/AgĂȘncia Brasil

Na Ășltima quinta-feira (30), o presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva afirmou que a relação entre os dois paĂ­ses serĂĄ de reciprocidade.

Para o economista Gilberto Braga, professor do Ibmec, o Brasil deve sofrer efeitos diretos de medidas protecionistas americanas, "muito provavelmente, em curto prazo".

"Uma das dĂșvidas principais é se as medidas serão lineares, um percentual fixo de taxa adicional sobre todos os produtos exportados ou se de forma seletiva, produto a produto", diz.

Lia Valls, da FGV, cita itens de siderurgia e agrĂ­colas como os mais provĂĄveis de serem taxados, por causa do sucesso brasileiro nesses setores.

Caio Ferrari, da Uerj, acredita que o Brasil pode estar em uma lista futura de paĂ­ses sobretaxados.

"O Brasil pode ser afetado diretamente se a escalada tarifĂĄria americana incluir os produtos primĂĄrios produzidos no Brasil".

Para ele, uma decisão americana nesse sentido seria um atraso. "Os paĂ­ses emergentes tentam reduzir as tarifas de produtos primĂĄrios nas rodadas da Organização Mundial do Comércio (OMC) desde sua criação. As medidas de Trump seriam um retrocesso grande nessa ĂĄrea".

Inflação e juros

EdifĂ­cio do Banco Central no Setor BancĂĄrio Norte - Marcello Casal JrAgĂȘncia Brasil

O professor Gilberto Braga observa que as medidas protecionistas americanas podem afetar a polĂ­tica de juros aqui no Brasil. Ele lembra que a ata da Ășltima reunião do ComitĂȘ de PolĂ­tica MonetĂĄria (Copom) do Banco Central (BC) classificou como risco de cenĂĄrio externo a situação americana.

Um dos receios é que, para conter pressão inflacionĂĄria, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) não consiga diminuir a taxa americana de juros – hoje entre 4,25% a 4,50% ao ano, patamar considerado alto para padrões mundiais, o que atrai dólares dos investidores internacionais, que retiram seus recursos de outras economias, como a brasileira.

A fuga de dólares do Brasil tem o impacto de aumentar o preço da moeda americana, causando pressão na inflação por aqui, efeito que o BC tentaria frear com aumento de juros, tornando o crédito no Brasil mais custoso.

"Ou seja, a polĂ­tica econômica de Trump jĂĄ é [para o Banco Central brasileiro] um dos fatores considerados para a alta dos juros no Brasil", explica Braga.

Novos mercados

Caso medidas protecionistas de Trump se alastrem, como ele mesmo tem ameaçado, mirando na União Europeia, por exemplo, uma consequĂȘncia pode ser novos dinamismos em correntes de comércio de outros paĂ­ses.

"HĂĄ algumas décadas a participação de outros paĂ­ses na demanda externa por produtos brasileiros tem crescido, e os EUA não são mais o principal parceiro comercial, acredito que as medidas do governo americano podem intensificar ainda mais esse processo", avalia Ferrari.

A economista Lia Valls vĂȘ espaço para o Brasil se aproximar de outros mercados, como a União Europeia e o México. "Ao Brasil interessa exportar mais para esse mercado. Ver se consegue criar mais laços, mais acordos, se consolidar". Ela lembra do acordo Mercosul-União Europeia. "Realmente causa mais desvio de comércio dos Estados Unidos".

Para Braga, uma das alternativas a este cerco das medidas protecionistas de Donald Trump é a busca por acordo comerciais diretos entre os paĂ­ses e blocos comerciais. Ele faz uma analogia entre comércio internacional e um jogo de xadrez, "em que os Estados Unidos estão jogando de peças brancas, mexendo primeiro as suas peças no tabuleiro, e os demais paĂ­ses jogam as pretas, se defendendo".

"Qualquer peça movimentada não tem consequĂȘncia isolada, mas em todo o jogo comercial internacional", compara.

Fonte: EBC

Comunicar erro
ComentĂĄrios