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Fernanda Torres pede desculpas em site americano após acusação de racismo

Por Blog do Elias Hacker 28/01/2025 às 18:17:37

Acusada de racismo por fazer blackface na TV em 2008, Fernanda Torres se desculpa em site que é referência na cobertura de Hollywood
A atriz Fernanda Torres é a nova vítima da implacável memória da cultura "woke", que tende a cobrar caro por alegados erros cometidos no passado.

A artista de 59 anos ganhou destaque nas redes sociais no último fim de semana devido a uma publicação que relembra um antigo quadro de humor do "Fantástico" chamado "Sexo Oposto". No esquete, gravado em 2008, ela atua como uma empregada doméstica e é vista utilizando maquiagem para se parecer com uma pessoa negra — uma prática reconhecida como blackface.

Este método surgiu nos Estados Unidos no século XIX, sendo empregado em apresentações teatrais onde atores brancos faziam graça às custas de pessoas negras, reiterando estereótipos daquele período. Atualmente, o blackface é associado ao racismo e pode levar ao "cancelamento" de celebridades, a exemplo da estrela do filme "Ainda Estou Aqui".

No domingo à noite (26), Fernanda publicou um extenso pedido de desculpas, inicialmente divulgado pelo site americano "Deadline", uma referência na cobertura do universo do entretenimento.

"Eu sinto muito por isso. Estou fazendo esse comunicado pois creio ser importante tocar nesse assunto?e evitar mais dor ou confusão", disse a atriz.

Fernanda Torres alegou ignorância para se eximir de culpa: "Na época, apesar dos esforços dos movimentos negros, a consciência sobre a história do racismo e o simbolismo do blackface ainda não eram tão conhecidos (…) Me mantenho atenta e comprometida com a busca por mudanças vitais para que possamos viver em um mundo livre de desigualdades e racismo."

Episódio expõe as contradições da cultura woke
Mesmo após a artista — laureada com o Globo de Ouro e nomeada ao Oscar deste ano por "Ainda Estou Aqui" (uma coprodução da Globoplay com a Sony Pictures) — ter feito uma retratação pública, a controvérsia persistiu.

Muitos manifestaram repúdio à nota de Fernanda Torres nas redes sociais. Essa parcela do público acredita que a atriz diminuiu a importância da trajetória do movimento negro, o qual já era vigoroso e ativo quando o esquete cômico foi ao ar.

Fernanda recebeu críticas por encaminhar seu pedido de desculpas diretamente ao Deadline, um meio de comunicação reconhecido por seu impacto na indústria cinematográfica e frequentemente mencionado por produtores, atores e outros jornalistas.

Ou seja: usou um espaço estratégico para se manter no páreo pelo Oscar num momento em que Hollywood se mostra sensível a questões relacionadas à diversidade e à inclusão.

Houve indivíduos extremamente patrióticos entre os brasileiros que se tornaram teóricos da conspiração, acusando a Netflix de orquestrar uma campanha de difamação contra Fernanda e "Ainda Estou Aqui".

Explica-se: a plataforma de streaming é produtora de "Emilia Pérez", longa que concorre com a produção brasileira em três categorias do Oscar (Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz). Nas duas últimas, os dois filmes têm chances razoáveis de vencer.

Em última análise, aqueles que criticam o politicamente correto destacaram a ironia do incidente. Afinal, Fernanda Torres, que atualmente é um símbolo do progressismo na esfera artística brasileira, tornou-se um alvo do ativismo do qual ela mesma faz parte.

Ator negro teve de se explicar por supostamente apoiar o blackface
Nos anos recentes, diversas personalidades enfrentaram o julgamento do tribunal "woke" por terem algum tipo de associação com a prática do "blackface".

O exemplo mais evidente é o do Primeiro Ministro progressista do Canadá, Justin Trudeau. Em 2019, a revista Time publicou uma fotografia onde ele é visto com um make-up para escurecer a pele, em uma festa de temática árabe.

O evento aconteceu em 2001, quando o assunto ainda não era muito discutido, mas Trudeau se viu obrigado a pedir perdão mesmo assim. "Estou chateado comigo mesmo. Sinto muito por isso. Foi uma coisa idiota de se fazer", afirmou.

O atleta francês de futebol, Antoine Griezmann, enfrentou consequências mais graves por ter feito "blackface" durante a era do cancelamento. Em 2017, ele se pintou de preto para imitar uma estrela do basquete em uma festa com temática dos anos 80.

"Tenham calma. Sou fã dos Harlem Globetrotters [famoso time americano que viaja o mundo fazendo exibições performáticas] e esta é uma forma de fazer uma homenagem", disse Griezmann num primeiro momento.

A pressão, contudo, continuou, e o atleta do Atlético de Madri também fez um mea culpa: "Reconheci que foi insensível da minha parte. Peço desculpa se ofendi alguém."

No ano de 2020, Zoe Saldaña, a atriz, pediu desculpas por ter interpretado a cantora Nina Simone em uma cinebiografia que foi lançada quatro anos antes. A equipe de produção decidiu escurecer sua pele para a caracterização, o que levou o filme a ser acusado de racismo.

"Eu nunca deveria ter interpretado Nina. Deveria ter tentado tudo o que estava ao meu alcance para escolherem uma atriz negra", disse Saldaña, que tem origem latina.

Há casos mais radicais, como o da cantora Katy Perry, que decidiu retirar de circulação dois itens de sua marca de calçados após ativistas apontarem semelhanças entre o design dos sapatos e as pinturas blackface.

Ou o episódio envolvendo o ator negro David Harewood, mais conhecido pela série "Homeland". No ano passado, em uma entrevista ao jornal The Guardian, ele afirmou que os atores deveriam ter a liberdade de interpretar qualquer papel, independentemente de sua identidade — e isso incluía até o personagem Otelo, de Shakespeare, historicamente vivido por brancos usando maquiagem.

De imediato, o patrulhamento político correto o acusou de endossar o "blackface". Importante frisar: um ano antes, Harewood havia conduzido um programa sobre o tópico na televisão britânica.

"Meu próprio documentário pode ser encontrado no site da BBC. O blackface é uma distorção grotesca de raça e deve ser sempre condenado", afirmou.

Fonte: Agora Notícias Brasil

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