BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A PGR (Procuradoria-Geral da República) quer cópia dos relatórios de inteligência relacionados às ameaças dos ataques golpistas promovidos em Brasília por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no dia 8 de janeiro.
O material foi enviado à CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência) do Congresso Nacional no dia 20 daquele mês e está sob sigilo.
O pedido de acesso é assinado pelo coordenador do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos da PGR, Carlos Frederico, e foi encaminhado nesta terça-feira (2) ao relator do caso no STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Alexandre de Moraes.
Ao justificar a necessidade de obter os papeis, o representante da PGR destacou se tratar de "documentos que interessam à elucidação dos fatos em apuração".
Documentos obtidos pela Folha de S.Paulo mostram que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) enviou com pelo menos 48 horas de antecedência alertas ao então ministro Gonçalves Dias, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, e ao Ministério da Justiça, já sob o comando de Flávio Dino (PSB), sobre a possibilidade de ações violentas e invasão a prédios públicos.
Frederico pediu ainda que Moraes requisite à Abin o envio de cópias de todos os relatórios de inteligência, relatórios informativos e registros de informação, produzidos entre 1º e 8 de janeiro, e que tenham relação com os atos praticados contra as sedes dos Poderes.
Além do GSI, outros 13 órgãos receberam os comunicados, incluindo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, aponta o material que está em posse do Congresso.
O relatório é um compilado de mensagens distribuídas pelo WhatsApp --em grupos ou individualmente-- entre 2 e 8 de janeiro.
No Ministério da Justiça, de acordo com os documentos da Abin, quem recebeu informes ao menos desde o dia 2 de janeiro foi a Diretoria de Inteligência. A partir do dia 6, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal também começaram a ser atualizadas, daí já com menção à possibilidade de violência nos atos.
No caso do GSI, a Abin aponta que o próprio Gonçalves Dias recebeu em seu celular ao menos três alertas desde o dia 6.
A existência de alertas da Abin na véspera dos ataques foi revelada pela Folha de S.Paulo em 9 de janeiro. Os documentos obtidos agora mostram os destinatários, horários e a íntegra das informações repassadas pela agência de inteligência.
Procurados, o GSI e a Justiça negaram ter recebido os comunicados. Após a publicação da reportagem, a defesa de Gonçalves Dias --o ministro pediu demissão no último dia 19-- disse que ele não foi alertado por nenhuma agência ou órgão oficial sobre os ataques de 8 de janeiro.
"A defesa do general Gonçalves Dias afirma que ele não foi alertado por nenhuma agência ou órgão oficial antes dos atos de 08/01. Ao contrário do divulgado, o General promoveu todos os esforços que estavam a seu alcance para que nada de mais grave ocorresse, conforme será provado ao cabo de todas as investigações em curso", afirmou o advogado André Callegari.
O documento da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que mostra o envio de alertas para órgãos do governo federal e do DF sobre as possíveis invasões contradiz a versão do ex-ministro.
Segundo o relatório obtido pela Folha de S.Paulo, GDias --como o ex-ministro é conhecido-- teria recebido 11 informes em seu próprio WhatsApp do dia 6 de janeiro até o início dos ataques, por volta das 15h do dia 8.
Do total, três mensagens teriam sido encaminhadas exclusivamente para o ex-ministro, sem repasse para os órgãos que compõem o Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência).