O jornalista Maurício Kubrusly, diagnosticado com demĂȘncia frontotemporal, chegou a cogitar eutanĂĄsia quando a doença começou a se agravar. A ciĂȘncia ainda não oferece uma cura ou reversão em casos como o dele, mas muitas pesquisas começam a mostrar que o uso medicinal da cannabis é uma opção promissora no tratamento de diversos sintomas associados à demĂȘncia. A planta, que possui mais de 100 compostos canabinoides diferentes, tem demonstrado potencial significativo no manejo de sintomas comportamentais e físicos que afetam pacientes com diferentes formas de demĂȘncia.
Estudos recentes tĂȘm evidenciado que os canabinoides podem auxiliar na redução da agitação e da agressividade, sintomas comuns que causam grande sofrimento tanto para pacientes quanto para cuidadores. O canabidiol (CBD), em particular, tem se destacado por suas propriedades ansiolíticas e anti-inflamatórias, contribuindo para a melhora do humor e a diminuição da ansiedade, sem os efeitos psicoativos tradicionalmente associados à planta.
No controle de sintomas físicos, a cannabis tem mostrado resultados promissores no alívio da dor crônica, frequentemente presente em pacientes idosos com demĂȘncia. Além disso, seus compostos podem auxiliar na regulação do sono e no estímulo do apetite, aspectos fundamentais para a qualidade de vida desses pacientes.
O uso da cannabis no contexto da demĂȘncia requer cautela e acompanhamento médico especializado, assim como qualquer outro tratamento. Os efeitos podem variar significativamente entre indivíduos, e existem riscos a serem considerados, como possíveis interações medicamentosas e efeitos colaterais, incluindo sonolĂȘncia e alterações na pressão arterial. A dosagem adequada ainda é objeto de estudo, e a resposta individual ao tratamento pode ser bastante variĂĄvel. O tratamento deve ser individualizado, assim como a busca pela dosagem terapĂȘutica.
A regulamentação do uso medicinal da cannabis tem avançado em diversos países, estabelecendo frameworks importantes para sua prescrição e uso seguro. No entanto, é essencial que o tratamento seja conduzido por médicos capacitados, com experiĂȘncia no manejo desses medicamentos e conhecimento aprofundado das particularidades de cada paciente.
Estudos clínicos em andamento continuam investigando os mecanismos de ação dos canabinoides no cérebro e seu potencial neuroprotetor. Algumas pesquisas sugerem que, além do controle sintomĂĄtico, certos compostos da cannabis podem ter efeitos benéficos na progressão da doença, embora mais evidĂȘncias sejam necessĂĄrias para confirmar essas observações.
O sucesso do tratamento com cannabis medicinal em pacientes com demĂȘncia depende de uma abordagem individualizada, considerando o perfil específico de sintomas, outras doenças (comorbidades) e medicações em uso. O monitoramento regular e os ajustes de dosagem são fundamentais para otimizar os benefícios e minimizar possíveis riscos.
À medida que mais evidĂȘncias científicas surgem e a regulamentação se aprimora, a cannabis medicinal se estabelece como uma opção terapĂȘutica complementar promissora no manejo dos sintomas da demĂȘncia. Para que isso aconteça, é crucial manter uma abordagem baseada em evidĂȘncias, com foco na segurança e na eficĂĄcia do tratamento, sempre sob orientação médica especializada.
*Ionata Smikadi é médica especialista em Cannabis Membro da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudo da Cannabis Sativa) – CRM SP 123320-3
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/