Votação para abertura de duas vagas para professor doutor no departamento gerou discórdia entre os professores da USP
Quase acabou em pancadaria uma reunião entre professores de Direito Civil da Universidade de São Paulo (USP). A escalada de tensão foi evitada graças à intervenção de dois ou três professores, que conseguiram impedir o chefe do departamento, Eduardo Cesar Silveira Vitta Marchi, de confrontar fisicamente um de seus colegas, José Fernando Simão.
O caso está sob análise da Justiça e da Polícia Civil de São Paulo. Simão pediu a abertura de um inquérito devido a ameaças e processou Marchi por danos morais, afirmando que foi vítima de insultos e ameaças.
No tribunal, Simão obteve uma medida protetiva. No dia 6 de outubro, o juiz Felipe Poyares Miranda, da 16ª Vara Cível, ordenou que Marchi "mantivesse a urbanidade e se abstivesse de qualquer comportamento que pudesse ofender a integridade física ou psicológica da parte autora [Simão]", sob o risco de uma multa de R$ 10 mil por cada violação.
A confusão ocorreu em junho, e o portal UOL teve acesso aos registros e às gravações da reunião.
A briga entre os professores de Direito da USP
O conflito entre os docentes da USP teve início quando Simão instigou Marchi a colocar em pauta a criação de dois cargos para professor doutor no departamento. Tal persistência desagradou o líder do departamento que exclamou: "Você pode ficar quieto? Senão vou pedir para você se retirar".
Simão respondeu: "Ninguém mais se manifesta. Só você está falando. Vai continuar assim?"
Marchi respondeu: "Vou continuar, sim".
As insatisfações em relação a Marchi não eram novidade, especialmente devido ao fato de ele ter criado e encerrado uma posição para professor titular sem buscar a opinião do colegiado.
Marchi, não disposto a perder a discussão, anunciou que retiraria o assunto de pauta e o levaria à reitoria. Simão, contudo, insistiu: "Não, o conselho é soberano, vamos votar".
A insistência de Simão despertou a fúria de Marchi: "Vou abrir uma sindicância para investigar seus afastamentos para Portugal nos últimos dois anos! Nunca pediu afastamento! Isso é comportamento de um docente sério?"
Ao ver o colega perder a compostura, a professora Giselda Hironaka exclamou: "Ai, meu Deus!". Em um depoimento posterior, ela relatou que todos ficaram "atônitos" diante do descontrole de Marchi.
Docentes tentam apaziguar
Outras pessoas presentes tentaram acalmar a situação, no entanto, o professor Eneas de Oliveira Matos também foi desafiado por Marchi: "Vá devagar, porque você também tem telhado de vidro. Não me force a tomar providências sobre você".
Marchi então se voltou novamente para Simão: "É a última vez que você fala desse jeito comigo! Não vou agir como o professor Alcides Tomazetti [falecido em 2021], que disse que iria te matar! Vi o Tomazetti, depois de uma reunião, colocando a mão no seu nariz e dizendo que ia te matar!" "Nunca mais", gritou Marchi, para logo depois ouvir pedidos de calma.
Ele mesmo pediu tranquilidade: "Espere aí, vou terminar isso. Quero conversar cara a cara com você, se for macho! Não precisa do Gavião para você vir Covarde! Nunca mais fale assim, senão você vai se dar mal comigo! E se eu te encontrar na rua, saia da minha frente!"
Simão questionou: "É para mim isso?"
"É, sim! Qual é o problema?", retrucou Marchi, exaltado. "É pra você mesmo, seu mal-educado! Ofensivo! Criminoso!"
O termo "Gavião" é uma referência ao desembargador José Luiz Gavião de Almeida do Tribunal de Justiça de São Paulo, que atua como vice-chefe do Departamento de Direito Civil. Ele forneceu um depoimento a pedido de Simão, tendo presenciado Marchi se exaltar. Gavião enfatizou que Simão foi retirado da sala, apesar de não ter reagido ou respondido aos insultos.
Depois dos gritos, dois professores da USP pediram calma. "Já chega, Eduardo!". Marchi, então, mudou de assunto e começou a relatar uma conversa que teve com a viúva de Tomazetti, sua vizinha.
Fonte: As informações são da Revista Oeste.