O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rompeu o
silêncio nesta sexta-feira (1°) e reagiu à série de provocações do regime do
ditador Nicolás Maduro, da Venezuela, ao presidente brasileiro e integrantes do
Palácio do Planalto e Itamaraty. Por meio de nota, o Brasil se disse surpreso
com o "tom ofensivo" contra o país e seus símbolos nacionais, adotado por
Maduro e seus aliados chavistas.
– O governo brasileiro constata com surpresa o tom ofensivo adotado por
manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus
símbolos nacionais. A opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em
substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma
respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo – disse
o Itamaraty.
A reação ocorre depois de forças de segurança da Venezuela publicarem
nas redes sociais uma montagem com a silhueta de Lula, com o rosto na penumbra,
e a bandeira do Brasil ao fundo. A imagem veio com um aviso: "Quem se mete com
a Venezuela se dá mal."
A relação entre Lula e Maduro vem se deteriorando desde que o brasileiro
voltou ao Planalto. Nos primeiros meses em Brasília, o petista tentou
reabilitar o chavista, tirando a Venezuela do isolamento internacional.
O Brasil chegou a mediar o Acordo de Barbados, entre chavismo e
oposição, assinado em outubro de 2023, que previa uma troca: a suspensão de
parte das sanções internacionais à Venezuela e eleições presidenciais
transparentes, com missões de observação da União Europeia, do Centro Carter e
da ONU.
CAUTELA
Apesar de a oposição venezuelana constantemente denunciar a ditadura por
não cumprir o que assinou, o Brasil adotou uma posição cautelosa – para muitos,
até demais. Lula evitou criticar Maduro e apostou que a eleição seria um
processo limpo, mesmo diante de evidências de que o chavismo vinha eliminando,
um por um, os principais candidatos da oposição.
Primeiro, foi a inabilitação de María Corina Machado. Depois, de sua
substituta, Corina Yoris. Sem contar a cassação dos direitos políticos de
outros líderes antichavistas, como Juan Guaidó, Leopoldo López e Henrique
Capriles.
Mesmo diante das fraudes na eleição presidencial de 28 de julho, que
segundo organismos internacionais como o Centro Carter foram vencidas pelo
ex-diplomata Edmundo Gonzalez, Lula foi comedido nas críticas, se restringindo
a pedir a divulgação das atas de votação.
Quando ficou claro que o chavismo não mostraria nada, e Maduro acabou
coroado pelo Conselho Nacional Eleitoral e pelo Tribunal Supremo de Justiça –
ambos dominados pelo chavismo – é que a relação degringolou de vez. O petista
passou a criticá-lo pela escalada autoritária, mas sem chamá-lo de ditador. O
distanciamento se aprofundou e o alto comando chavista passou a acusar o Brasil
de "agressão" e dizer que Lula e seu assessor especial, Celso Amorim, agiam com
agentes da CIA.
*AE