O presidente do MDB, Baleia Rossi, disse que o vídeo gravado pela primeira-dama, Janja, e por outras mulheres contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi "desnecessĂĄrio e desrespeitoso".
"Ali foi absolutamente fora de qualquer padrão ético", disse Rossi em entrevista à reportagem. Ele coordenou a campanha vitoriosa do prefeito.
Janja, Ana Estela Haddad e outras apoiadoras de Guilherme Boulos (PSOL) divulgaram o vídeo na véspera do segundo turno para relembrar o registro policial de violĂȘncia doméstica feito pela esposa de Nunes contra ele em 2011.
Rossi, 52, também criticou a atuação de Jair Bolsonaro (PL) e de bolsonaristas na eleição de São Paulo e disse que o MDB não tem compromisso com o PT para 2026. Apesar disso, ele não endossou a posição de Nunes, que em entrevista defendeu que o partido esteja no palanque oposto ao de Lula daqui a dois anos.
O presidente do MDB disse também que pretende atuar de forma mais alinhada com PSD e União Brasil.
O que o sr. achou da participação de Lula na campanha e do vídeo gravado por Janja e por outras apoiadoras do Boulos?
A participação do presidente Lula jĂĄ era absolutamente esperada, ele teve uma presença forte, a gente jĂĄ aguardava. Aquele vídeo que foi feito na véspera da eleição foi absolutamente desnecessĂĄrio e desrespeitoso. Em uma eleição vocĂȘ pode ganhar, perder, ter sucesso ou não, mas ali foi absolutamente fora de qualquer padrão ético.
Acabaram criando uma história que é inverídica. Quem leu o boletim de ocorrĂȘncia, estĂĄ absolutamente claro. Um momento que muitos casais passam, de dificuldades e uma discussão por mensagem e por telefone. Estão casados hĂĄ 27 anos, tĂȘm trĂȘs filhos, neto, tĂȘm uma vida muito estruturada. Ali, graças a Deus, a família se uniu, porque a gente sabe que quando vem com esse tipo de baixaria, com esse tipo de de ódio, a família sofre muito.
Nunes defendeu que o MDB esteja em 2026 no palanque de Bolsonaro ou de Tarcísio. O sr. concorda?
O MDB vai completar 60 anos no final desta legislatura e é um partido plural. É um partido que tem muitas lideranças importantes, entre elas o Ricardo Nunes. O MDB vai fazer essa discussão no segundo semestre do ano que vem. O partido nunca teve dono. Essa decisão vai ser tomada pelo conjunto de lideranças.
O Ricardo e o MDB de São Paulo, e aí eu me incluo também, somos muito gratos ao que o governador Tarcísio de Freitas fez na eleição. Naquele momento em que o Ricardo estava com uma certa dificuldade, nós estĂĄvamos oscilando na pesquisa [atrĂĄs numericamente de Pablo Marçal], quando muitos escorregam, vão para cĂĄ, vão para lĂĄ, dizem "não é comigo", o Tarcísio abraçou e foi um parceiro muito leal, firme.
O senhor elogiou a lealdade e a firmeza do Tarcísio, diferentemente de outros que se esconderam. É uma referĂȘncia a Bolsonaro?
O Bolsonaro teve uma participação na campanha do Ricardo dentro daquilo que ele estabeleceu. Ele esteve presente na nossa convenção, depois participou no primeiro turno em alguns eventos virtualmente. E depois teve uma presença no segundo turno. Poderia ser mais. Acho que no primeiro turno, com muitas emoções e muitas novidades, ele preferiu ter uma participação mais modesta.
Mas o titubeio que o sr. citou no caso de Marçal foi em relação a ele, não?
O presidente Bolsonaro é um líder que tem um domínio muito grande também das redes sociais. Pela primeira vez nós vimos alguém que dominou essa ĂĄrea [Marçal]. Se tirar o FĂĄbio Wajngarten [titular da Secom na gestão Bolsonaro], que esteve com o Ricardo do primeiro ao último momento, nós não tivemos nenhuma liderança da direita que no primeiro turno declarou apoio ao Ricardo Nunes. Pode ter tido uma ou duas. Mas em um universo de 100 lideranças importantes que eles tĂȘm, nós não tivemos apoio.
Acho que teve ou uma adesão à candidatura do Pablo Marçal jĂĄ no primeiro turno, isso é um fato, ou muitos deles não se posicionaram com medo de levar porrada na rede social.
A vitória de Nunes muda a correlação de forças dentro do MDB e do governo? O sr. acha que precisa de uma reforma ministerial?
Acho absolutamente desnecessĂĄria. Por parte do MDB não hĂĄ nenhuma reivindicação de mais espaço no governo federal. O MDB tem trĂȘs ministérios e não são trĂȘs ministérios quaisquer.
Não existe compromisso futuro com o presidente Lula?
Não existe um compromisso futuro com o PT. Essa discussão nós vamos fazer internamente no partido, no segundo semestre de 2025.
A atuação do Tarcísio em São Paulo o credencia para a disputa em 2026?
O Tarcísio tem me falado reiteradamente que o projeto dele é a candidatura à reeleição ao Governo de São Paulo, eu não vejo hoje disposição dele entrar numa disputa nacional. Claro que isso vai acontecer lĂĄ na frente, com uma anĂĄlise de como estarĂĄ o quadro político em 2026. Mas a preço de hoje eu diria que o governador Tarcísio é candidato à reeleição em São Paulo.
A luz do resultado eleitoral, hĂĄ quem defenda um bloco entre MDB e PSD e talvez o União Brasil. O sr. vĂȘ isso com bons olhos?
Vejo. Tanto o MDB como o PSD saíram fortalecidos da eleição. O União Brasil também. São os trĂȘs partidos que tĂȘm mais características ao centro. Eu acho que é uma maneira de a gente fortalecer o que a gente representa.
Pode-se esperar no Congresso uma atuação mais conjunta de MDB, PSD e União Brasil, mais inclinados ao governo, e Republicanos e PP mais à oposição?
O Republicanos e o PP tĂȘm ministros também. Aí tem um pouco uma diferenciação de direção partidĂĄria e bancadas federais. Acho que vocĂȘ tem a presença do PP no governo, do Republicanos, tem a presença forte, com trĂȘs ministérios, do União Brasil, do PSD e do próprio MDB. Eu acho que essa posição colaborativa, propositiva, de torcer para que o país vĂĄ bem, é uma realidade.
Agora, a questão partidĂĄria, aí cada um tem o seu posicionamento. A gente tem conversado muito, eu e o [Gilberto] Kassab [presidente do PSD], e acho que com o [Antonio] Rueda [presidente do União Brasil] a gente pode conversar mais para que possamos também influenciar numa agenda que dĂȘ perspectiva de futuro para o país.
Muito provavelmente nesses próximos dias o MDB deverĂĄ reunir e a tendĂȘncia é que o MDB declare apoio ao candidato [à presidente da Câmara] Hugo Motta, do Republicanos [o apoio foi anunciado na quarta]. Aí a formação do bloco parlamentar efetivamente vai para a eleição do presidente da Câmara. Mas eu acho que é absolutamente factível que o MDB, o PSD e o União Brasil possam dialogar e fazer um trabalho juntos.
O sr. é a favor da anistia aos condenados pelo 8 de janeiro e a Bolsonaro?
Essa discussão não ocorreu ainda no MDB nem na bancada nem no partido. O que nós temos que entender é que o que ocorreu no dia 8 foi muito grave. Temos uma democracia para zelar. Foi uma coisa deplorĂĄvel. Agora, se falar em dosimetria da pena, aí é uma outra questão, mas isso ainda não foi discutido.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/