O segundo turno na cidade de São Paulo seguiu a lógica do país:
foi uma vitória do incumbente Ricardo Nunes (MDB), em um cenário no qual a
reeleição chegou a ficar na casa dos 80% (em 2020, ano pandêmico, ficou em
cerca de 60%). Guilherme Boulos (PSOL) teve, nesse segundo turno, votação muito
próxima daquela de 2020, mesmo tendo recursos em maior volume e o apoio do
presidente Lula (PT).
Os institutos de pesquisa foram
bastante precisos nos dois turnos: no primeiro, apontavam um empate triplo
entre Nunes, Boulos e Pablo Marçal (PRTB); no segundo, sempre colocaram uma boa
distância entre Nunes e Boulos. A diferença entre Nunes (59,35% dos votos
válidos) e Boulos (40,65%) foi dentro, por exemplo, da margem de erro do
Datafolha, que apontou, na véspera, Nunes com 57% e Boulos com 43%.
Nunes – assim como os demais
prefeitos reeleitos – contou com a força da máquina, com uma coligação forte,
vereadores nas ruas pedindo votos e apoio firme e presente do governador
Tarcísio de Freitas. O ex-presidente Jair Bolsonaro dirigiu a Nunes um apoio
reticente, protocolar, fraco mesmo. Bolsonaro – derrotado por Lula e inelegível
– saiu menor do que entrou nessa eleição e não apenas em São Paulo.
Se, no primeiro turno, Nunes
sentiu o impacto da candidatura de Marçal e correu risco de se ver alijado da
disputa final, agora, os votos de Marçal foram em massa para o prefeito
reeleito, que demorou para ser conhecido pelos paulistanos e, ainda, chegou à
Prefeitura com a morte de Bruno Covas, mas, como dito acima, o poder da máquina
e a cidade com obras são importantes elementos de comunicação de sua
candidatura.
No domingo de eleição, um fato
ocorrido desabona a presença de Tarcísio nesse pleito. O governador, sem
provas, asseverou que houve um "salve" do PCC (facção criminosa) pedindo votos
para Boulos. Tal fato mancha a trajetória de Tarciso e terá, por certo,
consequências jurídicas no âmbito eleitoral.
Boulos, por sua vez, tem sua
segunda derrota (a primeira, em 2020, foi para o tucano Bruno Covas). Diz-se
muito acerca da proximidade dos votos obtidos por Boulos, no segundo turno, em
2020 e em 2024, indicando um possível teto do psolista.
Marçal, no primeiro turno,
atacou todos os adversários, com agressividade conjugada às fake news. Boulos
tem sua imagem construída e comunicada por sua participação no movimento social
de luta pela moradia e, embora afirme ter orgulho de sua trajetória, há uma
percepção de que sua conduta está ligada à invasão de propriedades privadas,
ainda que Boulos aduza ser um imperativo moral ajudar os mais necessitados e
que promovia ocupações e não invasões de casas. Além disso, Marçal fez
insinuações de que Boulos era: 1) usuário de cocaína; 2) de que havia sido
preso por porte de drogas (desmentido rapidamente por tratar-se de um
homônimo); e 3) apresentou um laudo falso antes do primeiro turno afirmando que
Boulos havia sido internado por surto psicótico por uso de cocaína (já
demostrado ser falso o documento pelas autoridades policiais).
Com tudo isso de Marçal contra
Boulos, o psolista achou uma boa ideia participar de uma "entrevista" de
emprego com Marçal, até porque Nunes se recusou. Politicamente, Boulos fez um
movimento em busca do voto por mudança que estaria no eleitorado marçalista;
biograficamente, todavia, foi uma ação de legitimar a conduta de Marçal de
ataque à civilidade política e aos adversários. E, por fim, tal ação não trouxe
nada de votos e, pior, Boulos ganhou apenas em três distritos eleitorais em São
Paulo.
Nunes, vencedor, sai
fortalecido, junto com Tarcíso e Gilberto Kassab (PSD); Boulos, derrotado e
enfraquecido ao lado de Lula e do campo progressista.
*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente
a opinião do Mackenzie.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana
Mackenzie (UPM) foi eleita como a melhor instituição de educação privada do
Estado de São Paulo em 2023, de acordo com o Ranking Universitário Folha 2023
(RUF). Segundo o ranking QS Latin America & The Caribbean Ranking, o Guia
da Faculdade Quero Educação e Estadão, é também reconhecida entre as melhores
instituições de ensino da América do Sul. Com mais de 70 anos, a UPM possui
três campi no estado de São Paulo, em
Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pela UPM contemplam
Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Extensão, EaD, Cursos In
Company e Centro de Línguas Estrangeiras.