JOSÉ MATHEUS SANTOS
RECIFE, PE (FOLHAPRESS)
Dez anos depois, a família do
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (1965-2014) concilia cicatrizes e
lembranças dele com questionamentos sobre a causa da morte, ocorrida em um
acidente aéreo em 13 de agosto de 2014 em Santos, no litoral paulista.
Os filhos e a viúva, Renata
Campos, atuam mais na esfera da preservação do legado político e afetivo. Irmão
do ex-governador, o advogado Antônio Campos também costuma falar sobre as características
de Eduardo, mas vai além e tem, ano a ano, questionado as causas da queda fatal
da aeronave.
Antônio Campos e a mãe do
ex-governador, a ex-ministra do Tribunal de Contas da União Ana Arraes, movem
uma ação que pede uma nova produção de provas sobre o acidente na Justiça
Federal em Santos.
Um inquérito realizado pela
Polícia Federal apontou quatro possíveis causas para o acidente, segundo a
família divulgou após encontro com investigadores em agosto de 2018. Em 2019, o
Ministério Público Federal arquivou o caso sem especificar a causa exata.
"O relatório do Cenipa é
imprestável tecnicamente e o relatório da PF é inconcluso", afirma Antônio
Campos, que acredita em um acidente provocado por pessoas.
"Trabalho com a tese de
homicídio, o tempo vai se encarregar de mostrar. Uma morte de um candidato à
Presidência tem componentes políticos, mas não vou acusar ninguém", acrescenta
Antônio, que diz acreditar correr risco de morte por insistir na necessidade de
novas apurações.
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Eduardo, à época, era candidato a
presidente pelo PSB e viajava para uma agenda de campanha no litoral paulista.
Antônio Campos hoje é candidato a
prefeito de Olinda pelo PRTB. Ele não tem relações com a viúva do irmão. Na
política, tem algumas posições políticas diferentes dos Campos. Em 2022, por
exemplo, votou no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Mãe de Eduardo Campos, Ana Arraes
evita falar da morte do filho publicamente. Segundo Antônio Campos, ela segue
abalada, mas está bem de saúde aos 77 anos. A ex-ministra do Tribunal de Contas
da União deixou a vida pública em julho de 2022, quando se aposentou do TCU.
Foi na corte que Ana Arraes
recebeu a notícia da morte do ex-governador. Um dos que testemunharam o momento
foi o também então ministro do TCU e atualmente ministro da Defesa, José Múcio
Monteiro, também pernambucano.
"Recebi um telefonema de Lula,
que era ex-presidente, dizendo que soube que o avião que tinha caído era o que
estava Eduardo Campos. Fui depois ao encontro dela, que estava bastante
abalada. Foi o pior momento meu durante o período no TCU e um dos piores da
minha vida", conta José Múcio, que perdeu o pai há décadas em um acidente
aéreo.
No momento em que soube da
notícia, a pressão arterial de Ana Arraes disparou e ficou na casa dos 24 por
12. Um aparato médico foi montado no TCU para o momento em que ela soube do
acidente do filho, a fim de evitar problemas de saúde maiores.
A última aparição pública de
Eduardo Campos foi a entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na noite
anterior ao acidente. A pessoas próximas o ex-governador disse que queria usar
o telejornal para ampliar seu grau de conhecimento perante o eleitorado. A
esposa Renata acompanhou Eduardo na sede da emissora, no Rio de Janeiro.
"Ele entendia que era um divisor
de águas e estava muito animado. Dizia que era mais fácil trazer mais perto quem
o conhecesse", diz o atual prefeito do Recife, João Campos (PSB), que levou
três amigos na época para assistir à entrevista do pai na sua casa. Entre os
presentes estava o atual candidato a vice-prefeito na chapa de João em 2024,
Victor Marques (PC do B).
Após a entrevista, Eduardo ligou
para familiares que estavam no Recife para comentar a entrevista e disse que se
esqueceu de falar sobre uma proposta que tinha em mente. "Ele queria falar
sobre a 13ª parcela do Bolsa Família e não lembrou. Ele se cobrava muito", diz
o deputado federal Pedro Campos (PSB-PE).
Principal herdeiro político da
família, João Campos, hoje com 30 anos, não falou com o pai na ocasião. "Meu
telefone tocou na hora, atendi e fiquei falando. Disse que, no outro dia,
falaria com ele."
Um dos últimos contatos de João
com o ex-governador foi no Dia dos Pais, em 10 de agosto, que, naquele ano,
coincidiu com o aniversário de 49 anos de Eduardo. O Dia dos Pais foi o último
momento em que Eduardo, a esposa e os filhos estiveram juntos.
No dia 13, João Campos soube da
morte pela imprensa. "Abri um site de notícias, vi a foto do avião quase todo
destruído e a cauda preservada. Ali, disse que não tinha jeito."
Já Pedro Campos soube do acidente
ao ser acordado pelo irmão José, que cursa medicina atualmente e estava
preocupado após ver uma notícia de que um avião tinha caído em São Paulo.
Depois, foi confirmado que era a aeronave com Eduardo. Já Renata Campos estava
voltando do Rio de Janeiro, em avião comercial, com Miguel, filho mais novo que
nasceu em janeiro daquele ano.
A rotina de Eduardo Campos se
dividia entre as atividades políticas e familiares. Segundo o prefeito do
Recife, algumas reuniões políticas do ex-governador aconteciam na própria
residência. "Muitas vezes ele levava alguém para discutir sobre o partido ou
sobre uma cidade para o terraço da nossa casa. A gente cresceu vendo isso",
disse.
Para João Campos, a vitória do
pai nas eleições de 2006 para o governo é um dos momentos mais marcantes na
memória. A festa da vitória, no Marco Zero do Recife, reuniu aliados políticos
e a família do ex-governador, um ano depois da morte do avô Miguel Arraes.
Eduardo começou a disputa em
terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto e avançou ao segundo turno com
uma arrancada na reta final. Na segunda etapa, venceu o então governador
Mendonça Filho, à época do PFL.
"Lembro da emoção e também
vestido, logo depois, com pressa. Ele tinha muita pressa. É como se, no
subconsciente, ele soubesse que iria viver pouco", diz João Campos.
A viúva de Eduardo, economista
como ele, não gosta de dar entrevistas. Ela costuma ir a convenções eleitorais
do PSB, como foi o caso do evento que confirmou João Campos como candidato à
reeleição no Recife em 4 de agosto, e eventos em homenagem ao marido.
No campo pessoal, Eduardo era
exigente quanto à educação dos filhos. "Sempre cobrou muito que a gente se
formasse e fazia questão de ir a eventos na escola e de olhar os boletins de
notas", diz Pedro, hoje com 28 anos .
Eduardo Campos morreu no dia 13
de agosto, mesma data da morte, em 2005, do ex-governador Miguel Arraes. Os
dois são as principais lideranças históricas do PSB de Pernambuco até a
atualidade.
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