Ex-Ministro da Economia de Bolsonaro afirma que gestão anterior criou
"teto retrátil" devido à Covid
Nesta quinta-feira (25), em uma rara instância de crítica pública à
administração atual, Paulo Guedes, ex-ministro da Economia de Jair Bolsonaro,
declarou que o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva "chutou o balde"
ao acabar com o teto de gastos.
No evento da Avenue com investidores em São Paulo, Guedes optou por não
fazer alusões diretas ao governo atual. No entanto, ele fez várias críticas aos
métodos implementados durante o governo Lula, estabelecendo a diferença entre a
social-democracia e a liberal-democracia – uma posição defendida pelo
economista.
Ao revisar as políticas fiscais na história recente, Guedes afirmou que
os tucanos, aludindo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e sua
equipe, estabeleceram a regra do superávit primário. No entanto, ele argumenta
que essa regra não foi eficaz, pois trata-se de uma medida de longo prazo que
não é adequada para períodos de crise.
O antigo ministro se referiu ao teto de Gastos implementado pelo antigo
presidente Michel Temer (MDB). De acordo com Guedes, a política beneficiou o
Brasil "um pouco", mas também se mostrou insuficiente para momentos que exigiam
um aumento nos gastos, como ocorreu durante a pandemia de Covid.
"Como você vai respeitar o teto se você é obrigado a combater uma
doença?", questionou. "Então, a gente criou um "teto retrátil". Abre o teto,
bota a cabeça de fora; acabou a tempestade, bota a cabeça para dentro e baixa o
teto de novo. Foi o que nós fizemos. O déficit foi lá em cima e voltou de
novo", justificou o ex-ministro sobre os furos ao teto da gestão Bolsonaro.
Quando abordou o tema, Guedes afirmou que a atual administração seguiu
um caminho oposto. "Assim que o governo chegou, tirou o teto, tirou tudo, e
falou: "vou chutar o balde, vou fazer o que eu quiser. Aí foi para o outro
extremo", disse.
O antigo ministro enfatizou que, apesar de não estar criticando o
governo atual, estava apenas sendo teórico e "socrático". Em seguida, ele se
desculpou com o público por não poder ser mais explícito em sua análise,
explicando que, ao longo do tempo, aprendeu a necessidade de ser mais cauteloso
com as palavras.
"Quando eu era um economista jovem, eu podia falar abertamente, rasgado.
Hoje eu tenho responsabilidade, passei por lá, vi as coisas, vi as
dificuldades. Vi injustiças, ainda vejo injustiças. Agora, muita gente boa
ajudando a fazer a coisa certa. E como em qualquer lugar do mundo, tem sempre
aquela gente disposta a colocar fogo no parquinho", disse.
Guedes interrogou a plateia com perguntas sobre se o governo atual
estava cortando ou aumentando despesas e qual o impacto disso nos juros.
Ignorando o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), o economista
também mencionou o aumento da arrecadação como uma forma de equilibrar as
finanças públicas.
"Na hora que o excesso de gasto começa a pressionar aumento de impostos,
aí fica todo mundo irritado, aí vem endividamento em bola de neve, juro alto,
fica todo mundo irritado de novo. Vai ter uma hora que vão falar: "espera aí,
se você é um social-democrata e quer gastar mais, aumenta os impostos e explica
por que está aumentando os impostos"", afirmou.
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