O delegado da Polícia Federal (PF) José Fernando Moraes Chuy – ligado ao
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes – é, até o
momento, o nome mais forte para ocupar o cargo de corregedor-geral da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin). Se confirmada a nomeação, Chuy coordenará o
departamento responsável pela apuração de infrações administrativas cometidas
por servidores da Abin. A escolha desagrada à entidade que representa a
categoria.
"Consideramos preocupante, injustificada e um desprestígio dos
servidores orgânicos da Abin a possível indicação de um corregedor-geral do
órgão oriundo de fora dos quadros da agência", declarou, em nota, a Intelis
(União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin).
Chuy exerceu, a convite de Alexandre de Moraes, a chefia da Assessoria
Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O delegado da PF ocupou o cargo de maio de 2023 até junho de 2024, quando
Moraes deixou a presidência do TSE. O nome do delegado, embora ainda não
confirmado oficialmente, circula entre servidores da Abin. A Intelis trabalha
para evitar que a nomeação de Chuy seja efetivada.
A Intelis lembrou que as investigações sobre a suposta "Abin Paralela"
começaram a partir da apuração interna da corregedoria, então chefiada por uma
"oficial de inteligência", ou seja, uma servidora do próprio órgão. "Temos
certeza que a instituição possui excelentes quadros para ocupar a função e por
isso consideramos irrazoável e nos preocupa as consequências de uma indicação
como essa em uma instituição republicana", acrescentou a Intelis.
Interferência na Abin
O atual diretor-geral da Abin é o delegado da PF Luiz Fernando Corrêa. O chefe
de gabinete dele, também delegado, é Luiz Carlos Nóbrega Nelson,
ex-superintendente da PF no Rio Grande do Norte. A chegada de outro policial
federal em um cargo vital da Abin é vista pela Intelis como mais uma janela que
se abre para interferências externas.
Lula e Bolsonaro optaram por nomes
externos
Quem indica o diretor-geral da Abin é o presidente da República. Os demais
cargos da Abin são escolhas do diretor-geral. O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, por exemplo, nomeou Corrêa como diretor-geral. Corrêa, por sua vez,
escolheu Nelson como chefe de gabinete.
Lula, portanto, manteve a lógica adotada por Jair Bolsonaro, que,
enquanto presidente, também indicou um delegado da PF para a direção-geral da
Abin. Na época, o escolhido de Bolsonaro foi Alexandre Ramagem, hoje
investigado pela Polícia Federal como um dos responsáveis pela chamada Abin
Paralela, suposta estrutura montada dentro e fora da Agência Brasileira de
Inteligência para espionar desafetos da família Bolsonaro.
A conexão com Bolsonaro rendeu a conquista do mandato de deputado
federal pelo PL, mesmo partido do ex-presidente. Nesta segunda-feira (22), o PL
oficializou Ramagem como candidato à prefeitura do Rio de Janeiro (RJ). O
ex-diretor da Abin conta com o apoio oficial da família Bolsonaro nas eleições
municipais.
"Parasitas" na Abin
Na nota sobre o cargo de corregedor, a Intelis menciona a "Abin Paralela".
"Devemos lembrar que a atual investigação sobre o uso indevido do software
First Mile pela estrutura que parasitou a ABIN foi iniciada pela própria
corregedoria interna, então liderada por uma Oficial de Inteligência", diz a
Intelis.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/