O presidente Lula (PT) disse neste
sábado (20) que "homem que é homem" e que "tem fé em Deus" não bate em mulher,
depois de sofrer críticas por uma piada envolvendo a violência contra a mulher
durante cerimônia nesta semana. Ele fez a declaração no lançamento do candidato
do PT à Prefeitura de São Bernardo do Campo, ao lado do vice-presidente Geraldo
Alckmin (PSB).
"Um homem que é homem, um homem que tem
fé em Deus, um homem que é fraterno, não pode nunca levantar a mão para agredir
uma mulher, não pode", afirmou o petista, após dizer que para ele "família é
sagrada" e que aprendeu com a mãe, dona Lindu, a jamais levantar a mão contra
uma mulher.
Na terça-feira (16), em Brasília, Lula
disse condenar violência doméstica, mas, "se o cara for corintiano, tudo bem".
A afirmação foi dada em meio a um comentário sobre o aumento de casos em dias
de jogos. Depois da repercussão negativa, o governo emitiu nota para dizer que
o presidente não endossa agressões.
Ao voltar ao tema, neste sábado, o
petista disse que "tem aumentado muito a violência" contra a mulher e que "é
preciso que as famílias vivam bem".
"E
esse é um apelo que eu faço aos homens aqui: ao invés de levantar a mão para
bater numa mulher, bata na sua própria cara", afirmou Lula, que em diferentes
momentos da fala reiterou ser "um presidente que tem fé em Deus" e quer ser
mais do que um governante, mas "um cuidador".
Lula participou da convenção que
formalizou a candidatura de Luiz Fernando (PT) a prefeito, com William Dib
(PSB) de vice. O petista é deputado estadual e irmão do ministro Paulo Teixeira
(Desenvolvimento Agrário), e o pessebista foi prefeito de São Bernardo e
dirigiu a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Foi a estreia de Lula e Alckmin em
palanques eleitorais no pleito deste ano. Os dois estão em lados opostos em
outras cidades, como a capital paulista, onde o presidente participa na tarde
deste sábado da convenção de Guilherme Boulos (PSOL) e o vice apoia sua colega
de partido Tabata Amaral.
Em entrevista à Folha em maio, Alckmin
usou o exemplo de cidades onde PT e PSB estão coligados para negar
constrangimento com a rivalidade na eleição paulistana. O vice diz que abraçar
projetos diferentes nas eleições locais é algo natural e que eventuais
divergências não afetam a relação entre os dois.
Os ministros Luiz Marinho (Trabalho),
do PT e ex-prefeito da cidade, e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), do PC
do B, e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, também participaram da
convenção.
Lula pediu aos eleitores que tenham
"noção de responsabilidade" ao votar e disse que, se Luiz Fernando for eleito,
atuará em benefício de São Bernardo da mesma forma que quando Luiz Marinho era
prefeito e o PT estava na Presidência, para levar investimentos e programas
federais e melhorar a qualidade de vida na cidade.
Ele disse que do lado de Luiz Fernando
estão "a maior experiência administrativa de São Paulo e a maior do Brasil",
após discursar sobre a longeva permanência de Alckmin no cargo de governador do
estado e o fato de ele próprio ter sido o único presidente eleito três vezes.
No início da fala, quando cumprimentou
políticos e autoridades, Lula citou a presença de José Maria Eymael,
ex-candidato à Presidência e dirigente do Democracia Cristã –um dos partidos da
coligação municipal–, e cantou o refrão do jingle que usa em suas campanhas,
com os versos "ei, ei, Eymael, um democrata cristão".
"É uma música que eu não esqueço",
disse Lula sobre o outrora adversário. O presidente também descontraiu ao
chamar Alckmin pelo apelido de Chuchu. Contou que, quando decidiu concorrer a
presidente em 2022, procurou o hoje vice e propôs que "o Lula com Chuchu
precisa governar esse país".
Ao discursar, Alckmin exaltou Lula,
repetindo a mensagem de que ele "salvou a democracia no Brasil", e alfinetou
Bolsonaro ao lembrar as mortes na pandemia de Covid, "fruto do negacionismo, da
irresponsabilidade daquele governo anterior, negacionista, [que] negou vacina".
O vice afirmou que a vitória de Luiz
Fernando e Dib impulsionará o crescimento do município e, junto com o governo
federal, vai melhorar a vida da população. "Estamos juntos para servir a São
Bernardo do Campo", disse.
A aliança em São Bernardo foi anunciada
no evento como repetição da "dobradinha que está dando certo no governo
federal", em alusão à parceria entre Lula e Alckmin. A coligação no município
reúne nove partidos, a maioria ligada à base do presidente.
Gleisi disse ao microfone que a eleição
municipal deste ano será diferente porque, além das questões locais, está em
jogo o enfrentamento entre o campo democrático e a extrema direita representada
pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ela conclamou o público a votar de
forma que em outubro "o campo democrático progressista popular que venceu a
extrema direita em 2022" seja vitorioso novamente. "Temos um dever histórico:
não deixar a extrema direita voltar a governar este país", afirmou.
São Bernardo, cidade onde Lula começou
a militância política como sindicalista, nos anos 1970, é o berço do PT e, por
isso, a vitória no município, hoje comandado pelo PSDB, é considerada simbólica
pelos petistas.
Lula colocou como ponto de honra
reconquistar a administração da cidade, determinou que o partido considere a
disputa estratégica e deve ter uma presença mais intensa ao longo da campanha.
Os principais adversários são Flávia Morando (União Brasil), apoiada pelo
prefeito Orlando Morando (PSDB), e os deputados federais Marcelo Lima (Podemos)
e Alex Manente (Cidadania).
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