A pauta anti-MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra) começa a chegar
ao Senado Federal após avançar com rapidez durante o primeiro semestre na
Câmara dos Deputados.
Alvo de críticas de uma ala minoritária da bancada ruralista, ela deve
entrar em novo ritmo de tramitação e também é vista como importante no debate
sobre a liderança do grupo.
Senadores da bancada avaliam que a agenda agora deve ter mais
dificuldade para caminhar. Afirmam que o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), deve manter o rito de tramitação passando por diversas comissões
—enquanto seu par na Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acelerou o andamento de
alguns dos textos.
Do pacote anti-MST da bancada ruralista, três dos quase 20 projetos
estão no Senado. Dois deles já passaram pela Câmara.
Em linhas gerais, o conjunto traz propostas para aumentar a pena e até
criminalizar movimentos como o MST, além de dificultar sua atuação no campo, e
ampliar os mecanismos de defesa do proprietário rural.
Por exemplo, os projetos tipificam a invasão de terra como terrorismo,
aumentam a pena para este tipo de crime, impedem que quem o cometa participe de
programas sociais, receba benefícios ou seja contemplado com cargos públicos.
Também permitem ao fazendeiro acionar a polícia para atuar sem
necessidade de ação judicial e criam a delegacia de conflitos possessórios.
Deputados e senadores afirmam que existe uma ala da FPA (Frente
Parlamentar da Agropecuária) descontente com o fato de que essa pauta,
considerada por alguns como ideológica, ganhou tanto protagonismo. E opinam que
o grupo deveria atuar de forma mais propositiva, com projetos voltados ao setor
produtivo.
O próprio Pacheco já disse a líderes e presidentes de comissões que
gostaria de ver mais projetos propositivos chegando ao plenário, embora não
tenha comentado especificamente do agronegócio e MST.
Já um outro grupo dentro da bancada vê a agenda anti-invasões como
importante principalmente em um período eleitoral, já que tem aderência na
sociedade —e afirmam, inclusive, que pode ajudar o atual presidente da frente,
Pedro Lupion (PP-PR), a se manter no cargo nas eleições da bancada, marcadas
para fevereiro de 2025.
Lupion afirma que o ano eleitoral não tem tanta influência no andamento
deste pacote, por ser um pleito municipal —e que seria diferente caso fosse uma
corrida de nível nacional.
"No Senado temos uma bancada menor do que na Câmara, de tamanho e
influência, mas com senadores combativos e com capacidade de articulação. A
dificuldade é fazer a agenda chegar na pauta, no plenário", afirma.
O senador Alan Rick (União Brasil-AC) já vem mobilizando Comissão de
Agricultura, que ele preside, para tentar fazer as matérias avançarem.
· Justiça do Rio Grande do Sul nega pedido de liberdade de Nego Di
· EUA: jovem armado com fuzil é preso perto de convenção republicana
Nas últimas semanas, por exemplo, realizou audiência pública com
representantes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e
integrantes do agro e pautou temas relacionados à regularização fundiária,
como, por exemplo, um projeto que permite que esses processos sejam feitos pelo
Judiciário.
Outra matéria pautada acaba com o projeto Terra da Gente, do governo
Lula (PT) —que define as terras disponíveis no País para assentar famílias.
Também tem sido frequente a presença de membros do Instituto Pensar Agro —que
dá subsídio técnico à FPA— na comissão.
"Nós aprovamos com rapidez, por exemplo, o marco temporal. Até senadores
da base do governo votam nas pautas do agro, então creio que essas pautas vão
andar com rapidez, a Frente Parlamentar da Agropecuária tem trabalhado para
isso. Pretendo conversar com o presidente Pacheco em breve", afirma Rick.
Mas o avanço da pauta anti-MST não agrada a todos dentro da bancada.
Dois parlamentares influentes na frente afirmaram à Folha, sob reserva,
que uma ala, ainda que minoritária, entende que a agenda deveria priorizar
matérias propositivas e tratar de questões do setor produtivo e de modernização
do setor, com foco em eficiência e sustentabilidade.
Um congressista se queixa também de mudanças recentes no Pensar Agro, e
diz que o instituto tem perdido o caráter técnico e atuado de forma mais
política.
Eles reclamam que em 2024, por exemplo, os principais temas debatidos
pela FPA foram, além da agenda anti-MST, o leilão do arroz e outras questões
relativas ao governo federal. Por isso, veem nessa movimentação um cunho mais
ideológico que voltado ao agronegócio.
O presidente da bancada atribui isso, porém, ao fato de que as propostas
propositivas já foram aprovadas.
"O fato principal é que nós limpamos a pauta, literalmente. Nós vencemos
com praticamente todas as propostas propositivas", diz.
Ele ressalta ainda que alguns dos projetos desse tipo, como o do
licenciamento ambiental, estão no Senado.
"Mas a bancada está mais reativa porque o governo nos dá motivos para
isso, todos os dias. É leilão do arroz, é Plano Safra que fica aquém do
esperado, é o MST no palco de eventos, é a reforma tributária que vem com um
texto ao contrário do combinado", completa.
Outro parlamentar defensor dessa agenda afirma que é o próprio setor que
impulsiona os parlamentares nessa direção, e que os projetos trazem maior
segurança jurídica para o produtor rural.
"Acredito que pautas como essas, anti-invasão, têm mais capacidade de
unir parlamentares e a sociedade, mais capacidade mobilização e uniãoAs pautas
mais técnicas, ao contrário, exigem um trabalho maior de bastidor e nem sempre
de tanta expressão e visibilidade", afirma Zé Vitor (PL-MG).
Para se manter no cargo, Lupion precisa de apoio para alterar o estatuto
da FPA, que atualmente não permitiria sua reeleição. Por isso, parlamentares da
bancada afirmam que o avanço dessa agenda pode o ajudar.
"Temos excepcionais nomes para presidir a bancada, mas é algo que a
gente não começou a discutir ainda", diz Lupion.
O pacote anti-MST foi uma reação às ocupações do movimento, que ganhou força
no tradicional "abril vermelho", quando o grupo promove uma série de ações.
A bancada ruralista juntou uma série de projetos, alguns deles fruto do
trabalho da CPI do MST.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS PROJETOS DA PAUTA ANTI-MST
No Senado
· PL 709/2023: impede que quem for considerado invasor de terra ocupe um
cargo público. Aguarda designação de relator
· PL 2250/2021: Caracteriza a invasão de terras como terrorismo. Está na
Comissão de Defesa da Democracia
· PL 2869/2023: Aumenta penas para crimes relacionados a questões de terra
em áreas rurais. Está na CCJ
Na Câmara
· PL 149/2003: Classifica invasão como terrorismo e eleva penas. Está na
pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
· PL 1373/2023: Impede quem for considerado invasor de terra de ser
beneficiário em programas sociais, de reforma agrária e de ter acesso a linhas
de crédito. Está na Comissão de Agricultura
· PL 8262/2017: Permite atuação da polícia em ocupações de terra sem
necessidade de ordem judicial. Está na pauta da CCJ
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/