9 de julho de 2009. Uma data que ficou marcada na história de João Pessoa. Naquela noite, uma família inteira foi brutalmente assassinada em sua própria casa, localizada no bairro do Rangel. O crime, que ficou conhecido como a "Chacina do Rangel", resultou na morte de cinco pessoas, incluindo uma mulher grávida de gêmeos, e deixou marcas profundas. Atualmente, os sobreviventes da tragédia ainda vivem em João Pessoa e têm 31, 29 e 22 anos de idade
A residência do casal Moisés Soares Fortes Filho e Divanise Lima dos Santos foi invadida pelos vizinhos Carlos José dos Santos e Edileuza Oliveira. A motivação do crime foi um desentendimento entre as crianças das duas famílias, relacionado a uma galinha. Essa disputa aparentemente trivial escalou de forma inimaginável, culminando em uma das tragédias mais brutais da história recente de João Pessoa.
A Noite do Crime
Armado com um facão, Carlos José dos Santos iniciou o ataque contra Moisés. Ele desferiu golpes violentos, chegando a cortar a mão da vítima e jogá-la sobre um guarda-roupa, antes de degolá-lo. Em um ato de extrema violência, Edileuza Oliveira pegou o facão e atacou Divanise, que estava grávida de gêmeos, além de seus filhos Rayssa, de 2 anos, Ray, de 4 anos, e Raquel, de 10 anos.
Dois filhos do casal conseguiram sobreviver: um adolescente de 14 anos, que se escondeu debaixo da cama e presenciou toda a barbárie, e seu irmão de 7 anos, que foi gravemente ferido, mas conseguiu sobreviver. Divanise, ainda com vida após o ataque, conseguiu informar aos policiais que Edileuza havia matado as crianças e a atacado.
A Investigação e o Julgamento
Após a conclusão das investigações, Carlos José dos Santos e Edileuza Oliveira foram levados a julgamento nos dias 16 e 17 de setembro de 2010. Eles foram condenados a 116 e 120 anos de prisão, respectivamente. Devido à gravidade do crime, ambos foram sentenciados sem direito à progressão de regime e devem cumprir, no mínimo, 30 anos em regime fechado.
O advogado criminalista Abraão Beltrão explicou que, por se tratar de um crime hediondo, a progressão de pena só começa quando se atinge 40% da pena, cálculo que acontece sobre a pena total. Isso significa que, para Carlos José, a progressão só poderia começar após 46 anos de prisão, e para Edileuza, após 48 anos.
A Luta dos Sobreviventes
Os dois sobreviventes da chacina passaram por anos de acompanhamento psicológico para lidar com o trauma. A tia que os adotou relatou que os primeiros anos foram extremamente difíceis, mas a terapia ajudou a amenizar a dor e a saudade. O jovem que tinha 7 anos na época ainda carrega as marcas físicas dos golpes de facão e, ocasionalmente, chora ao lembrar da tragédia.
Durante quase quatro anos, os dois irmãos receberam acompanhamento psicológico em uma clínica escola de uma universidade local. A tia que os adotou contou que a terapia foi crucial para ajudá-los a enfrentar o trauma e a perda devastadora. "No começo foi muito difícil para eles. Aos poucos foram superando a tristeza. Só o mais velho que, às vezes, chora muito lembrando de tudo que ele viu", disse a tia emocionada.
A Vida Após a Tragédia
Nos primeiros cinco anos após o crime, os dois irmãos se dedicaram a uma rotina de esportes, estudos e trabalho, sob a orientação da tia que os acolheu. O mais novo, que hoje tem 22 anos, ainda leva no rosto as cicatrizes dos golpes de facão que recebeu. Apesar das marcas físicas e emocionais, os dois irmãos conseguiram reconstruir suas vidas, encontrando na educação e no trabalho uma forma de seguir em frente.
A tia, que se tornou mãe por escolha, relembra um dos momentos mais emocionantes que viveu após a tragédia. "No hospital, logo após o crime, o mais novo me perguntou se eu iria ser a mãe dele. Esse foi um momento marcante para mim. Ele me trata como mãe desde o primeiro dia e isso acontece até hoje", contou ela, com lágrimas nos olhos.
A casa onde tudo aconteceu foi demolida e, no lugar, foi iniciada a construção de uma espécie de memorial. Moradores da região até se ofereceram voluntariamente e trabalharam na construção, que ficou inacabada.
Atualização sobre os Condenados
De acordo com a Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça da Paraíba, Carlos José e Edileuza Oliveira participam de programas de remição de pena. Até agosto de 2023, Carlos José teve sua pena reduzida em 404 dias devido a atividades educativas e de trabalho na prisão, enquanto Edileuza teve uma redução de 161 dias por razões similares.
Em 2022, a Lei 13.964/2019, sancionada pelo então presidente Jair Bolsonaro, aumentou a pena máxima de prisão no Brasil de 30 para 40 anos. Isso significa que Carlos José e Edileuza podem cumprir suas penas até aproximadamente 2037 e 2039, respectivamente, embora essas datas possam variar conforme suas atividades na prisão.
Reflexão e Memória
Quinze anos depois, a Chacina do Rangel ainda ecoa na memória da comunidade do bairro e de João Pessoa como um todo. O crime não apenas tirou vidas, mas também deixou uma cicatriz profunda em seus sobreviventes e nos corações daqueles que perderam entes queridos. A luta por justiça e a difícil jornada de reconstrução de vida dos sobreviventes continuam a ser um testemunho da resiliência humana diante da tragédia.
Cronologia do caso
9 de julho de 2009
9 de julho de 2009 - Após o Crime
Investigação e Julgamento
Fonte: Portal T5