Em um debate marcado por momentos de silêncio e expressões confusas do presidente Joe Biden frente a Donald Trump, o Partido Democrata se verá novamente pressionado para decidir se mantém sua escolha como candidato ou se o substitui por outro nome. É o que avaliam especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de São Paulo ao fim do debate presidencial dos Estados Unidos realizado nesta quinta-feira (27).
– Esse debate era mais sobre forma do que sobre conteúdo. Esse era um debate de altíssimo risco para o Joe Biden, bastava ele provar que ele não era um velhinho. Ele falhou miseravelmente. Foi um terror – afirmou Carlos Gustavo Poggio, professor no Berea College do Kentucky.
– O que vai sobrar para os democratas é controle de danos. Para o eleitor indeciso fica a imagem de um presidente que tá fisicamente frágil que teria mais quatro anos pela frente. E provoca um debate sobre a vice-presidente, o foco volta para a Kamala Harris agora, que é muito mais impopular que o Joe Biden – completa Poggio.
Para o professor Oliver Stuenkel, do curso de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ficou "evidente que Biden teve uma performance muito ruim".
– Ele melhorou ligeiramente ao longo do debate, mas teve vários momentos de incoerência, de não conseguir terminar seu raciocínio, o que reforçará a sua principal vulnerabilidade, que é a sua idade, e certamente facilitará a estratégia dos americanos que projetam Biden como senil – disse.
– Quem acompanhou o debate pode concluir que Biden talvez não tenha a capacidade de governar por mais quatro anos. Isso certamente vai produzir, vai aumentar muito a pressão para que o Partido Democrata selecione outro candidato – concluiu Stuenkel.
Para o professor Vinicius Vieira, da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), não há dúvidas de "que esse debate vai suscitar e reforçar os argumentos de que seria necessário substituir o candidato democrata".
– Até no Twitter já havia ali manifestações em prol do governador da Califórnia [Gavin Newsom], que ao meu ver não tem projeção para tanto, mas isso já demonstra que deve ser a tônica nos próximos dias, a substituição de Biden no campo democrata – resume.
Embora ainda exista tempo para substituição de candidatos, afinal, a Convenção Democrata será apenas em agosto, substituir o atual presidente como candidato ainda traz riscos importantes. Especialmente em um contexto de ausência de novas lideranças dentro de ambos os partidos.
– Conversei com vários colegas democratas e pessoal da campanha do Biden e o clima é de desespero. Com 13 minutos de debate ele já travou numa resposta, que era o grande medo. Ele já começou com a voz rouca, gaguejando e travando. Ainda que Trump tenha tido maus momentos no debate, a performance do Biden é o que vai dominar a cobertura desse debate – disse Poggio.
Fonte: *AE