O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva assinou nesta quinta-feira (27) o decreto que institui a Estratégia
Nacional de Economia Circular (ENEC) e tem como objetivo promover a transição
econômica do atual modelo linear para uma lógica circular.
Pautada nos três pilares da economia
circular – não geração de resíduos e poluição, circulação de materiais e
produtos em seus mais altos valores e regeneração da natureza – a Estratégia
Nacional de Economia Circular apresenta cinco eixos estratégicos:
1. Criar um ambiente
normativo e institucional favorável à economia circular;
2. Fomentar a
inovação, a cultura, a educação e a geração de competências para reduzir,
reutilizar e promover o redesenho circular da produção;
3. Reduzir a
utilização de recursos e a geração de resíduos, de modo a preservar o valor dos
materiais;
4. Propor instrumentos
financeiros de auxílio à economia circular;
5. Promover a
articulação interfederativa e o envolvimento de trabalhadoras e trabalhadores
da economia circular.
De acordo com Luisa Santiago,
diretora executiva para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur,
organização especialista líder em economia circular, o lançamento da ENEC é um
motivo de celebração, visto que apresenta um caminho para um desenvolvimento
econômico de baixo carbono e duradouro para o país.
"A assinatura do decreto que
institui a Estratégia Nacional de Economia Circular para o Brasil demonstra um
compromisso do governo em direcionar o país a um desenvolvimento capaz de
enfrentar as principais crises ambientais, como as mudanças climáticas, a perda
de biodiversidade e a poluição. A estratégia traz uma visão completa do
potencial da economia circular, muito além da reciclagem, com foco nas
importantes agendas de design circular e de regeneração produtiva da
natureza, aspectos cruciais para destravar o crescimento econômico mais
acelerado dos setores e modelos de negócios alinhados a uma economia circular.
Outro ponto importante da estratégia é a ênfase em uma transição justa, que
reconheça a relevância e necessidade de políticas que garantam que os muitos
trabalhadores da economia circular sejam efetivamente incluídos nos mercados da
remanufatura, reuso, manutenção e reciclagem, bem como dos trabalhadores do
campo e dos ecossistemas naturais que operam cadeias relevantes para a saúde
dos sistemas naturais. O lançamento da ENEC é um passo importante e, daqui para
frente, será fundamental que o governo crie planos de longo prazo específicos
aos setores da economia, com metas claras, para que a transição para uma
economia circular ocorra de forma efetiva e justa."
Santiago ainda acrescenta que uma
economia circular, viabilizada pela revolução tecnológica, permite crescer a
produtividade dos recursos em 3% anualmente. "Na União Europeia, por exemplo,
já sabemos que a economia circular tem potencial para gerar benefícios totais
de 1,8 trilhões de euros até 2030. Isto se traduziria num aumento do PIB de até
7 pontos percentuais em relação ao cenário de desenvolvimento atual, com
impactos positivos adicionais no emprego".
A Estratégia publicada apresenta como
diferenciais o conceitos de redesenho circular da produção, ou seja, nas formas
pelas quais as organizações planejam, concebem e desenvolvem produtos e
serviços para eliminar resíduos e poluição, manter produtos e materiais na
economia e regenerar a natureza; e de transição justa, objetivando não
reproduzir as desigualdades sociais do atual modelo linear da economia na
transição para o modelo de economia circular.
A ENEC também propõe ao Ministério do
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços o desenvolvimento de um Fórum
Nacional de Economia Circular, com a finalidade de assessorar, monitorar e
avaliar a implementação da ENEC no território nacional.
O que é economia
circular?
O conceito de economia circular
surgiu para se contrapor ao modelo econômico atual que funciona em uma lógica
linear, baseado em extrair recursos naturais, transformá-los em produtos e
materiais e descartá-los depois de um curto período de uso. Essa lógica de
produção e consumo tem sido responsável pelos maiores problemas ambientais que
temos, como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição.
A economia circular, portanto, propõe
um redesenho dos produtos e modelos de negócio que contemplem os seus três
princípios fundamentais: eliminar resíduos e poluição, circular produtos e
materiais e regenerar a natureza. Dessa forma, é capaz de gerar um sistema
resiliente e positivo para as pessoas, as empresas, e o meio ambiente.
De acordo com o último relatório produzido
pela Fundação Ellen MacArthur, na América Latina e no Caribe, por exemplo, são
geradas 541 mil toneladas de lixo por dia - e a projeção é que esse número
aumente em 25% até 2050, com base no modelo atual. Além disso, a região
contribui com cerca de 10% das emissões globais de GEE e já vem registrando um
declínio de 94% em sua biodiversidade, um número muito maior do que em qualquer
outra região observada no mundo desde 1975. Embora grande parte dos
esforços da luta climática ainda estejam em torno da transição energética, ela
só fará frente a 55% das emissões. Os outros 45%, cruciais para o cumprimento
do Acordo de Paris, somente serão resolvidos com a transição para uma economia
circular.