O subprocurador-geral Lucas Furtado pediu que o Tribunal de Contas da
União (TCU) investigue o envio de R$ 1,3 milhão pela atual secretĂĄria de
Aquicultura, a ex-deputada federal Tereza Nelma (PSD), a uma ONG que é
presidida por sua ex-assessora e que atualmente trabalha no gabinete da sua
filha, a vereadora Teca Nelma (PT).
Conforme revelou o Estadão, o Instituto Guerreiras Pela Vida recebeu o valor entre maio de 2023 e junho deste ano. A ONG tem como presidente Emanuelle Gomes, que foi assessora de Nelma na Câmara até 2020. Além dela, outros cinco dirigentes da organização trabalharam no gabinete da ex-deputada.
Para Furtado, o fato desmoraliza a Administração Pública perante a
sociedade em razão da "alta pessoalidade" com que foram realizados os repasses.
"Eventos como o ora denunciado põem em risco a confiança nas autoridades
públicas e lança sobre as instituições a sombra de antigos hĂĄbitos, como o
patrimonialismo, o nepotismo, o apadrinhamento, o trĂĄfico de influĂȘncia e o
favorecimento pessoal", assinalou, em representação obtida pelo Estadão.
"E a situação pode ser ainda mais grave do que se mostra à primeira
vista, jĂĄ que, dada a relação de proximidade da secretĂĄria Nacional de
Aquicultura com o corpo dirigente do Instituto Guerreiras Pela Vida, bem assim
sua participação histórica no desenvolvimento da entidade, não é improvĂĄvel que
ela conserve a qualidade de sua gestora de fato, valendo-se de interpostas
pessoas, os chamados "laranjas"", acrescentou o procurador.
Caso sejam confirmadas as suspeitas de ofensa ao princípio da
impessoalidade, os repasses deverão ser considerados indevidos e ilegítimos,
segundo o membro do TCU. Nesse sentido, Furtado pede que o valor seja devolvido
aos cofres públicos, independentemente de eventual legalidade na sua
formalização.
O Instituto Guerreiras Pela Vida foi criado em 2006, sob o nome
Instituto BaobĂĄ, mas até 2023 jamais havia recebido dinheiro público. A ONG
mudou de nome após Tereza Nelma não se reeleger em 2022. Foi em 2022, na
elaboração do orçamento do ano seguinte, que Tereza emplacou as emendas para
repasse de recursos para a entidade.
Procurada, a secretĂĄria de Aquicultura explicou que destinou emendas a
dezenas de ONGs que atuam na inclusão e no combate a desigualdades. Ela
acrescentou que, ao longo de todos os seus mandatos, nunca foi registrado
qualquer irregularidade e sempre prezou por "total transparĂȘncia".
Emanuelle, a presidente da ONG, disse sua ex-chefe é apenas uma
"apoiadora" do trabalho do instituto. "A Guerreiras Pela Vida não é dela. É uma
instituição não governamental." Ela alegou, ainda, que trabalha diariamente na
ONG e no gabinete de Teca Nelma.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/