O dólar renovou a máxima em quase dois anos e o Ibovespa encerrou com
ganhos reduzidos nesta quinta-feira (20), com novas críticas de Lula ao Banco
Central (BC) ofuscando o clima positivo com a decisão do Comitê de Política
Monetária (Copom) na véspera.
A manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano, em decisão unânime do
colegiado colocou as cotações do dólar em baixa e deu força ao Ibovespa no
início do dia. A reação mais positiva à decisão era vista na renda fixa, onde
as taxas dos DIs chegaram a ceder 20 pontos-base em vencimentos mais curtos.
O clima inverteu a partir da tarde, com mercados repercutindo novas
críticas do chefe do Executivo ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, e a
decisão do Copom.
O dólar, que chegou a cair mais de 1% durante a manhã, mudou de sinal e
encerrou o dia com alta de 0,39%, negociado a R$ 5,461, o maior patamar desde
julho de 2022.
"A saída de dólares do país segue forte e isso reflete na cotação da
moeda e também no volume de negociação do nosso mercado, que tem encolhido
muito ao longo deste ano. Os investidores estrangeiros estão movendo seus
recursos de risco para outros países emergentes que demonstram melhores perspectivas
do que o Brasil", explica Anderson Silva, sócio da GT Capital.
O efeito negativo das falas do presidente também fizeram o Ibovespa
encerrar próximo da mínima do dia, apesar de se manter no campo positivo com
alta de 0,15%, aos 120.445 pontos.
O desempenho do mercado foi sustentado pelo avanço das principais
companhias listadas, com Vale (VALE3) ganhando 0,9%, enquanto Petrobras (PETR4)
valorizou 1,59%.
Lula lamentou nesta quinta-feira a decisão do Copom de encerrar o ciclo
de afrouxamento monetário e manter a taxa Selic em 10,50% ao ano, afirmando que
o povo brasileiro é quem mais perde com a decisão.
"Foi uma pena que o Copom manteve, porque quem está perdendo com isso é
o Brasil, é o povo brasileiro. Quanto mais a gente pagar de juros, menos
dinheiro a gente tem para investir aqui dentro", disse Lula em entrevista à
rádio Verdinha, em Fortaleza.
Ele afirmou que o presidente da República não se mete nas decisões do
Copom, mas questionou a autonomia da autoridade monetária, acusando-a de servir
aos interesses do mercado financeiro.
"A decisão do Banco Central foi investir no mercado financeiro, foi
investir nos especuladores que ganham dinheiro com juros. Nós queremos investir
na produção", pontuou.
O Copom do BC decidiu na véspera interromper o ciclo de afrouxamento
monetário iniciado em agosto do ano passado, dando destaque à piora das
expectativas de inflação.
Também afirmou que a política monetária deve se manter contracionista
por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de
desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
A decisão já era esperada pelos analistas, que focaram a atenção no
placar unânime da decisão do colegiado em interromper o ciclo de queda.
O placar era visto com atenção após a divisão da reunião anterior, em
maio, quando os quatro indicados por Lula votaram por um corte maior dos juros,
sendo superados pelos cinco remanescentes indicados da antiga gestão de Jair
Bolsonaro – incluindo Campos Neto -, de desaceleração do ritmo de queda.
Parte do mercado temia que o BC ficasse mais leniente com a inflação a
partir de 2025, quando encerra o mandato do atual presidente e os indicados
pelo governo petista serão maioria nas decisões.
De acordo com o gestor de renda variável Tiago Cunha, da Ace Capital, a
bolsa reagiu mais cedo ao movimento de alívio originado na decisão do Copom.
"Mais do que o movimento na Selic, pesa a decisão unânime da diretoria,
que aliviou um pouco as preocupações sobre uma eventual influência política na
decisão de parte do comitê", acrescentou.
Apesar do alívio, o analista econômico Lucas Farina, da Genial
Investimentos, destacou que a dúvida sobre a sucessão da presidência do BC
continuará a alimentar incertezas do mercado acerca da condução futura da
política monetária daqui em diante
Errata: A versão anterior deste texto informou erroneamente que o
fechamento do dólar em R$ 5,461 é o maior valor desde janeiro de 2023. Na
verdade, esta é a maior cotação desde julho de 2022. A informação foi corrigida.
Fonte: *Com informações da Reuters