O agravamento progressivo da
condição fiscal do Brasil resultou na queda da Bolsa do país e do real,
passando de um nível recorde para o mais baixo desempenho entre as principais
economias globais em 2024.
No decorrer deste ano, o Ibovespa registra uma queda superior a
10%, divergindo dos índices globais que, em grande parte, mostram valorização.
A fraca performance da bolsa e do real é resultado das incertezas econômicas.
Essas informações foram fornecidas pelo jornal Folha de S. Paulo.
A performance ruim não é restrita ao mercado de ações e à moeda
brasileira. Ela é igualmente observada na taxa de câmbio: o real já acumula uma
depreciação de aproximadamente 10% frente ao dólar em 2024, passando de R$ 4,85
no final de 2023 para R$ 5,38 na sexta-feira dia 14. A performance do real é
apenas superada pela do iene japonês, que teve depreciação de -10,37%.
Assim, o final de janeiro viu a Bolsa brasileira cair quase 5%,
com uma retirada de R$ 12 bilhões em recursos estrangeiros. Contudo, desde
abril, as incertezas internas tornaram-se cada vez mais pesadas.
No período em questão, a administração de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) optou por reduzir a meta de superávit primário de 2025 de 0,50% do
Produto Interno Bruto (PIB) para zero, o que intensificou o ceticismo do
mercado.
De acordo com Sérgio Golgenstein, chefe de estratégia da Warren
Rena, o mercado estava "meio desconfiado, e esse foi um motivo forte para
aumento da preocupação."
"Com isso, o BC também passou a adotar um tom mais duro, porque já
percebia uma incerteza grande no cenário externo, mas também incertezas
internas, que eram várias", afirmou.
Dentro dessa visão, as dúvidas fiscais "viraram uma bola de neve",
resultando em aumento nos juros futuros e fuga de capital do país. Tais fatores
também auxiliaram na depreciação do real.
Também é influenciado pelo aumento da taxa de juro (Selic) o baixo
desempenho da bolsa brasileira e do real no mercado internacional.
A decisão de aumentar a taxa de juros para 10,50% na última
reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) também contribuiu para a queda
do valor. Naquele momento, a maior parte do comitê optou por reduzir a
velocidade dos cortes da Selic, enquanto todos os nomeados pelo governo votaram
a favor de um corte mais acentuado.
"A diferença mostrou que há uma divisão dentro do Copom e é um
argumento muito negativo para o investidor estrangeiro sobre até que ponto o
presidente da República consegue, através dos membros que ele indicou,
influenciar a política monetária", declarou Eduardo Moutinho, analista da Ebury
Bank.
Sérgio Golgenstein indicou que a divisão interna no Copom
intensificou os medos dos agentes de mercado. Ele declarou que o Brasil iniciou
uma "escalada bastante negativa, porque agentes de mercado passaram a
considerar que o BC poderia estar mais suscetível a interferências políticas, e
isso levou a um aumento nas expectativas de inflação."
Espera-se que a taxa Selic continue em ascensão. No começo do ano,
a projeção do boletim Focus era de que o juro chegasse a 9% até o final do ano.
No entanto, a previsão aumentou para 10,25%.
O gestor de renda variável da EQI Asset, Victor Uébe, acredita que
a taxa não deve diminuir mais como foi previsto anteriormente, gerando
instabilidade no mercado externo.
"A Selic hoje em dia, pelos níveis de preço do mercado,
provavelmente não cai mais como imaginávamos, e isso afeta o fluxo de caixa das
empresas", disse. "Isso se mistura com demora de queda de fluxo de capital lá
fora e muito ruído interno, o que não ajuda na segurança de investir em ativos
de risco no país."
Adicionalmente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é
percebido pelo mercado como enfraquecido dentro do governo Lula, o que
descredibiliza ainda mais o compromisso do Executivo com o ajuste fiscal.
Eduardo Moutinho, analista do Ebury Bank, acredita que a "falta de
previsibilidade" em relação à taxa de juros e fiscal leva ao distanciamento de
investidores do Brasil.
"Ninguém gosta de incerteza, e no momento o Brasil está cheio delas. Parece que enquanto a equipe econômica quer fazer uma coisa, o presidente quer fazer outra. Esse descasamento acaba sendo negativo para os mercados", alertou.
Fonte: As informações são da Revista Oeste.