O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva enfrenta um isolamento crescente, enquanto conflitos internos e uma
articulação política falha no Planalto geram frustração entre aliados
influentes no Congresso e na Esplanada dos Ministérios sobre a direção do
governo. Nos bastidores do Congresso, vozes começam a exigir reformas radicais,
começando pelo círculo íntimo do Palácio, mas não se espera que tais mudanças
ocorram antes das eleições municipais, segundo o entorno de Lula.
A rejeição da Medida Provisória do
PIS/Cofins pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), revelou mais
uma vez as deficiências na comunicação do governo e intensificou as tensões
entre os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda), conforme
informações da revista Valor Econômico.
Fontes ouvidas pelo Valor no
Congresso, no Planalto e na Esplanada relatam que o incidente ampliou a
percepção de um governo desorientado, com o embate entre Rui Costa e Haddad se
tornando um entrave adicional, enfraquecendo ainda mais o diálogo já precário
com o Legislativo. A MP, assinada por Lula a pedido de Haddad em 4 de junho –
durante a ausência de Rui Costa na China com o vice-presidente Geraldo Alckmin
– não contava com apoio do setor privado, nem de Rui Costa ou do ministro de
Minas e Energia, Alexandre Silveira.
O documento limitava o acesso a
créditos tributários do PIS e Cofins para compensar os R$ 26 bilhões perdidos
com a redução da carga tributária sobre a folha de pagamento. No entanto,
provocou reações adversas em setores como o agronegócio e o mercado de
combustíveis. Haddad teria enviado a MP sem consultar os empresários "para
impulsionar uma solução", mas ficou descontente com a forma como foi anulada. O
ministro soube pela imprensa da intenção de Lula em retirar a MP caso não fosse
devolvida por Pacheco, após declarações do presidente da CNI (Confederação Nacional
da Indústria), Ricardo Alban, em um almoço na CNA (Confederação Nacional da
Agricultura).
Essa declaração, feita logo após um
encontro de Alban com Lula e Rui Costa, criou na equipe econômica a impressão
de que foi uma manobra para prejudicar Haddad, com indícios da influência do
chefe da Casa Civil. Por outro lado, Rui Costa tem expressado insatisfação aos
seus auxiliares por ser responsabilizado por Haddad sempre que algo dá errado.
No Congresso, aliados comentam reservadamente sobre a incompreensão da relação
entre Haddad e Rui Costa. Eles observam paralelos na situação vivida por Haddad
com o processo que resultou na demissão do presidente da Petrobras, Jean-Paul
Prates – que estava em conflito com o PT, Rui Costa e Silveira – em maio.
A ausência de uma liderança
centralizadora no governo gera uma crise de confiança; parlamentares estão
incertos sobre em quem confiar para encaminhar demandas. Eles também criticam o
fato de Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, estar afastado
do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Senadores experientes relatam
dificuldades em acessar o presidente ou em serem convocados para colaborar.
Uma queixa recorrente é que Lula
poderia interagir mais frequentemente com deputados e senadores para fortalecer
laços. No entanto, parece haver problemas além da escassez de encontros
privados. Recentemente, senadores discutiram sobre a diminuição da presença
parlamentar em eventos no Palácio do Planalto.
Não há mais o estímulo anteriormente
oferecido pelo governo para que os parlamentares participem de certas
atividades. Segundo informações da revista Valor Econômico, essa mudança de
postura é evidente.
Recentemente, em um momento
descontraído no Senado, Omar Aziz (PSD-AM) provocou Ciro Nogueira (PP-PI),
atualmente alinhado com Bolsonaro, com uma piada sobre Lula querer conversar
com ele, ao que Nogueira respondeu com humor sobre a falta de uso de celular
por Lula.
Para se comunicar com Lula, até os
presidentes do Legislativo precisam passar primeiro pela primeira-dama, Janja
da Silva, ou pelo chefe de gabinete, conhecido como Marcola, já que o
presidente evita o uso de celular.
Diferentemente de seus mandatos
anteriores, onde contava com figuras influentes do PT como José Dirceu e
Antonio Palocci para negociações e articulações, hoje Lula está mais isolado.
Ele parece preferir discutir assuntos legislativos apenas com Rui Costa,
Padilha e líderes no Congresso, sem buscar outras opiniões.
Atualmente, percebe-se no Planalto
uma inclinação do presidente para assuntos internacionais em detrimento das
questões políticas diárias. Esse comportamento contrasta fortemente com suas
gestões anteriores, onde ele tinha uma participação ativa na interação com o
Congresso e na resolução de conflitos internos.
Aliados expressam preocupação com a
ausência de um projeto marcante para o governo atual, diferentemente do que
ocorreu com o Bolsa Família e o crescimento econômico nos mandatos anteriores.
Até mesmo um membro proeminente do PT
teme que o governo atual seja lembrado como uma administração "indiferente".
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