Cidades próximas e com muito mais moradores do que Joanésia tiveram menos notificações. Ipatinga (a 51 km) tem uma população 57 vezes maior, com 228 mil habitantes, e apenas dois casos; Timóteo (73 km), com 81 mil habitantes, tem 11; e Coronel Fabriciano (64 km), com 105 mil, tem 26.
"Temos realizado uma completa investigação epidemiológica no território. Nossa perspectiva é de que na semana que vem também levemos parte da equipe do Ministério da Saúde para somar forças à nossa, para entender os aspectos que levaram a ter essa circulação do vírus no Vale do Aço, com destaque na cidade de Joanésia", afirma o subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Prosdocimi.
Joanésia tem áreas de mata e é banhada pelo rio Santo Antônio, condições que poderiam estar associadas ao registro de casos da doença. "A febre oropouche é transmitida por um mosquito (o Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora) muito comum em áreas de rios, matas e mangues, onde tem muita matéria orgânica", explica o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti. "Em regiões de mata onde essa doença já foi identificada, vale a pena usar roupa comprida e repelente para evitar a picada do mosquito", orienta.
Dos 30 casos em Joanésia, 24 vieram da zona rural, onde vive a maioria da população, segundo o secretário municipal de Saúde, Marcelo Andrade. À espera da investigação para compreender o número de casos na cidade, ele afirma que a prefeitura tem realizado ações junto aos moradores.
"Aguardamos esse estudo para saber o que motivou a febre oropouche no município, que, com a Superintendência Regional de Saúde, já fez e fará novamente uma força-tarefa com atividades de controle vetorial, principalmente nas comunidades com casos confirmados", diz Andrade.
Concentração de casos
A região do Vale do Aço é responsável por 70 dos 72 casos de febre oropouche em Minas, com 30 em Joanésia, 26 em Coronel Fabriciano, 11 em Timóteo, dois em Ipatinga e um em Mariléia. Os outros dois foram notificados em Congonhas, na região Central, e Gonzaga, no Vale do Rio Doce.
O subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Prosdocimi, acredita que mais casos devem ser registrados. "O Vale do Aço também é a região que tem, proporcionalmente, o maior número de casos de chikungunya no Estado. Os sintomas da febre oropouche são muito similares aos de outras arboviroses (doenças transmitidas por mosquitos), como a chikungunya", afirma.
"Imaginamos que parte dos casos que eram registrados como chikungunya estão sendo descobertos como febre oropouche, agora que Minas realiza mais exames para essa doença. A tendência é que, nas próximas semanas, aumentem as notificações de febre oropouche em casos que estavam lançados como chikungunya no Vale do Aço", completa o subsecretário.
A doença
Diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, o infectologista Estevão Urbano explica que a semelhança da febre oropouche com outras doenças transmitidas por mosquitos está também no tratamento. "Os sintomas podem durar, em média, de cinco a sete dias. Alguns deles são febre, dor nas articulações e na musculatura, inapetência (falta de apetite) e manchas no corpo. Na grande maioria das vezes, se tratada adequadamente, a doença tem evolução favorável", explica. Em Minas, nenhum infectado precisou de internação.
"Entretanto, de forma mais rara, alguns casos podem evoluir para hemorragias eventualmente severas e, inclusive, para infecções de alguns órgãos-alvo, como o cérebro, e com chance de evolução fatal, embora seja incomum. Em algumas pessoas, alguns sintomas, como fadiga, dores articulares e inapetência, persistirão por mais tempo, às vezes semanas, até a recuperação completa", relata o especialista.
De acordo com Estevão Urbano, alguns públicos precisam ter mais atenção quando diagnosticados com a doença. "Assim como em todas as arboviroses, os idosos, os bebês, as grávidas e os imunossuprimidos podem ter formas mais graves da doença. Então, a preocupação é um pouco maior com esses subgrupos de pacientes."
Assim como em casos de dengue, o tratamento para a febre oropouche não conta com um medicamento específico para a doença. "Temos que dar tempo ao tempo para a nossa própria imunidade criar anticorpos e eliminar o vírus. Até que esse tempo aconteça, temos que manter a pessoa com ótima hidratação, remédio para dor e febre, além de repouso, se necessário. É preciso evitar medicamentos que aumentem o risco de hemorragia. Ainda não existem vacinas contra a febre oropouche e, se há estudos, estão em fases iniciais."
O tempo