O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pautou um
requerimento de urgência, nesta quarta-feira (5), para levar direto ao Plenário
um projeto de lei que impede a delação premiada de réus presos.
Esse projeto de lei foi criado pelo ex-deputado federal Wadih Damous
(PT-RJ), em 2016, no auge da Operação Lava Jato, que contou com o recurso para
avançar nas denúncias contra políticos e empresas.
Apesar da pressão de Lira, o Plenário da Câmara não votou o requerimento
nesta quarta, pois a sessão foi interrompida depois que a deputada federal
Luiza Erundina (PSB-SP) passou mal durante um discurso.
Diante desta manobra, o Poder Expresso desta quinta-feira (6) ouviu o
analista político Aryell Calmon sobre o projeto que proíbe a delação premiada
para detentos, o texto tramita no Congresso Nacional.
Na visão do especialista, este é um dos movimentos que apontam força
para a oposição na Câmara dos Deputados, no mesmo dia em que um deputado
bolsonarista recebeu a relatoria de um projeto que busca anistia aos presos
pelos ataques do 8 de janeiro.
"Embora pareçam atos isolados, indicação de urgência e indicação de
relatoria, mas na verdade são dois atos que, em conjunto, mostram a força de um
lado do campo político, diante de uma série de outras matérias como, por
exemplo, a tributação de itens estrangeiros. Era um tema que tinha divergência
entre governo e oposição, e teve total influência de Arthur Lira no jogo de
forças para que a matéria saísse como saiu", observou.
Apesar do interesse da oposição, o autor do projeto, Wadih Damous, disse ao
canal Globo News que o texto escrito por ele não incluiria delações já
realizadas, como nos casos recentes do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro,
Mauro Cid, e de Ronnie Lessa, acusado pela morte da ex-vereadora Marielle
Franco.
"Gostaria muito de perguntar ao meu ex-colega de Câmara, deputado Arthur
Lira, que virtudes ele vê nesse projeto hoje que ele não viu há quase 10 anos.
Eu defendo o mérito do projeto, mas não há cabimento emprestar regime de
urgência. Qual é a urgência de um projeto que estava engavetado há quase 10
anos?", replicou Damous, em suas redes sociais.
Sobre o requerimento de urgência, Calmon acredita que o objetivo de Lira é
expor a fragilização do governo, o que tem como finalidade também a eleição
para presidência da Câmara em 2025.
"Isso, de alguma maneira, já está sendo feito pensando na eleição da
Casa. Não é necessariamente com objetivo de ver aquela matéria andar.
Provavelmente Lira não tem interesse na tramitação deste PL, mas no simbólico
que isso traz. É um projeto de um parlamentar do PT que foi colocado em um
determinado contexto e agora retorna em outro contexto. Isso fragiliza o
governo dentro da própria Câmara e, portanto, no diálogo com os parlamentares,
nessa tentativa de formar lideranças para um próximo governo", avalia.
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