Por maioria dos votos, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro
(TRE-RJ) votou pela absolvição do governador ClĂĄudio Castro, do vice Thiago
Pampolha e do presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
(Alerj), deputado Rodrigo Bacellar. A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio
vai recorrer da decisão aoTribunal Superior Eleitoral (TSE).
O julgamento na corte eleitoral fluminense foi encerrada na noite desta
quinta-feira (23), com 4 votos a favor e 3 contra. Os políticos são acusados de
abuso de poder econômico, político, de autoridade e utilização indevida dos
meios de comunicação nas eleições de 2022.
Caso o resultado fosse contrĂĄrio, a defesa dos investigados também
poderia recorrer da decisão no TSE.
Além de ClĂĄudio Castro, Thiago Pampolha, e Rodrigo Bacellar, hĂĄ outros
dez réus no processo:
· O deputado federal Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ);
· O deputado federal Max Lemos (PDT-RJ);
· O deputado estadual Leonardo Vieira Mendes (Republicanos);
· O ex-presidente da Fundação Ceperj, Gabriel Rodrigues Lopes;
· O suplente de deputado federal, Gutemberg de Paula Fonseca;
· O suplente de deputado federal, Marcus Venissius da Silva Barbosa;
· O suplente de deputado estadual e secretårio estadual de Ambiente e
Sustentabilidade Bernardo Chim Rossi;
· A secretåria estadual de Cultura e Economia Criativa, Danielle Christian
Ribeiro Barros;
· O ex-subsecretĂĄrio de Habitação da Secretaria Estadual de Infraestrutura,
Allan Borges Nogueira;
· O ex-secretårio estadual de Trabalho e Renda, Patrique Welber Atela de
Faria.
Até que os recursos possam ser julgados no TSE, todos os acusados
continuam no cargo.
Na última sexta-feira (17), o desembargador-relator Peterson
Barroso Simão sustentou que todos os investigados praticaram "atos com a
finalidade de atingir e comprometer as eleições de 2022" e "assumiram o risco
de um resultado desleal".
Voto a voto
Desembargador eleitoral Marcello Granado
O desembargador votou contra os pedidos de cassação, inegibilidade e
aplicação de multas, julgando improcedente os pedidos da Procuradoria Regional
Eleitoral, mas concordou parcialmente com o desembargador relator Peterson
Barroso.
"Estou de acordo com o eminente relator no que se refere a existĂȘncia de
indícios de graves irregularidades em contratações no âmbito do Ceperj — Centro
Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de
Janeiro — e Uerj — Universidade Estadual do Rio de Janeiro(Â
)", inicia.
Em seguida, discorda do voto pela cassação: "Entendo que não hĂĄ provas
robustas suficientes de que os atos praticados tenham sido efetuados com o
objetivo de favorecer a campanha dos deputados investigados, sem prejuízo de
que os fatos sejam eventualmente examinados sobre outro prisma de ilicitude,
que foge da competĂȘncia da Justiça Eleitoral (Â
)Não hĂĄ como acolher os
pedidos."
Desembargadora eleitoral Daniela
Bandeira de Freitas
A magistrada votou a favor da cassação de Castro, mas pediu "vĂȘnia" para
discordar dos pedidos do relator em relação ao ex-subsecretĂĄrio de Habitação da
Secretaria Estadual de Infraestrutura, Allan Borges Nogueira.
"Allan estava subordinado, hierarquicamente, no ano de 2022, ao
secrerĂĄrio de Infraestrutura e obras Max Rodrigues Lemos, ex-prefeito do
município de Queimados e então candidato a deputado federal", explicou.
No entando, Allan Borges e Max Lemos jĂĄ haviam sido absolvidos pelo
relator na semana passada.
Desembargador eleitoral Gerardo Carnevale Ney da Silva
No início da sustentação, o desembargador declarou que estava
"acompanhando integralmente" o voto do desembargador Marcelo Granado, de
absolver todos os réus.
Entre outros argumentos, o juiz citou a diferença de mais de dois
milhões de votos a mais recebidos por Castro nas eleições de 2022 contra
Marcelo Freixo, que moveu uma das ações julgadas nesta quinta (23) contra o
governador.
"Vinte e quatro mil pessoas foram contratadas, mas eles conseguiram
produzir quatro milhões novecentos e trinta mil votos em favor do ClĂĄudio
Castro? Não me parece razoĂĄvel. O ClĂĄudio Castro ganhou em 91 dos 92 municípios
do Rio de Janeiro. Só perdeu em Niterói", lembra o magistrado.
Desembargador eleitoral Fernando
Marques de Campos Cabral Filho
O magistrado disse que acompanha "integralmente o eminente desembargador
relator" para afastar todas as preliminares suscitadas, mas divergiu de
conclusões que surgiram no julgamento em relação a improbidade administrativa e
votou pela absolvição de todos os réus.
"Por não estarmos em cede de ação civil pública por improbidade
administrativa e por não exercermos nessa cede as competĂȘncias das justiças
comum estadual parecem, ao meu aviso, aquela que tem a competĂȘncia
constitucional para conhecer, processar e julgar as demandas dessa natureza
pelos fatos que aqui se expõe", argumentou o jurista.
No final da leitura voto, ele esclarece: "Voto no sentido de julgar
integralmente improcedente as Ajis para afastar toda e qualquer punição aos
investigados."
Desembargadora eleitoral KĂĄtia Valverde
Junqueira
Seguindo os argumentos dos desembargadores que votaram contra a cassação
da chapa de ClĂĄudio Castro, a desembargadora também votou pela absolvição dos
réus.
"A divergĂȘncia do desembargador Marcelo me fez refletir, a do
desembargador Gerardo ratificou a necessidade da minha reflexão e eu acho que o
voto, bastante detalhado, do desembargador Fernando ele trouxe muitas luzes
para algumas dúvidas que eu tinha", explicou a jurista.
Presidente desembargador Henrique
Figueira
Último a votar, o presidente do TRE acompanhou o voto do relator, pela
cassação, e julgou procedentes os pedidos da Procuradoria Regional Eleitoral do
Rio.
Histórico dos governadores do RJ
Na história do estado do Rio de Janeiro, cinco ex-governadores jĂĄ foram presos
— Pezão, durante mandato, Cabral, Garotinho, Moreira Franco e Rosinha
Garotinho, após o mandato — e um cassado durante o mandato — Wilson Witzel. Os
governadores ainda vivos do estado que não respondem a processos judiciais são
apenas dois: Nilo Batista e Benedita da Silva.
Após a oficialização do impeachment do então governador Witzel, em abril
de 2021, ClĂĄudio Castro assumiu o cargo de governador do Rio de Janeiro.
ClĂĄudio Castro
Após a decisão, o governador se manifestou por meio de nota. Confira:
"Recebo com profunda humildade a decisão da corte eleitoral do Estado do
Rio de janeiro. Desde o início deste processo, reiterei a confiança na Justiça,
o que se comprovou hoje. A democracia, pilar fundamental da nossa sociedade,
foi brindada com esta decisão.
Importante destacar que além do trabalho da nossa defesa, que resultou
pela improcedĂȘncia das ações interpostas pelo Ministério Público Eleitoral e
pelo candidato derrotado Marcelo Freixo, a decisão respeitou o voto livre e
soberano de mais de 4,8 milhões de eleitores do Estado do Rio de Janeiro.
Repito o que sempre disse ao ex-deputado Marcelo Freixo: respeite o
resultado das urnas e a vontade do nosso povo.
A democracia hoje é a grande vitoriosa."
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/