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Um monge católico revelou no último domingo (19/5) ser um homem trans. Christian Matson, de 39 anos, um eremita diocesano (religioso que usa hábito e se dedica a orações silenciosas) do Kentucky (EUA) fez a confissão ao Religion News Service. A data escolhida foi a de Pentecostes, uma das celebrações mais importantes do calendário cristão e que comemora a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo, sua mãe, Maria, e outros seguidores.
"Vocês têm que lidar conosco, porque Deus nos chamou para esta igreja. Esta é a igreja de Deus, e Deus nos chamou e nos inseriu nela", afirmou Christian.
O monge disse ter feito a revelação com a permissão do seu bispo, John Stowe, da Diocese de Lexington, em Kentucky.
Christian, que também é oblato (leigo que se oferece para servir em uma ordem religiosa) beneditino, disse acreditar ser a primeira pessoa abertamente transgênero em sua posição na Igreja Católica.
"Atualmente, estou morando nas montanhas Apalaches, no leste de Kentucky", escreveu ele num e-mail para amigos e apoiadores no domingo. "Moro num eremitério no topo de uma colina arborizada, que compartilho com meu pastor alemão resgatado, Odie, e com o Santíssimo Sacramento, que foi instalado em meu oratório pouco antes do Natal", acrescentou.
Criado na Igreja Presbiteriana, Christian se converteu ao catolicismo em 2010. Após sua conversão, o religioso se sentiu chamado a atender pastoralmente as pessoas que trabalham nas artes, mas sabia que encontraria "problemas" devido a um documento do Vaticano do ano 2000 que, de acordo com uma reportagem do Catholic News Service à época, declarava que qualquer pessoa que tivesse passado por uma mudança de sexo era inelegível "para casar, ser ordenado ao sacerdócio ou ingressar na vida religiosa".
Christian foi orientado por um especialista em direito canônico a ser franco sobre seu status de homem transgênero em quaisquer conversas vocacionais com lideranças religiosos e sugeriu o papel de um eremita diocesano, que poderia ser menos desafiador do que entrar em uma ordem religiosa existente.
Depois tentar sem sucesso ser aceito por algumas dioceses, como em Nova York e Minnesota, Christian finalmente foi acolhido por Stowe no Kentucky.
"Foi um enorme alívio. Eu estava aos prantos. Senti a minha esperança reviver", desabafou o eremita.
"Minha disposição de estar aberto a ele se deve ao fato de ele ser uma pessoa sincera que busca uma forma de servir à Igreja", disse Stowe.
O anúncio de Christian ocorre em meio a uma conversa contínua sobre os direitos dos transgêneros e LGBTQ+ em todos os EUA. Empresas e marcas que defendem a comunidade LGBTQ+ receberam uma reação negativa, como a marca de cerveja Bud Light, que enfrentou um boicote após fazer parceria com Dylan Mulvaney, um ativista transgênero.
Em abril, o Vaticano publicou "Dignidade Infinita", uma declaração de 20 páginas que discutia a visão da Igreja Católica sobre os indivíduos transexuais. A declaração, que foi aprovada pelo Papa Francisco, dizia que Deus criou homens e mulheres como seres biologicamente diferentes e que ninguém deveria tentar alterar esse plano ou "tornar-se Deus".
Fonte: Jornal Extra