Brasília, 17 de maio de 2024 – O Conselho Federal de Medicina (CFM)
manifestou-se nesta sexta-feira em reação à liminar concedida pelo ministro
Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu uma
resolução da autarquia referente a procedimentos de aborto legal. A resolução,
alvo da decisão do STF, estava no centro de um debate acalorado sobre a
regulamentação do aborto em casos específicos previstos em lei, como os de
gravidez resultante de estupro.
Em comunicado oficial, o CFM destacou que considera a decisão do
ministro Moraes surpreendente, pois não houve uma oportunidade prévia para que
a entidade se manifestasse. "A autarquia estranha que a decisão do ministro
tenha sido tomada sem ter sido chamada a se manifestar previamente", afirmou o
CFM. A entidade médica ressaltou que está preparando uma resposta detalhada e
acredita que suas justificativas serão suficientes para convencer os ministros
do STF sobre a legalidade e a necessidade da sua resolução.
A decisão de Alexandre de Moraes atende a um pedido do Partido
Socialismo e Liberdade (Psol), que argumentou contra a norma do CFM proibindo a
prática da assistolia fetal em procedimentos de aborto legal em gestações
superiores a 22 semanas. A assistolia fetal é um procedimento onde um médico
induz a parada do batimento cardíaco do feto através de uma injeção antes de
removê-lo do útero. Segundo o Psol, a proibição imposta pelo CFM cria barreiras
não previstas na legislação e infringe direitos fundamentais como o direito à
saúde, o livre exercício da profissão médica e a dignidade humana.
A assistolia fetal é um procedimento controverso, mas considerado por
muitos profissionais de saúde como necessário em determinadas circunstâncias
para minimizar o sofrimento fetal e proteger a saúde da mulher. Em casos de
gravidez resultante de estupro, onde a gestação ultrapassa 22 semanas, a
interrupção da gravidez pode ser complexa e arriscada. A norma do CFM que
proibia este procedimento visava, segundo a autarquia, a garantir a segurança
dos procedimentos médicos e a proteção da vida.
No entanto, críticos da resolução argumentam que a proibição da
assistolia fetal, na prática, inviabiliza a realização do aborto legal em
muitas situações previstas pela legislação brasileira. Estes críticos incluem
organizações de defesa dos direitos das mulheres, que veem na decisão do CFM
uma forma de dificultar ainda mais o acesso ao aborto seguro em um país onde o
procedimento já enfrenta inúmeras barreiras.
Em sua resposta inicial à decisão do STF, o CFM reiterou seu compromisso
com a ética médica e a proteção da saúde dos pacientes. "Para o CFM, as
justificativas que serão encaminhadas, após ser devidamente intimado e
cientificado da íntegra da decisão, serão suficientes para o convencimento dos
ministros do STF sobre a legalidade de sua resolução," destacou a autarquia em
seu comunicado. O CFM afirma que suas normas são elaboradas com base em
critérios técnicos e científicos, visando sempre o melhor interesse dos
pacientes e a integridade dos procedimentos médicos.
A decisão de Alexandre de Moraes foi celebrada por organizações de
direitos humanos e entidades que defendem os direitos das mulheres. Elas
argumentam que a proibição da assistolia fetal era uma barreira desnecessária e
cruel imposta às mulheres que já se encontram em situações extremamente
vulneráveis. Segundo essas organizações, a resolução do CFM estava em desacordo
com a legislação brasileira e com os princípios de direitos humanos.
Por outro lado, setores mais conservadores e algumas entidades médicas
expressaram preocupação com a decisão do STF. Eles argumentam que a permissão
para a prática da assistolia fetal pode abrir precedentes perigosos e
comprometer princípios éticos fundamentais da medicina.
A questão do aborto legal no Brasil é um tema de intenso debate jurídico
e ético. A legislação brasileira permite o aborto em casos de risco de vida
para a mulher, anencefalia do feto e gravidez resultante de estupro. No
entanto, a regulamentação desses casos específicos é complexa e frequentemente
alvo de disputas judiciais e políticas.
A decisão do STF de suspender a resolução do CFM adiciona uma nova
camada de complexidade a este debate. Os ministros do STF terão que considerar
não apenas os aspectos legais, mas também os impactos éticos e médicos das
normas que regulamentam o aborto. A resposta do CFM, que será encaminhada nos
próximos dias, será crucial para esclarecer os fundamentos técnicos e
científicos da sua resolução e para definir os próximos passos desta disputa
judicial.
O embate entre o Conselho Federal de Medicina e o Supremo Tribunal
Federal em torno da regulamentação do aborto legal evidencia as profundas
divisões e os desafios inerentes à questão no Brasil. À medida que a discussão
avança, é essencial que todas as partes envolvidas – incluindo entidades
médicas, jurídicas e de direitos humanos – trabalhem juntas para encontrar um
equilíbrio que respeite tanto os direitos das mulheres quanto os princípios
éticos da medicina. A próxima resposta do CFM e as futuras deliberações do STF
serão determinantes para o futuro da regulamentação do aborto legal no país.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/