O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse a três deputados
aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que não poderia deixar de enviar
as denúncias de fake news sobre a tragédia climática no Rio Grande do Sul para
a Polícia Federal (PF). A reunião ocorreu nesta quinta-feira (16), na sede da
pasta.
No encontro, que durou cerca de uma hora, Lewandowski disse que não
poderia optar por não enviar o ofício que foi feito pelo ministro da Secretaria
da Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, para a PF, sob o
risco de cometer uma prevaricação. O ministro da Justiça também disse que não
fez juízo de valor sobre o conteúdo das denúncias protocoladas por Pimenta.
Os três deputados que conversaram com Lewandowski foram Eduardo Bolsonaro
(PL-SP), filho do ex-presidente, a presidente da Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Câmara, Caroline de Toni (PL-SC), e o deputado Paulo Bilynskyj
(PL-SP).
O ofício de Pimenta foi enviado para Lewandowski na última terça-feira
(7). No documento, o ministro da Secom denuncia a existência de "narrativas
desinformativas e criminosas vinculadas às enchentes e desastres ambientais
ocorridos no estado do Rio Grande do Sul".
Pimenta foi nomeado ministro da Secretaria Extraordinária da Presidência
para o Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, que foi formalmente criada
por Lula em uma agenda do governo federal realizada no estado nesta quarta
(15).
A denúncia de Pimenta inclui postagens feitas pelo deputado Eduardo
Bolsonaro (PL-SP), o coach e influenciador Pablo Marçal e o senador Cleitinho
Azevedo (Republicanos-MG). O chefe da Secom apontou que o filho do
ex-presidente propagou notícias falsas ao ter compartilhado uma reportagem do
jornal Folha de S. Paulo com o título "Após 4 dias de chuvas, governo Lula
autoriza envio da Força Nacional para o RS".
No encontro com Lewandowski, os parlamentares disseram que a postagem de
Eduardo Bolsonaro foi uma manifestação da "liberdade de expressão" e
ressaltaram que ele possui imunidade parlamentar. O ministro da Justiça
ressaltou que não fez um juízo de valor sobre o ofício e que seguiu o protocolo
de enviar o documento à PF.
"CONVERSA TÉCNICA E AMISTOSA"
Ao Estadão, Paulo Bilynskyj afirmou que os parlamentares foram "bem recebidos"
e que a conversa com Lewandowski foi "técnica e amistosa". De acordo com o
parlamentar, o ofício de Pimenta mostra que o ministro está usando a máquina
pública para "censurar quem denunciou o governo".
Pimenta foi convidado a esclarecer denúncias de fake news na CCJ da
Câmara.
Inicialmente, a estratégia dos deputados da oposição ao governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era convocar Lewandowski e Pimenta
para uma audiência na CCJ da Câmara. Após um acordo com a base governista, os
parlamentares decidiram ter uma conversa privada com o chefe da Justiça e
aprovaram um convite ao ministro da Secom.
A data sugerida para a presença de Pimenta no colegiado é 28 de maio,
mas o ministro pode se recusar a comparecer à audiência, caso queira.
O autor do requerimento é Bilynskyj, que deseja ouvir do chefe da Secom
"esclarecimentos acerca da abertura de um inquérito para perseguir opositores
que denunciaram falhas e abusos do governo federal na tragédia causada pelas
chuvas no Rio Grande do Sul, entre outros".
No mesmo dia em que Pimenta enviou o ofício para Lewandowski, o ministro
da Secom defendeu a necessidade de "botar pra f**** com os caras" que são
acusados de propagar notícias falsas durante uma reunião ministerial. Um
interlocutor do encontro perguntou o que deveria ser feito:
– Mandar prendê-los?
– Manda prender, não aguento mais fake news – respondeu Pimenta.
As enchentes no Rio Grande do Sul já deixaram ao menos 149 mortos e 108
desaparecidos até a manhã desta quarta (15). Em todo o território gaúcho, há
cerca de 538 mil desalojados e 76 mil pessoas em abrigos públicos. Segundo a
Defesa Civil estadual, 446 dos 497 municípios gaúchos foram afetados pelos
temporais.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/