Em entrevista à AgĂȘncia Brasil, o epidemiologista Alfredo Scaff, consultor médico da Fundação do Câncer, o estudo visa a apresentar para a sociedade dados que possibilitem ações de prevenção da doença. "O câncer de pulmão tem uma relação direta com o hĂĄbito do tabagismo. A gente pode dizer que, tecnicamente, é o responsĂĄvel hoje pela grande maioria dos cânceres que a gente tem no mundo, e no Brasil, em particular."
O cigarro eletrônico causa uma doença pulmonar grave e aguda, denominada Evali, que pode levar a óbito, além de ter outro problema adicional: a bateria desse cigarro explode e tem causado queimaduras graves em muitos fumantes. "Ele é um produto que veio para piorar toda a situação que a gente tem em relação ao tabagismo."
O estudo indica que o câncer de pulmão representa gastos de cerca de R$ 9 bilhões por ano, que envolvem custos diretos com tratamento, perda de produtividade e cuidados com os pacientes. JĂĄ a indĂșstria do tabaco cobre apenas 10% dos custos totais com todas as doenças relacionadas ao câncer de pulmão no Brasil, da ordem de R$ 125 bilhões anuais.
"O tabagismo não causa só o câncer de pulmão, mas leva à destruição dos dentes, lesões de orofaringe, enfisema [doença pulmonar obstrutiva crônica], hipertensão arterial, infarto agudo do miocĂĄrdio, acidente vascular cerebral [AVC] ou derrame. Ele causa uma quantidade enorme de outras doenças que elevam esses valores significativos de gastos do setor pĂșblico diretamente, tratando as pessoas, e indiretos, como perda de produtividade, de previdĂȘncia, com aposentadorias precoces por conta disso, e assim por diante", afirmou Alfredo Scaff.
Para este ano, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima o surgimento no Brasil de 14 mil casos em mulheres e 18 mil em homens. Dados mundiais da International Agency for Research on Cancer (IARC), analisados por pesquisadores da Fundação do Câncer, apontam que, se o padrão de comportamento do tabagismo se mantiver, haverĂĄ aumento de mais de 65% na incidĂȘncia da doença e 74% na mortalidade por câncer de pulmão até 2040, em comparação com 2022.
O trabalho revela também que muitos pacientes, quando procuram tratamento, jĂĄ apresentam estĂĄgio avançado da doença. Isso ocorre tanto na população masculina (63,1%), como na feminina (63,9%). Esse padrão se repete em todas as regiões brasileiras.
O estudo constatou que na Região Sul o hĂĄbito de fumar é muito intenso. O Sul brasileiro apresenta maior incidĂȘncia para o câncer de pulmão, tanto em homens (24,14 casos novos a cada 100 mil) quanto em mulheres (15,54 casos novos a cada 100 mil), superando a média nacional de 12,73 casos entre homens e 9,26 entre mulheres. "VocĂȘ tem, culturalmente, um relacionamento forte com o tabagismo no Sul do paĂs, o que eleva o consumo do tabaco na região levando aĂ, consequentemente, a mais doenças causadas pelo tabagismo e mais câncer de pulmão", observou Scaff.
Apenas as regiões Norte (10,72) e Nordeste (11,26) ficam abaixo da média brasileira no caso dos homens. JĂĄ em mulheres, as regiões Norte, Nordeste e Sudeste ficam abaixo da média brasileira com 8,27 casos em cada 100 mil pessoas; 8,46; e 8,92, respectivamente.
O Sul também é a região do paĂs com maior Ăndice de mortalidade entre homens nas trĂȘs faixas etĂĄrias observadas pelo estudo: 0,36 óbito em cada 100 mil habitantes até 39 anos; 16,03, na faixa de 40 a 59 anos; e 132,26, considerando maiores de 60 anos. Entre as mulheres, a Região Sul desponta nas faixas de 40 a 59 anos (13,82 óbitos em cada 100 mil) e acima dos 60 anos (81,98 em cada 100 mil) e fica abaixo da média nacional (0,28) entre mulheres com menos de 39 anos: 0,26 a cada 100 mil, mesmo Ăndice detectado no Centro-Oeste, revela o estudo.
Em ternos de escolaridade, o trabalho revelou que, independentemente da região, a maioria dos pacientes com câncer de pulmão tinha nĂvel fundamental (77% para homens e 74% para mulheres). A faixa etĂĄria de 40 a 59 anos de idade concentra o maior percentual de pacientes com câncer de pulmão: 74% no caso dos homens e 65% entre as mulheres.
Embora as mulheres apresentem taxas mais baixas de incidĂȘncia e de mortalidade do que os homens, a expectativa é que mulheres com 55 anos ou menos experimentem diminuição na mortalidade por câncer de pulmão somente a partir de 2026. JĂĄ para aquelas mulheres com idade igual ou superior a 75 anos, a taxa de mortalidade deve continuar aumentando até o perĂodo 2036-2040.
Fonte: AgĂȘncia Brasil