A Procuradoria-Geral da República (PGR) concluiu que Domingos e Chiquinho
Brazão mandaram matar Marielle Franco (PSOL), em fevereiro de 2018, para
impedir que ela continuasse a prejudicar os interesses dos irmãos e para
intimidar a atuação do PSOL, partido da vereadora.
Segundo a PGR, a decisão foi tomada na esteira de uma série de ações da
legenda que prejudicavam interesse dos Brazão – desde nomeações para o Tribunal
de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) até a regularização de
loteamentos irregulares em áreas dominadas por milícias na Zona Oeste do Rio de
Janeiro.
Questionamentos a indicações ao Tribunal de Contas do Estado
A PGR aponta que, depois que o PSOL questionou a eleição de Domingos Brazão
para o cargo de Tribunal de Contas do Estado (TCE), ele e o irmão determinaram
que o miliciano Laerte Silva Lima se infiltrasse no PSOL para obter informações
políticas sobre os integrantes do partido.
Mais tarde, em 2017, a legenda conseguiria impedir, na Justiça, a posse
de um correligionário de Domingos Brazão para outra vaga de conselheiro no TCE.
De acordo com a PGR, os Brazão, entretanto, ainda não haviam decidido
reagir de forma violenta ao PSOL por dois motivos:
· Primeiro, porque até então a legenda não havia atuado contra as
políticas de regularização fundiária;
· Segundo, porque a principal liderança do partido na cidade, o hoje
presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, tinha
uma grande projeção política, o que poderia causar uma reação eficiente da
polícia.
Interferência em interesses econômicos dos Brazão
Eleita em 2016, Marielle começa a confrontar as políticas habitacionais que os
irmãos Brazão – por meio de Chiquinho, então vereador – implementavam para
áreas de milícia do Rio de Janeiro.
Marielle também tinha como bandeira regularizar imóveis construídos
ilegalmente, mas voltadas a atender pessoas de baixa renda – e não grileiros e
loteadores que revendem os terrenos nessas áreas de milícia.
A oposição da vereadora a um projeto de lei nesse sentido – que acabou
aprovado por apenas 1 voto – irritaram os irmãos Brazão, e o miliciano Laerte,
que havia sido infiltrado na legenda, passou a monitorar as atividades
partidárias da vereadora.
Laerte contou aos irmãos que Marielle havia convocado reuniões
comunitárias na região de Jacarepaguá, onde os Brazão, segundo a PGR, tinham
ligação com milicianos e desenvolviam atividades de grilagem. A vereadora
também recebeu denúncias de moradores de Rio das Pedras, outra área de
interesse da dupla.
A partir daí, de acordo com a PGR, os irmãos decidiram mandar matar a
vereadora, para desencorajar qualquer oposição aos interesses econômicos da
dupla, atender às necessidades de milícias das quais eram aliados, e intimidar
o PSOL.
Ex-chefe da Polícia Civil deu apoio
intelectual, diz PGR
Para o crime, os Brazão contaram com ajuda de Rivaldo Barbosa, então chefe da
Polícia Civil do Rio de Janeiro. Segundo a PGR, o policial deu apoio
intelectual ao orientar que Marielle não fosse executada durante o deslocamento
que envolvessem a Câmara dos Vereadores – o que poderia atrair investigadores
federais para o caso.
Além dos três, a PGR denunciou, ainda, o policial militar Ronald Alves
de Paula, conhecido como Major Ronald, apontado como chefe de uma milícia na
Zona Oeste do Rio; e Robson Calixto da Fonseca, o Peixe, ex-assessor de Brazão.
Ronald, segundo a PGR, vigiou Marielle e coletou informações que
poderiam ser úteis para o assassinato. Robson, embora não diretamente
relacionado ao assassinato de Marielle, por integrar a organização criminosa dos
Brazão.
O que dizem os denunciados
Até a última atualização desta reportagem, a defesa de Robson Calixto ainda não
tinha se manifestado.
Domingos Brazão
A defesa de Domingos Brazão foi informada, pela imprensa, sobre o
oferecimento de denúncia relacionada ao homicídio de Marielle Franco e Anderson
Gomes. A defesa constituída ainda não teve acesso à acusação e tampouco às
colaborações, porém, ao julgar pelas notícias, a narrativa acusatória é uma
hipótese inverossímil, que se ampara somente na narrativa do assassino
confesso, sem apresentar provas que sustentem a versão do homicida.
Chiquinho Brazão
A defesa do Deputado Federal Chiquinho Brazão esclarece que ainda não
teve acesso à Denúncia formulada pela PGR, como também ainda não conhece os
termos das delações citadas no relatório da PF. Assim, ainda não é possível
fazer um juízo de valor sobre as acusações.
Rivaldo Barbosa
Os advogados Marcelo Ferreira e Felipe Dalleprane afirmaram que causou
estranheza à defesa esse tipo de procedimento porque, segundo a notícia, a
denúncia teria sido apresentada no dia 7, mas fomos ao STF no dia 8, para
protocolar pedido de revogação da prisão preventiva do Rivaldo Barbosa, e não
existia informação nos autos sobre o protocolo de nenhuma peça da PGR. A defesa
de Rivaldo Barbosa afirmou também que é estranho o fato de nenhum dos
investigados terem sido ouvidos antes da denúncia da PGR, em total afronta a
determinação judicial do STF, de oitiva dos investigados logo após a prisão. No
caso específico do RIVALDO, a narrativa de um réu confesso de homicídio (Ronnie
Lessa) parece mais importante do que o depoimento de um delegado de polícia com
mais de 20 anos de excelentes serviços à segurança pública do RJ, que sequer
teve a chance de expor sua versão sobre os fatos antes de ser denunciado. Sobre
o mérito da acusação, os advogados informaram que irão se posicionar
oportunamente, tão logo tenham acesso ao teor da denúncia.
Major Ronald
A defesa de Ronald Paulo Alves Pereira, capitaneada pelo escritório Igor
de Carvalho, esclerece que foi surpreendida pela informação da inserção de seu
cliente, como acusado, no processo que apura a morte da vereadora Marielle e de
Anderson.
Sobretudo porque, após detida análise do relatório final da
investigação, disponibilizado pelo Supremo Tribunal Federal, fica evidente que
a própria Polícia Federal afirmou a total ausência de elementos que
corroborassem as palavras do criminoso confesso e delator Ronnie Lessa, no
tocante à participação do cliente deste escritório.
Portanto, causa elevada estranheza a conduta da Procuradoria Geral da
República ao oferecer denúncia e requerer prisão, haja vista o pequeno prazo
entre o término da longeva investigação (que concluiu inexistir provas contra Ronald)
e a denúncia.
Ressalte-se que, assim que houver maiores informações acerca dos motivos
que levaram a tal inusitada situação, posto que esse escritório ainda não teve
acesso ao conteúdo do processo, a defesa trará à sociedade as provas que
refutam tais infundadas acusações.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/