Com votação pautada para esta quarta-feira (8) na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) do Senado, o projeto de lei 3.334/2023 tem despertado reações
contrĂĄrias de especialistas e entidades que defendem a pauta ambiental.
A proposta, discutida em meio aos desastres climĂĄticos que devastaram o
Rio Grande do Sul, permite a redução da reserva legal em imóveis rurais
localizados em municípios da Amazônia Legal.
O texto prevĂȘ que imóveis rurais localizados em ĂĄreas de florestas na
Amazônia Legal podem reduzir sua cobertura mínima de vegetação de 80% para até
50%.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, os impactos da eventual redução
representam um desmatamento potencial de pelo menos 28,1 mil hectares, ou
281.661 kmÂČ — o equivalente a todo o território do estado do Tocantins.
O ministério informou, por meio da Nota Técnica n° 32/2024 da Secretaria
de Controle do Desmatamento do MMA, que esta ĂĄrea equivale a 31 vezes a última
taxa de desmatamento registrada na Amazônia Legal pelo Prodes/Inpe (9.001 kmÂČ),
relativa ao período de agosto de 2022 a julho de 2023.
"A derrubada de 28,17 milhões de hectares representaria a emissão de
14.540.133.300 ton eqCO2, ou mais de sete vezes a emissão total anual do
Brasil", disse a pasta, por meio de nota.
"A mudança tornaria inviĂĄvel o cumprimento das metas do Plano de Ação para
Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), que tem o
objetivo de zerar o desmatamento até 2030", concluiu.
A matéria é de autoria do senador Jaime Bagattolli (PL-RO) e tem
relatório favorĂĄvel do senador Marcio Bittar (União-AC). O texto modifica a Lei
12.651/13 do Código Florestal.
Caso aprovada, a medida fica vĂĄlida apenas para o estado ou o município
que tiverem mais de metade do território ocupado por unidades de conservação da
natureza de domínio público, por terras indígenas ou por ĂĄreas de domínio das
Forças Armadas.
Para Suely Araújo, ex-presidente do Ibama e coordenadora de políticas
públicas do Observatório do Clima, o projeto de lei "péssimo" e pode ter
efeitos muito negativos para o meio ambiente.
José Bezerra, mestre em saneamento ambiental, chama a atenção para o
impacto que a nova lei poderia causar no médio e longo prazos, com influĂȘncia
na paisagem ambiental e interferĂȘncia climĂĄtica na fauna e flora locais.
"Do ponto de vista de atender à
necessidade humana, deveríamos seguir rigorosamente um modelo de
desenvolvimento sustentĂĄvel, através do manejo, para que as exigĂȘncias legais
de proteção das ĂĄreas definidas sejam cumpridas", sugere Bezerra.
O relator do projeto, senador MĂĄrcio Bittar defendeu o texto e afirmou
que os 30 milhões de brasileiros que vivem na região amazônica vão ser beneficiados
com a aprovação da pauta.
Ao ser questionado sobre críticas à proposta, no contexto em que a
população do Rio Grande do Sul é vítima dos impactos causados pelas mudanças
climĂĄticas, o parlamentar afirmou que, segundo os especialistas que ele consulta,
as ações do homem tĂȘm "impacto zero" nas mudanças climĂĄticas.
"Especialistas "do outro lado" dizem que a capacidade do homem de
alterar as mudanças climĂĄticas em nível planetĂĄrio é zero. Essa inundação que
estĂĄ acontecendo no Rio Grande do Sul jĂĄ ocorreu em 1961, e até com um pouco
mais de intensidade. Portanto, o que eu sei que tem muitos especialistas e ONGs
recebendo milhões da Noruega, Alemanha e CanadĂĄ e que se dizem preocupados com
a questão ambiental, mas que estão preocupados com a questão econômica", disse
o senador.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/