Lula (PT), Janja e Macron participaram
de evento da Marinha, em 27 de março, quando a esposa de Lula, acompanhada pelo
comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, subiu uma escadaria com
um espumante na mão e quebrou a garrafa no casco do S-42, o submarino Tonelero,
em Itaguaí, no Rio. Trata-se do gesto tradicional de batismos em embarcações. A
cerimônia teve discurso de Lula: "Nesse estaleiro de Itaguaí vislumbramos a
imensidão do espaço marítimo brasileiro".
Mas
no dia seguinte
..
Entretanto, de acordo com reportagem do jornalista Marcelo Godoy, em sua coluna
de hoje (29/4), no jornal "O Estado de São Paulo", um dia depois do encontro
entre Emmanuel Macron e Luiz Inácio Lula da Silva, no lançamento do Tonelero, a
Marinha teve bloqueados 83% dos recursos destinados justamente ao Prosub, o
programa estratégico de desenvolvimento de submarinos da Marinha.
Aliás, na verdade, o decreto com o
bloqueio dos recursos, assinado por Lula e pelos ministros Fernando Haddad
(Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), foi publicado no dia 28 de março
(quando aconteceu o batismo). Ou seja, enquanto Janja banhava o Tonelero com
espumante no dia 27, os cortes eram assinados pelos ministros.
O
projeto
Ele prevê a construção de quatro embarcações convencionais da classe Scorpène,
produzidos em parceria com a França, em Itaguaí. E também a edificação ali da
base naval que abrigará o grupo, inclusive uma quinta embarcação, a mais
importante de todas, o Álvaro Alberto, primeiro submarino a propulsão nuclear do
País.
Como resultado dos atrasos e cortes e
bloqueios de verba do programa, a Itaguaí Construções Navais (ICN) anunciou a
demissão de 200 trabalhadores engajados na construção dos submarinos.
Ainda de acordo com a reportagem, parte
desses homens e mulheres assistiu à festança de Lula, Janja e Macron. "Eu te
batizo, submarino Tonelero. Que Deus abençoe esse submarino e todos os
marinheiros que aqui navegarem", disse a Janja, ao quebrar a garrafa no casco,
na cerimônia do dia 27.
O Estadão apurou que outros 400
funcionários podem perder o emprego em Itaguaí no segundo semestre se a conta
do Prosub não for paga pelo governo.
As
contas
A dotação orçamentária da Marinha para 2024, considerando-se o programado
apenas para o custeio e para os investimentos é de R$ 3,1 bilhões ou 27% do destinado
ao Ministério da Defesa (MD).
Desse total, R$ 1,01 bilhão estava
reservado para o custeio e R$ 2,08 bilhões para investimentos da Força Naval.
Os dados mostram que dos R$ 3,1 bilhões programados para custeio e
investimentos, a Força teve uma redução de R$ 466,8 milhões (13,1%). Foram R$
168,9 milhões de recursos de custeio (14,2%), aquele que paga, por exemplo, as
contas de água e de luz, e R$ 297,9 milhões reservados para investimento
(12,5%).
Parte dessa perda aconteceu em dois
cortes. O primeiro ocorreu em março. Ele foi de R$ 168 milhões e atingiu todos
os setores da Marinha. Logo depois, veio a decisão da Junta de Execução
Orçamentária (JEO) do governo de bloquear R$ 446 milhões das despesas
discricionárias do Ministério da Defesa.
Este, por sua vez, definiu que quase
metade desse valor seria absorvido pela Marinha, que entrou com R$ 199,9
milhões para "pagar a conta", cujo impacto será totalmente absorvido pelo
Prosub. O atraso desse projeto é apenas uma parte dos prejuízos vislumbrados
pelo almirantado e por seus parceiros.
Futuro?
Caso permaneça o cenário atual, a Marinha teme que o Naval Group (grupo
industrial francês especializado em projeto, desenvolvimento e construção de
defesa naval) interrompa o fornecimento de material para a construção do último
submarino convencional previsto pelo programa (Angostura).
Além disso, arrisca-se o atraso na
construção da infraestrutura de apoio ao submarino nuclear, o Complexo de
Manutenção Especializada. Pelos cálculos aos quais a coluna teve acesso, cada
ano de atraso na edificação do complexo naval de Itaguaí representaria um gasto
extra de R$ 150 milhões com manutenção das instalações, apoio operacional e
plano básico ambiental.
Por enquanto, o Prosub já consumiu R$
50 bilhões em 15 anos – quase uma Itaipu. Para o almirantado, sua
inviabilização resultaria em perda não só de recursos, mas em um desastre para
o desenvolvimento tecnológico do País.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/