A bola da reforma tributária está com o
Congresso Nacional. Deputados e senadores podem chutar para o gol, mas o
movimento visto até agora é um pouco esquisito.
Muitos têm caminhado para o outro lado
do campo e indicam até desejo de marcar, mas contra. Se chutarem contra a nossa
economia, o Brasil poderá sair desse jogo com o maior imposto do mundo.
As 360 páginas e os 499 artigos do
projeto de regulamentação da reforma tributária chegaram às mãos da Câmara e
Senado como um fato histórico para a economia brasileira, mas também como risco
potencial de uma grande derrota da sociedade.
Bernard
Appy, o brasileiro que mais lutou pela reforma tributária, estima que a
proposta entregue resultará em uma alíquota média do Imposto sobre Valor
Agregado, o IVA, de 26,5%.
O número, porém, pode oscilar de 25,7%
ao máximo de 27,3%. Tudo vai depender do texto final aprovado pelo
Congresso.
Os números parecem demasiadamente
abstratos na nossa economia que tem um sistema de impostos que mais parece o
Frankenstein.
Para o leitor e leitora entenderem do
que se trata: a Hungria tem o maior IVA do mundo, com 27%, segundo dados da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ou seja, a
média esperada por Appy colocaria o Brasil como segundo maior imposto do mundo.
O secretário extraordinário para a
reforma tributária reconhece, porém, que o texto pode mudar – e para pior.
Se o Congresso oferecer mais benefícios
tributários a alguns setores, a alíquota geral sobe. São os gols contra que
dariam ao Brasil o título de maior imposto do mundo, com os 27,3% estimados.
É fácil entender esse placar. A
alíquota que vamos pagar sobe sempre que o Congresso Nacional conceder novos
desconto nos impostos para setores e produtos escolhidos.
É exatamente como no cinema ou em um
show. Quanto mais pessoas pagarem meia-entrada, mais caro será o valor do
ingresso cheio.
O texto entregue aos deputados prevê,
por exemplo, que o mais famoso remédio para disfunção erétil – o citrato de
sildenafila, mais conhecido pelo nome comercial "Viagra" – terá imposto zero.
Cialis, Botox, cloroquina e ivermectina também terão tratamento diferenciado.
A lista de benefícios tributários tem
muitos itens que merecem tratamento diferenciado, inclusive com imposto zero.
Mas será que a condição se aplica a todos os itens?
A lista tem 63 páginas com 1.612
categorias de produtos e serviços; que vão do arroz à vacina atenuada contra a
varicela e passa por esterco animal, implantes cocleares, roteadores seguros
para internet, explosivos de emprego militar e licenciamento de direitos
conexos de artistas intérpretes ou executantes em obras audiovisuais.
Congresso, a bola está com você.
Fonte: CNN