A AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) tem maioria dos votos dos
diretores para manter a proibição sobre a comercialização, fabricação,
armazenamento, transporte e propaganda dos cigarros eletrônicos no Brasil. A
votação foi iniciada nesta sexta-feira (19).
É importante destacar que a discussão no Congresso sobre drogas ilícitas
é diferente do debate da Anvisa, que não criminaliza o uso de cigarros
eletrônicos no Brasil. O que estĂĄ em questão é a criação de normas para
comercializar o produto no país de forma geral.
Esse resultado ocorreu durante reunião da Diretoria Colegiada (Dicol) da
Anvisa, com trĂȘs votos, até o momento, contra a regulamentação dos chamados
"vapes".
A opinião geral dos diretores que votaram a favor da proibição
considerou que as políticas de saúde devem desestimular e até mesmo proibir o
uso dos cigarros eletrônicos.
Eles acreditam, ainda, na ausĂȘncia de dados científicos quanto a uma
possível "redução de danos" com uso de vapes em comparação com os cigarros por
combustão, porque hĂĄ dados sobre um aumento no número de adolescentes e jovens
adultos usando cigarros eletrônicos.
Durante a reunião virtual, a Dicol acatou a sugestão da diretora Danitza
Buvinich, que permite a importação de vapes apenas por parte de institutos de
pesquisa credenciados, para que possam elaborar novos estudos sobre o produto.
Antes de votar, o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres,
leu textos com opiniões diversas sobre o tema, tanto contra quanto a favor da
proibição dos cigarros eletrônicos.
Dentre os posicionamentos pela manutenção do veto, são destaques o do
Conselho Federal de Medicina (CFM) e uma carta assinada por vĂĄrios ex-ministros
da Saúde, tais como José Serra (PSDB), Humberto Costa (PT) e Luís Henrique
Mandetta (União Brasil).
Os médicos argumentam que os cigarros eletrônicos causam vícios,
amplificam danos, aumentam a dependĂȘncia e não podem ser considerados como
tratamentos alternativos para redução de danos aos usuĂĄrios de cigarros
convencionais.
Secretarias estaduais de Saúde e alguns dos ministérios do governo
federal também se manifestaram a favor de manter a posição atual da Anvisa
quanto aos vapes, com destaque para as pastas da Saúde e da Justiça.
Por outro lado, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(Abrasel) enviou mensagem que pede o fim da proibição dos cigarros eletrônicos.
Eles defendem um controle de qualidade do produto por parte da Anvisa, ao
considerar que os vapes jĂĄ são comercializados e encontrados com facilidade no
Brasil.
A Abrasel alega ainda que uma regulamentação deste comércio permite o
aumento da arrecadação de tributos.
Barra Torres trouxe ainda a opinião do ex-diretor da Anvisa Alex Machado
Campos, que fala de um problema social em que "não hĂĄ medida efetiva" para
encontrar uma solução, tanto no objetivo de proibição, quanto no sentido de
conscientização pela saúde.
Desde 2009, esses dispositivos não podem ser vendidos no país. Apesar
disso, são facilmente encontrados no comércio popular ou online e o consumo,
especialmente entre os jovens, só aumenta, com sérias consequĂȘncias para a
saúde.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 2% dos adultos tĂȘm
consumido dispositivos de fumar no Brasil e isso não tem se alterado nos
últimos anos, mas nos chama atenção a proporção de jovens que experimentaram os
dispositivos eletrônicos. Entre 16 e 17 anos, 23% dos jovens jĂĄ experimentaram
os vapes.
AudiĂȘncia pública
Antes da votação, a Anvisa realizou uma audiĂȘncia pública virtual, que
transmitiu vídeos com manifestação de pessoas favorĂĄveis e contrĂĄrias à
proibição do vape, o que incluiu também usuĂĄrios do produto.
Durante a audiĂȘncia da Anvisa, a diretora do Departamento de AnĂĄlise
Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis do Ministério da
Saúde, Letícia Cardoso, defendeu que a pasta é a favor da manutenção da
proibição dos cigarros eletrônicos.
"O que os dados de mortalidade tĂȘm mostrado é que, nos últimos 12 anos,
houve aumento de 24% de óbitos por EVALI (sigla em inglĂȘs: lesão pulmonar
associada ao uso de cigarro eletrônico) na população brasileira. Tanto cigarros
eletrônicos quanto os cigarros convencionais de tabaco apresentam risco à saúde
e não devem ser consumidos pela população. Até o momento não hĂĄ evidĂȘncia
científica de que os cigarros eletrônicos protegem ou substituem os danos dos
cigarros normais", comentou.
Os principais argumentos apresentados favorĂĄveis à regulamentação foram:
– cigarros eletrônicos ajudam a largar o tabagismo;
– regular vai proteger a população de efeitos tóxicos dos produtos
clandestinos e insumos sem controle;
– prevenir o contrabando;
– aumento da arrecadação de tributos.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/