De quatro em quatro anos, em média, o investidor em criptomoedas tem sua
própria "Copa do Mundo": o "halving" do bitcoin.
Halving é a expressão em inglês para "dividir pela metade". Quando
acontece um halving, a remuneração de quem minera bitcoins é dividida ao meio,
como uma forma de controlar a quantidade da criptomoeda em circulação.
O criador do bitcoin (que ninguém sabe quem é, mas que é conhecido pelo
pseudônimo Satoshi Nakamoto) definiu, lá no início do projeto, que o bitcoin
precisaria ser um ativo escasso e só haverá 21 milhões de bitcoins em
circulação.
A mineração é a única forma pela qual novos bitcoins são colocados em
circulação. O trabalho do minerador é encontrar e validar as informações das
transações com bitcoin. Isso serve para manter a segurança da rede.
Cada transação que ocorre dentro da rede do bitcoin, equivale a um
bloco. A cada bloco correto que é validado pelo minerador, ele recebe uma
remuneração em bitcoins. Ao longo do tempo, a cada halving do bitcoin, a
recompensa por essa operação foi diminuindo.
Em 2008, eram 50 bitcoins por cada bloco minerado;
Em 2012, eram 25 bitcoins;
Em 2016, eram 12,5 bitcoins;
Em 2020, eram 6,25 bitcoins.
Agora, em 2024, a remuneração passará a ser de 3,125 bitcoins por bloco
minerado.
O que é o halving
Para entender o que é o halving, é necessário dar um passo atrás e compreender
como a rede do bitcoin foi desenhada.
A ideia inicial da criptomoeda era provar que um sistema financeiro
poderia funcionar de forma segura, sem a interferência de um banco central (que
tem a possibilidade de imprimir dinheiro para financiar mais gastos do
governo).
Theodoro Fleury, diretor de investimentos na QR Asset, lembra que o
bitcoin surgiu como um "experimento anarcocapitalista" — uma ideologia
político-econômica que defende a soberania do indivíduo e o livre-mercado.
A emissão de moeda é muito criticada por essa ala do mercado porque, ao
ter mais dinheiro em circulação sem um aumento da oferta de produtos, a
inflação tende a disparar.
Para isso, Satoshi Nakamoto criou uma rede descentralizada (ou seja, sem
um banco central comandando), em que cada transação financeira é registrada por
meio da tecnologia de "blockchain".
O blockchain uma espécie de grande "livro contábil" que registra vários
tipos de transações e possui seus registros espalhados por vários computadores,
que registra o envio e recebimento de valores. O minerador é quem verifica se
os dados envolvidos naquela transação estão corretos, e recebe uma recompensa
para isso.
UM EXEMPLO PRÁTICO:
Se um usuário vai transferir para outro um valor X de bitcoins por algum
produto ou serviço, o trabalho do minerador é verificar se essa pessoa que está
transferindo tem a quantidade necessária em conta e se os dados das partes
envolvidas estão certos. A missão é garantir a correção da transação.
Se o minerador identifica que o bloco é verdadeiro — ou seja, que todas
as informações da transação estão corretas —, ele é incorporado à rede do
bitcoin e recebe um código criptografado. Para hackear qualquer bloco da rede,
então, seria necessário desvendar a criptografia de todos os códigos que vieram
antes dele. E é assim que a rede se mantém segura.
Os mineradores são recompensados por casa bloco verdadeiro identificado.
É somente dessa maneira que mais bitcoins são colocados em circulação no
mercado. Desde o último halving, cada bloco dá recompensa de 6,25 bitcoins.
Cada halving acontece quando 210 mil blocos são incorporados à rede — o
que leva, em média, quatro anos.
Por que o halving acontece
O halving acontece para que o bitcoin continue sendo um ativo escasso, explica
Theodoro Fleury. A lógica do mercado é que, quanto maior a escassez de um ativo
financeiro, maior será o seu valor.
"Essa é justamente uma das qualidades do bitcoin como ativo, que é a
escassez. Ele foi desenhado para ser um ativo escasso. Depois desse próximo
halving, ele vai ser mais escasso que o ouro", diz o especialista.
Quando o limite de 21 milhões de bitcoins em circulação for atingido, só será
possível ter a criptomoeda comprando ou recebendo de outra pessoa. Então, o
preço praticado seguirá a tradicional lei da oferta e demanda: se mais gente
estiver procurando do que vendendo, o preço sobe, e se mais gente estiver
vendendo do que procurando, o preço cai.
De fato, com a proximidade de mais um halving e essa percepção de
escassez segue aumentando, o bitcoin vive um ciclo de alta nos últimos meses.
O bitcoin teve uma valorização de quase 40% desde o início do ano e a
expectativa do mercado é que os próximos meses, após o halving, ele continue
tendo um avanço de preço, repetindo o que aconteceu nas últimas vezes.
A criptomoeda chegou a atingir seu pico histórico há pouco mais de um
mês, quando ficou cotada a US$ 73 mil em 13 de março. Mas o preço do bitcoin
não depende só de si.
A ameaça de escalada do conflito no Oriente Médio e dados mais fortes da
economia americana — que fizeram o Federal Reserve (Fed, o banco central dos
EUA) reavaliarem o momento de baixar os juros do país — criaram um cenário de
maior cautela com investimentos.
Nesse contexto, a aversão aos ativos de risco cresceu, com o mercado
buscando produtos com maior segurança e menos volatilidade. O bitcoin, com todo
o vaivém das cotações, já devolveu parte dos seus ganhos e, atualmente, está em
torno dos US$ 60 mil, uma queda de cerca de 10%.
"É claro que isso tem uma influência sobre o preço do bitcoin, assim
como em outros mercados, mas é uma influência de curto prazo. Não vejo isso
atrapalhando a visão positiva para os preços depois do halving", comenta
Fleury, QR Asset.
Mas é por conta dessa volatilidade e alta sensibilidade aos assuntos
macroeconômicos e políticos que o especialista alerta que é preciso ter muita
cautela antes de investir.
"O bitcoin é um ativo volátil, com altas e baixas acentuadas. É um ativo
que pode cair 50% de repente. Então você deve colocar ali um dinheiro que, se
você vir caindo pela metade, não vai te incomodar. O risco é o investidor
colocar mais do que ele aguenta", destaca.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/