O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) prometeu
apresentar, nesta sexta-feira (19/4), uma proposta específica para o setor da
educação, como resposta à mobilização de servidores de universidades e
institutos federais por reajuste salarial. Nas últimas semanas, o movimento foi
fortalecido, com várias instituições de ensino superior do país aprovando
paralisações e docentes entrando em greve.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se elegeu com a promessa de
valorização da educação e dos professores. Essa promessa de campanha, somada à
concessão de reajustes a categorias mais ligadas ao governo anterior, inflou a
insatisfação dos servidores da educação e eles intensificaram as pressões sobre
a gestão federal para mais investimentos e melhores condições de trabalho.
Ao mostrar expectativa com um acordo, o secretário de Gestão de Pessoas
do MGI, José Celso Cardoso Jr., pediu aos servidores reconhecimento do esforço
que o governo federal tem feito. As declarações dele foram dadas na última
terça-feira (16/4), em audiência na Câmara dos Deputados.
"A gente espera conseguir
oferecer uma proposta suficiente, ou próximo disso, para fechar o acordo. Porque
é óbvio que a gente considera a greve legítima, em um contexto democrático. Mas
é óbvio também que é preciso reconhecer o esforço que está sendo feito pelo
governo para dar prioridade e, mais do que isso, centralidade política para
esse tema, coisa que raramente aconteceu na história do Brasil", afirmou ele.
O secretário destacou a reabertura da Mesa Nacional de Negociação
Permanente, ainda no início de 2023, que negocia o conjunto das demandas dos
servidores do Executivo federal, e a criação das mesas específicas para tratar
temas e especificidades das diversas carreiras do setor público.
"É muito importante manter essa conexão direta de comunicação do governo
com a sociedade por meio dos canais institucionais existentes. E com o governo
respeitando o direito de greve, encarando as negociações com a maior seriedade
e compromisso", destacou.
Reestruturação de carreiras
Além do reajuste nas remunerações, os servidores da educação pedem a
reestruturação de carreiras. Para José Celso, a pauta é necessária e mudanças
serão feitas. No entanto, ele alertou que o pedido "não é pouca coisa", por
envolver aspectos não apenas orçamentários, mas também técnicos, relativos à
forma de organização e funcionamento da carreira. "É uma discussão complexa,
uma discussão que não se esgota no curto prazo", afirmou.
José Celso adiantou que a proposta que o governo irá apresentar é "muito
convergente com o que saiu do relatório do grupo de trabalho, que tem o
respaldo das entidades que estavam ali presentes".
O grupo de trabalho (GT) mencionado pelo secretário reúne representantes
dos Ministérios da Educação e da Gestão, das universidades e demais
instituições de ensino, além das entidades sindicais que representam os
servidores do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação
(PCCTAE).
Em 27 de março, o relatório final do grupo de trabalho que debateu a
reestruturação do PCCTAE, que trabalham nos institutos e universidades
federais, foi entregue oficialmente à ministra da Gestão e da Inovação em
Serviços Públicos, Esther Dweck, e ao ministro da Educação, Camilo Santana.
O PCCTAE contempla um vasto contingente de servidores alocados nos
institutos federais técnicos e tecnológicos e nas universidades federais, em
todo o país.
O relatório do GT serviu como insumo para a proposta do governo de
reestruturação da carreira, que será apresentada aos servidores nesta sexta na
Mesa Específica de Negociação.
Reunião com Lula
Na semana passada, representantes da Associação Nacional dos Dirigentes das
Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) se reuniram com o presidente
Lula no Palácio do Planalto, por mais de duas horas.
A diretoria da Andifes defendeu a importância de valorização dos
servidores técnicos-administrativos em educação e docentes; assistência
estudantil; e a transformação dos centros Federal de Educação Tecnológica do
Rio de Janeiro (Cefet-RJ) e de Minas Gerais (Cefet-MG) em universidades
tecnológicas. Também destacou a autonomia das universidades federais seguindo o
exemplo das universidades de São Paulo, onde há estabilidade orçamentária
anual, além da garantia constitucional na nomeação de reitoras e reitores.
Para além destas reivindicações, a categoria também aponta a necessidade
de recomposição do orçamento das universidades federais.
Em nota divulgada no começo desta semana, a Andifes afirmou que "tem
acompanhado de perto" as reivindicações dos técnicos-administrativos e dos
docentes e espera que as negociações sejam resolvidas "de forma satisfatória
para todos e para a sociedade o quanto antes". "A greve é um direito
constitucional garantido aos trabalhadores", frisou.
Balanço
Segundo o último levantamento divulgado pela Andifes, das 69 universidades
federais, 16 estão em greve e 22 ainda farão assembleia nos próximos dias.
Cinco estão "em estado de greve", o que significa que já têm aprovação da
assembleia e podem entrar em greve a qualquer momento. Há ainda cinco
universidades com indicativo aprovado.
Dos dois centros federais de educação tecnológica representados pela
Andifes, o de Minas Gerais está em greve e o do Rio de Janeiro aprovou um
indicativo.
Já de acordo com o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da
Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), mais de 480 unidades de
ensino, entre institutos e colégios, foram afetadas pela greve em 24 estados.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/