O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça deu uma bronca em
uma advogada durante uma audiĂȘncia de conciliação entre representantes da
sociedade civil, do MDB e do PSD com o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes
(UB). A audiĂȘncia ocorreu no último dia 2 de abril e foi encerrada de maneira
abrupta.
Na ocasião, o magistrado tirou a
palavra da advogada Nilma Silva, presidente da Associação de Segmento de Pesca
do estado, após ela acusar Mendes de ter interesse direto em uma lei sancionada
no estado, que, agora, tenta validar perante o Supremo.
"Doutora, a senhora estĂĄ cassada a
palavra. A senhora não tem decoro. A senhora realmente consegue ultrapassar os
limites. Eu peço, governador, não vamos entrar mais em questões, não serĂĄ mais
concedida a palavra a ninguém", disse o ministro, conforme ĂĄudio obtido pela
jornal Folha de S. Paulo.
Pouco antes, o ministro repreende um
dos presentes sobre gravar a audiĂȘncia. "O senhor não estĂĄ gravando, não, né?
Isso aqui não é espaço político", disse.
Mendonça ouvia
sobre legislação de pesca
A legislação contestada na corte veda a
pesca artesanal em Mato Grosso. A justificativa de Mendes era de que a
legislação iria dobrar o turismo de pesca esportiva, com potencial para atrair
e gerar empregos.
Além disso, o Executivo estadual
mencionava o risco a espécies de peixes com a continuidade da pesca artesanal,
que ficaria vedada por 5 anos a partir de 2024.
Antes de fazer a acusação, Nilma Silva
pediu ao ministro que suspendesse a norma para que se começasse um "programa de
sociogestão com as comunidades ribeirinhas para identificarmos se hĂĄ
necessidade de proibição da pesca ou não".
"Sabemos que os vilões não são esses,
são os garimpos, as dragas, as usinas, o mercúrio e outras propriedades, além
de interesses, como vinculam jornais no Mato Grosso, para construção de usina da
família do governador Mauro Mendes", disse a advogada na audiĂȘncia.
Contudo, o ministro afirmou que "o
direito de voz nós conquistamos e precisamos ter responsabilidade diante do
STF".
"Quero lamentar algumas cenas que
presenciei aqui hoje. Eu caminhei uma milha, duas milhas, trĂȘs milhas com todos
os senhores tentando buscar uma equação. Fui criticado na imprensa por estar
postergando definição e buscando consenso. Então, se não hĂĄ responsabilidade
nessa busca do consenso como hoje presenciei aqui, eu quero lamentar", disse o
magistrado.
Por meio de nota, o gabinete do
ministro afirmou que o ministro realizou a audiĂȘncia "na tentativa de obter uma
solução consensual", mas que "não teve ĂȘxito, pois não houve entendimento entre
as partes".
Informou ainda que pediu um parecer à
PGR (Procuradoria-Geral da República) sobre o tema e que, depois, tomarĂĄ uma
decisão no processo.
Pesca proibida
A legislação proposta por Mendes foi
alvo de ação do PSD e do MDB no STF. Mendonça foi sorteado relator e decidiu
realizar audiĂȘncias de conciliação a fim de encontrar um consenso entre as
partes.
À época, o Ministério da Pesca se opôs
e afirmou que priorizar a pesca amadora e esportiva em detrimento da artesanal
era uma infração à lei nacional sobre o tema.
A pasta do governo federal afirmou,
ainda, que a principal razão pela morte dos pescados não é o trabalho dos
pescadores, mas a construção de barragens e usinas hidrelétricas.
No começo de fevereiro, o governo
estadual apresentou nova lei para proibir a pesca de mais de 100 espécies, mas
autorizar a de outras 12.
A Assembleia Legislativa local aprovou
a norma, que liberava atividades de povos originĂĄrios que tenham a pesca como
meio de subsistĂȘncia e a atuação de profissionais artesanais nos rios da
região, desde que atendidos alguns critérios.
O gabinete do ministro do STF divulgou
um termo da audiĂȘncia assinado pelo juiz vinculado a Mendonça, Fernando
Ximenes. No documento, ele não relata o entrevero com a advogada e apenas
menciona os presentes na reunião, como os representantes dos partidos, do governo,
da Assembleia Legislativa, do governo federal e dos partidos.
"Frustrada a conciliação, diante do
impasse irredutível entre as partes, ao final, sua excelĂȘncia o ministro André
Mendonça declarou encerrada a fase conciliatória preliminar dos presentes autos
e encaminhou o processo para decisão", diz o texto.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br