Na próxima quarta-feira (17), o Supremo Tribunal Federal (STF) retoma debate
antigo a respeito das restrições impostas por lei para a realização de
laqueaduras e vasectomias.
Atualmente, mulheres e homens que tenham mais de 21 anos ou que
tenham dois filhos vivos têm direito à esterilização voluntária. Isso se deve à
mudança na Lei do Planejamento Familiar, aprovada em setembro de 2022, no
Congresso Nacional.
A nova lei entrou em vigor em março de 2023. A ação, apresentada
pelo PSB na Corte, é anterior à mudança feita no parlamento. Apesar disso, o
partido sustenta que ainda há mudanças necessárias a serem feitas na norma.
A ação apresentada pelo PSB pede a retirada da exigência de que o
homem ou a mulher tenha dois filhos vivos bem como solicita a redução da idade
mínima para 18 anos. Com a Lei de 2022, foi revogado o requisito mais abusivo
na opinião dos juristas — o da necessidade do consentimento do marido — e
diminuída a idade para 21 anos.
"Houve uma leve melhora, mas nós entendemos que o marco deveria
ser os 18 anos, a capacidade plena", observa Nara Ayres Britto, advogada
representante do Centro Acadêmico de Direito (CADir) da Universidade de
Brasília.
A lei original (9.263/1996), conhecida como Lei de Planejamento
Familiar, era vista como arbitrária por impor requisitos para a realização de
cirurgia de esterilização voluntária (laqueadura e vasectomia). Anteriormente,
exigia-se ser maior de 25 anos ou possuir dois filhos vivos e o consentimento
expresso do cônjuge.
Para os advogados que assinam a ação, as exigências atuais,
mantidas ainda pela norma que saiu do Congresso Nacional em 2022, não são
compatíveis com a Constituição.
"Se há disponibilidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de se
fazer laqueadura, esse tipo de restrição não deveria existir. Sem falar que não
é uma tomada de decisão definitiva, peremptória. Os procedimentos têm
possibilidade de reversão", argumenta Felipe Corrêa, advogado que representa o
PSB Nacional.
A lei ainda institui o tempo de espera de 60 dias entre a solicitação
e a realização do procedimento. "Esse prazo é orientado por equipe
multidisciplinar para desencorajar a esterilização precoce. Já vemos muitos
juízos de valor, porque a lei diz que é precoce e interfere na autonomia do
indivíduo", detalha Nara Ayres Britto.
Ana Letícia Rodrigues, advogada que representa o PSB Nacional,
realizará a sustentação oral da ação no plenário. Ela argumenta que a medida
traz um implícito dever de procriação para as mulheres.
"Especialmente o requisito alternativo de possuir dois filhos
vivos, estabelece um "número ideal" de filhos, o que não se compatibiliza com o
direito à autonomia privada, representando também um efeito simbólico nefasto
acerca do que é esperado socialmente das mulheres, condicionando o exercício da
sexualidade feminina à concepção de filhos", defendeu à CNN.
Outra mudança importante que ocorreu na Lei do Planejamento
Familiar em 2022 foi o fim da exigência de autorização do cônjuge para a
realização de um ou outro procedimento. A mudança impacta ainda mais as
mulheres, pois o número de laqueaduras é cerca de 40% maior do que o de
vasectomias na rede pública de saúde.
Além disso, a alteração feita em 2022 também permitiu que o
procedimento fosse realizado nas mulheres no momento do parto. A possibilidade
teve o intuito de evitar um novo encaminhamento para a cirurgia. No entanto,
para que o procedimento possa ser realizado, a mulher ainda precisa registrar
formalmente o desejo 60 dias antes de ter o bebê.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/