Uma das principais datas do calendário cristão é a Sexta-feira Santa, também
conhecida como Sexta-feira da Paixão. O dia marca a crucificação de Cristo após
ser julgado pelo Sinédrio Judaico e o Senado Romano, e faz parte dos dias
finais da Semana Santa. A semana começa no Domingo de Ramos, que põe fim a
Quaresma — período de 40 dias que prepara para a celebração da paixão, morte e
ressurreição de Cristo — com início na quarta-feira de cinzas, após o carnaval.
A preparação permite lembrar e celebrar a via-sacra ou via-crucis,
que consiste no caminho pelo qual Jesus Cristo percorreu carregando a cruz até
ser crucificado. A prática teve origem no século IV, quando os cristãos iam a
Jerusalém e realizavam o trajeto da Paixão de Cristo. A partir do século XVII
ficou popularizado no mundo inteiro, sendo relembrado anualmente pelas
comunidades cristãs durante a Quaresma e a Semana Santa.
Por recomendação da Igreja Católica, o período é reservado para o
cumprimento de penitências, principalmente nas sextas-feiras, e sobretudo voltadas
à alimentação, podendo ser feito jejum ou abstinência de algum alimento. Pelo
Código de Direito Canônico, conjunto de leis que regem a Igreja, o jejum é
"forma de penitência que consiste na privação de alimentos", enquanto a
abstinência "consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre". Mas,
afinal, por que não pode comer carne vermelha?
O padre José Ulisses Leva, da Capela Sion, no bairro de
Higienópolis, em São Paulo, graduado em teologia e filosofia, doutor em
História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma-Itália) e
professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) explica o
motivo pelo qual é restrito o consumo de carne vermelha nesta preparação. "A
Solenidade da Páscoa, de fato, é fundamental para os cristãos. Na Igreja
Católica se restringe a não comer carne vermelha: na Quarta-Feira de Cinzas e
Sexta-Feira Santa. A carne vermelha recorda o corpo de Jesus Cristo", diz o
professor.
Na liturgia católica, ressalta Leva, o número de dias também é uma
referência ao período de peregrinação de 40 dias de Jesus no deserto, quando,
após ser batizado por João Batista, jejuou, foi tentado pelo diabo por três
vezes e resistiu. A Quaresma é o período em que a igreja se une ao mistério de
Jesus no deserto, uma oportunidade de reflexão sobre a paixão e morte de
Cristo.
Em 2024, a Quaresma começou na quarta-feira, dia 14 de fevereiro,
e teve fim no dia 28 de março. A sexta-feira da paixão acontece hoje, dia 29, e
a Páscoa — ressurreição de Cristo — no domingo, dia 31 de março.
A nutricionista Maria Clara Santana, formada pela Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), destaca que não consumir carne vermelha na
quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa não causa prejuízos à saúde e
sugere alternativas. "Em termos nutricionais não existe prejuízo para a saúde
dessa abstinência, uma vez que é algo pontual e que é um alimento que
conseguimos alimentos substitutos que ofertam nutrientes semelhantes e podem
ser consumidos nesse período", explica.
"A carne vermelha faz parte do grupo de alimentos proteicos, a
substituição pode acontecer com outros alimentos desse mesmo grupo como o
frango e o peixe, sendo o peixe o mais utilizado e orientado pela igreja nesse
período", completa a especialista.
Para os fiéis que realizam a troca da carne vermelha por frango ou
peixe, a nutricionista aponta os benefícios dos alimentos para adultos e
crianças. "As proteínas, principal componente desses alimentos, têm papel
fundamental no crescimento, constituição de órgão, transporte de vitaminas e
até na formação de hormônios. Além de que oferecem uma gama de nutrientes
importantes para o funcionamento adequado do nosso corpo, como as vitaminas do
complexo B, ferro e em especial os peixes ainda oferecem óleos essenciais, como
o ômega 3, tão importante na saúde cardiovascular", ressalta.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br