O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu a um
pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) nesta quarta-feira, 27 de
março, e devolveu o caso Marielle Franco à Polícia Federal (PF) para aprofundar
as investigações.
A informação é do Globo.
A PF terĂĄ mais 60 dias para fundamentar a investigação sobre o assassinato
da ex-vereadora do Rio de Janeiro.
Os dois presos nesta semana acusados de orquestrar o crime, o
conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão, e seu irmão
e deputado federal Chiquinho Brazão, continuarão cumprindo prisão preventiva em
presídios federais.
As lacunas no relatório da PF
O relatório da Polícia Federal que embasou a prisão dos irmãos Domingos
e Chiquinho Brazão, acusados de serem os mandantes do assassinato da vereadora
Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, tem lacunas e não contém provas
que confirmem os encontros dos irmãos Brazão com o ex-policial militar Ronnie
Lessa, contrariando o pacote anticrime aprovado em 2019.
O documento nem sequer estabelece um vínculo entre a família Brazão e o
ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa, acusado de atuar
para obstruir as investigações.
Como registrou a Folha de S.Paulo, a PF atribuiu as dificuldades de
comprovação da delação de Ronnie Lessa ao tempo decorrido do crime, efetuado em
2018, e à atuação de agentes de segurança para encobrir rastros.
"Diante do abjeto cenĂĄrio de ajuste prévio e boicote dos trabalhos
investigativos, somado à clandestinidade da avença perpetrada pelos autores
mediatos, intermediĂĄrios e executor, se mostra bem claro que, após seis anos da
data do fato, não virĂĄ à tona um elemento de convicção cabal acerca daqueles
que conceberam o elemento volitivo voltado à consecução do homicídio de
Marielle Franco e, como consequĂȘncia, de seu motorista Anderson Gomes", diz o
relatório.
"Neste sentido, a concatenação dos fatos trazidos pelos colaboradores,
notadamente Ronnie Lessa, e a profusão de elementos indiciĂĄrios revestidos de
um singular potencial incriminador dos irmãos Brazão são aptos a atribuí-los a
autoria intelectual dos homicídios ora investigados", acrescentou.
Os encontros de Ronnie Lessa com os irmãos Brazão
Assassino confesso da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson
Gomes, Ronnie Lessa relatou à Polícia Federal que teve trĂȘs encontros com os
irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como mandantes do crime, entre
2017 e 2018.
O intermediĂĄrio dos encontros era o ex-policial militar Edmilson de
Oliveira, conhecido como Macalé, que foi morto em 2021 em um caso investigado
como "queima de arquivo".
Os dois primeiros encontros ocorreram nas proximidades do hotel
Transamérica, na Barra da Tijuca, próximo à residĂȘncia dos políticos. Segundo a
PF, nesse local os Brazão discutiram detalhes do crime com os executores.
No terceiro encontro, em abril de 2018, um mĂȘs após o crime, os irmãos
Brazão disseram a Lessa que ele deveria devolver a arma utilizada na execução
de Marielle Franco, uma submetralhadora HK MP5.
O carro usado no crime
Uma das poucas informações dadas por Ronnie Lessa e corroboradas com provas
independentes foi a origem do veículo usado no assassinato de Marielle Franco e
Anderson Gomes.
À PF, o ex-PM disse que um Cobalt com placa clonada foi repassado por
Otacílio Antônio Dias Junior, o Hulkinho, ao ex-bombeiro Maxwell Simões Correa,
o Suel, também acusado de envolvimento no crime.
Hulkinho confirmou à PF o relato de Lessa, mas disse que não sabia como
o veículo seria usado.
O relacionamento de Lessa com a família Brazão
A Polícia Federal também conseguiu provas que corroboram os relatos de
Ronnie Lessa sobre sua relação com a família Brazão. Em depoimento, ele disse
ter conhecido Chiquinho e Domingos Brazão entre 1999 e 2000, através de Macalé.
Desde então, eles teriam mantido contato semanal num haras da família.
Segundo a PF, dois funcionĂĄrios do haras confirmaram ter visto Ronnie
Lessa no local no período indicado.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br