Nesta quarta-feira (20) vai acontecer o julgamento do STJ, o Superior Tribunal
de Justiça, que vai avaliar se aceita ou não se a condenação do ex-jogador
Robinho pela justiça italiana por um estupro em 2013. Segundo o advogado
criminalista Berlinque Cantelmo, se a pena for homologada, Robinho será preso
em seguida.
Robinho foi condenado na Itália a 9 anos de prisão por participar de um
estupro coletivo de uma mulher albanesa em uma festa. Antes da condenação em
última instância, em 2022, ele deixou a Europa. A justiça italiana pede que ele
cumpra a pena no Brasil.
Para Berlinque Cantelmo, advogado especialista em ciências criminais e
sócio do Cantelmo Advogados Associados, Robinho só não será preso imediatamente
se a corte não homologar a decisão italiana ou se houver um pedido de vista.
"Caso não haja pedido de vista por parte de algum Ministro, o STJ encerra a
matéria no julgamento previsto. A defesa de Robinho poderá recorrer da decisão
junto ao próprio STJ, opondo embargos de declaração para sanar omissão ou
contradição que porventura existam. Poderá ainda recorrer ao Supremo Tribunal
Federal, porém nessa circunstância a pena começa a ser cumprida por não haver
previsão de efeito suspensivo a um possível recurso à Corte Suprema".
Assim, caso a pena seja homologada, é feita a expedição de um mandado de
prisão à Justiça Federal do estado de São Paulo, pois o ex-jogador mora em
Santos, que cumprirá a decisão do STJ. Robinho terá direito de pedir um habeas
corpus ao STF, por exemplo, ou poderá se entregar à Justiça.
Basicamente, o STJ vai avaliar se há condições legais para que a
condenação tenha efeito no Brasil, ou seja, não há avaliação do mérito. Se a
corte entender que não há condições de receber a condenação, o processo não
terá sequência no país.
Agora, a decisão cabe ao colegiado da Corte Especial do STJ que, nesta
quarta-feira, terá 12 ministros. São, ao todo, 15 ministros, porém a presidente
do STJ, Maria Thereza de Assis Moura, e o ministro João Otávio de Noronha não
estarão. Com a ausência da presidente, o vice, ministro Og Fernandes assume o
comando, mas não vota.
O julgamento será transmitido pelo canal no Youtube do STJ, às 14h.
Dificuldades legais para cumprimento de pena no
Brasil
O advogado Mozar Carvalho, sócio fundador do escritório Machado de
Carvalho Advocacia, não vê possibilidade de o STF vir a discutir eventual
recurso de decisão do STJ que seja favorável à homologação.
"O STJ vê simplesmente se a sentença estrangeira atende requisitos
formais para ser considerada válida no Brasil". Ele também vê dificuldades
legais para que Robinho cumpra pena no Brasil.
O advogado Andre Kehdi, sócio do Kehdi Vieira Advogados, compartilha
dessa opinião. Para ela, a Lei de Imigração, que criou a possibilidade de
transferência de cumprimento de pena, é posterior ao crime cometido por
Robinho, que ocorreu em 2013, e não deveria retroagir em prejuízo dele.
"Não há autorização legal em vigência"
Além disso, segundo o especialista, essa própria lei estabelece como
requisitos para transferência da execução da pena a existência de tratado entre
os países. Tal tratado não prevê a transferência de cumprimento de pena.
"Ou seja: não há autorização legal em vigência, seja pela Constituição
Federal, seja pela Lei de Imigração seja pelo tratado entre Brasil e Itália,
que autorize a transferência do cumprimento da pena".
Manifestações
A defesa de Robinho argumentou no processo, entre outros pontos, que a
homologação da sentença que condenou o ex-jogador é inconstitucional porque
viola a proibição de extradição de brasileiro nato.
Os advogados sustentam que há violação à soberania nacional, à dignidade
da pessoa humana e à ordem pública brasileira, porque, de acordo com eles, o
processo penal italiano teria utilizado procedimentos de investigação
considerados ilegais no Brasil.
Em publicação em seu perfil no Instagram, na segunda-feira (18), Robinho
disse que é inocente. "A justiça italiana cometeu erros gritantes e gravíssimos
durante todo o meu julgamento. Estou comprometido em provar minha inocência e
lutar pela justiça verdadeira", escreveu.
A posição da PGR
A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou pela possibilidade
de homologação da condenação pelo STJ afirmando que o pedido da Justiça
italiana cumpriu todos os requisitos legais.
O subprocurador Carlos Frederico Santos, que à época era responsável
pelo caso, rechaçou as afirmações dos advogados de que teria havido cerceamento
de defesa e de que a homologação da condenação italiana representaria ofensa à
soberania nacional, à dignidade da pessoa humana e à ordem pública no decurso
do processo penal.
Para a PGR, ao transferir a execução da pena da Itália para o Brasil
"respeita-se a vedação constitucional de extradição de brasileiros natos ao
mesmo tempo em que se cumpre o compromisso de repressão da criminalidade e de
cooperação jurídica em esfera penal assumido com o Estado requerente".
A condenação de Robinho
Robinho foi condenado pelo crime de estupro coletivo contra uma mulher
albanesa em uma boate de Milão, na Itália, em 2013. A sentença definitiva saiu
nove anos depois, em janeiro de 2022, pela mais alta instância da Justiça
italiana.
Um mandado de prisão internacional foi emitido quase um mês depois, em
16 de fevereiro. A acusação utilizou áudio gravado a partir de uma escuta instalada
em um carro, que flagrou uma conversa entre Robinho e seus amigos, o que
possibilitou confirmar a versão da vítima sobre o estupro coletivo.
Fonte: CNN