Com popularidade em queda, o presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva (PT)
conduziu, nesta semana, uma série de reuniões para debater como conseguir uma
redução do preço dos alimentos. Em declarações à imprensa, ministros do
governo, como o da Secretaria de Comunicação da PresidĂȘncia (Secom), Paulo
Pimenta, atribuíram o resultado negativo das pesquisas às falas de Lula sobre a
invasão de Israel na Faixa de Gaza. Em evento na Ăfrica, o presidente diz que
os ataques israelenses são comparĂĄveis à ação de Hitler no Holocausto,
genocídio cometido pelos nazistas contra os judeus na Segunda Guerra Mundial.
"Não vamos deixar de denunciar essa questão [guerra na Faixa de Gaza].
Não vamos alterar nossa opinião sobre Israel por uma questão conjuntural. A
pesquisa foi a campo no dia 24 de fevereiro, de lĂĄ para cĂĄ o cenĂĄrio mudou.
Entendo que a pesquisa reflete uma anĂĄlise do nosso posicionamento sobre
Israel, mas na medida em que o tempo foi passando, houve maior compreensão do
que disse o presidente", afirmou Pimenta.
Apesar de a fala de Lula ter tido algum impacto na imagem do presidente
diante da população, um cruzamento feito pelo SBT News entre os dados de
inflação – medida pelo Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA), calculado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – e as principais
pesquisas de opinião aponta que avaliação do governo Lula oscila conforme o
preço da comida nos supermercados.
O melhor resultado de Lula na pesquisa Genial/Quaest foi em agosto de
2023, quando a aprovação atingiu 60%. O IBGE apresentou quedas consecutivas no
preço dos alimentos em junho, julho, agosto, além de setembro.
No entanto, a partir de outubro do ano passado, o preço da comida não
parou mais de subir. Segundo o governo e especialistas, essa alta na inflação
dos alimentos foi puxada por questões climĂĄticas, como as enchentes no Sul e a
seca no Centro-Oeste. Baixar o valor da comida nos supermercados foi uma das
principais promessas de Lula durante a campanha.
Segundo a pesquisa Genial/Quaest de fevereiro, divulgada no dia 6 de
março, 51% do eleitorado aprovam o governo Lula, uma queda de trĂȘs pontos
percentuais em comparação com dezembro (54%). A parcela dos que desaprovam o
trabalho do chefe do Executivo federal subiu para 46%, ante 43% em dezembro. O
nível de aprovação igualou o resultado negativo de abril de 2023, mas a
desaprovação no mĂȘs passado foi maior.
Outro exemplo dessa relação foi a queda de popularidade em abril de 2023, quando a gestão Lula apresentou os mesmos 51% de fevereiro de 2024. No entanto, com a volta da queda dos alimentos em junho, a popularidade voltou a 56% e com a continuidade dos preços baixos, chegou a 60% em agosto.
Segundo o cientista político Tiago Valenciano, a redução do preço dos
alimentos traz a favor de Lula o eleitor mais ao centro, que não compra
necessariamente o discurso ideológico petista ou da esquerda.
"O eleitor brasileiro, principalmente aquele mais ao centro, que não
pendeu, ideologicamente falando, e votou, principalmente, com base nas questões
voltadas à economia acreditava que a escolha por Lula viria a trazer a
possibilidade de ter uma renda mais justa, ampliada, que fizesse com o que o
salĂĄrio pudesse durar mais até o final do mĂȘs, e ter maior poder de compra
também."
Para o cientista político, a redução do preço dos alimentos sempre foi
uma bandeira de Lula, desde os dois primeiros mandatos, e, se o governo trouxer
o assunto para si, poderĂĄ ter ganhos políticos e eleitorais caso haja uma
redução efetiva dos custos de alimentação.
"Quando o eleitor é questionado e entende, sobretudo, que hĂĄ uma
correlação entre o aumento do poder de compra dele, em virtude da queda dos
preços dos alimentos, com a atuação do presidente da República, existe
possibilidade de Lula ampliar o seu capital político e eleitoral", afirma.
Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (14), os ministros da
Agricultura, Carlos FĂĄvaro, e do Desenvolvimento AgrĂĄrio, Paulo Teixeira,
afirmaram que os preços dos alimentos, como o arroz, devem cair nas próximas
semanas.
"Estamos com a colheita em torno de 10% no Rio Grande do Sul e os preços
aos produtores jĂĄ desceram de R$ 120 para em torno R$ 100 a saca. Esperamos que
essa baixa dos preços se transfira, que os atacadistas abaixem também os preços
na gôndola do supermercado", disse FĂĄvaro.
Em entrevista ao SBT Brasil, Lula admitiu que o governo estĂĄ "aquém" do
que foi prometido em campanha, e um dos principais pontos de melhora citados
pelo próprio presidente é a necessidade de reduzir o preço dos alimentos para
"a sociedade estar feliz com o governo".
"A gente vai começar a colher aquilo que nós plantamos. A sociedade vai
se dar conta de que as coisas vão melhorar. Para a sociedade estar feliz com o
governo, é preciso que a economia esteja crescendo, o salĂĄrio esteja crescendo
e o preço da comida esteja baixando", disse.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br