Desde o ano passado, o Centrão cobra do presidente Lula mudanças no ministério,
sob o argumento de que merece ter na Esplanada um espaço compatível com o seu
peso no plenário da Câmara dos Deputados. O bloco, que recebeu o comando do
Esporte e de Portos e Aeroportos, sonha com a Saúde, mas aceitaria de bom grado
outras pastas, desde que tenham orçamento bilionário, capilaridade pelo país e
projetos de apelo popular.
Um dos líderes do Centrão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
está à frente da ofensiva sobre o Palácio do Planalto, movido, inclusive, por
desavenças pessoais. Em 2023, ele sugeriu a Lula, por exemplo, a demissão do
chefe da Casa Civil, Rui Costa, de quem se aproximou nos últimos meses e se
tornou um interlocutor frequente. Hoje, o desafeto de Lira é o ministro de
Relações Institucionais, Alexandre Padilha, justamente o articulador político
do governo, com quem o deputado se nega a conversar.
Bagunça geral
Apesar de ter feito concessões ao Centrão, Lula resistiu até aqui a
aumentar o espaço do grupo no ministério. A reivindicação por uma reforma, no
entanto, ganhou corpo nos últimos dias, depois de pesquisas mostrarem uma queda
na avaliação positiva do presidente e do governo. Em reação aos números,
petistas estrelados passaram a defender, nos bastidores, uma reorganização do
governo, que, segundos eles, estaria desorganizado, disfuncional,
desarticulado.
Um dos quadros mais influentes do PT alega que Lula se afastou do
conceito de frente ampla que foi a br de sua campanha em 2022 e garantiu a
vitória sobre Jair Bolsonaro. Uma eventual reforma ministerial deveria ter como
objetivo retomar e reforçar a frente ampla dentro do governo, para, a partir do
novo desenho, ser capaz de dialogar com diferentes setores da sociedade,
sobretudo aqueles em que o presidente enfrenta forte resistência.
Outra mudança importante, esta bem mais difícil de ser realizada, diz
respeito ao comportamento do próprio Lula. Em busca do sonho de se tornar um
líder global, o presidente tem mostrado pouca disposição para lidar com
assuntos do dia a dia da administração. Esse distanciamento favoreceria a falta
de coordenação e a disputa de poder entre ministros.
Hoje, são poucos os conselheiros com intimidade e estofo político para
cobrar Lula. Nas raras vezes em que isso ocorre, o presidente costuma responder
com algo mais ou menos assim — "quer me ensinar a governar, vai lá e ganhe uma
eleição antes". A esperança de alguns petistas é que o derretimento de imagem
possa resultar numa mudança de postura.
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