São Paulo — Um prédio com 13 andares, recheado de tecnologia e alguns milhões de dólares em investimento, abriga a elite brasileira dos games no Higienópolis, na região central de São Paulo.
Inaugurado no início do mês, o espaço é o Centro de Treinamento (CT), de operações e até mesmo moradia dos talentos da Team Liquid no Brasil, uma das equipes profissionais que disputam campeonatos de esportes eletrônicos — os e-sports.
Do térreo ao último andar, um passeio pelo prédio do número 903 da Avenida Angélica é uma viagem a um universo de telas, computadores e, principalmente, gente fanática por tecnologia.
O Metrópoles foi "abduzido" pelo Alienware Training Facility na última semana e conta o que viu no maior CT da Team Liquid no planeta — que tem duas vezes o tamanho de seus equivalentes em Utrecht, na Holanda, e em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde a marca também está presente.
Logo no térreo, os fãs encontram a única loja física da Team Liquid que existe no mundo. Os vendedores contam que muitos vão até lá, na esperança de encontrar alguns dos jogadores mais admirados da equipe no Brasil.
O time conta com 24 profissionais, entre jogadores, criadores de conteúdo e streamers, dedicados ao jogos Valorant, Rainbow Six Siege e Fortnit. Ao todo, são 80 funcionários atuando no CT.
O prédio no Higienópolis tem salas onde analistas, treinadores e jogadores estudam estratégias e desempenho em partidas, espaço de descompressão para relaxar, além de miniacademia, áreas de convivência, restaurante e rooftop.
Os atletas da Team Liquid também têm à disposição cabines para produzir e transmitir vídeos ao vivo pela internet, material que costuma ser febre entre os fãs de games e que os aproxima dos seus ídolos.
Como não poderia deixar de ser, a empresa conta com cinco influenciadores. No prédio de Higienópolis, eles podem usar os estúdios equipados para produção de fotos e vídeos, além de estações de edição como as de emissoras de TV.
Para tornar toda essa operação possível, são quatro andares dedicados aos escritórios e tecnologia de ponta vinda das marcas Alienware e Dell Technologies, parceiras da equipe.
Quem guiou a reportagem pelo mundo futurista da Team Liquid foi Adenauer "Silence" Alvarenga, de 31 anos, que tem longa carreira nos e-sports. Ele começou como jogador, quando a mãe ainda achava loucura viver de games. Depois, foi analista, técnico e diretor. Hoje, cuida da parte de eventos da "Cavalaria", como também é conhecida a marca, por causa de seu símbolo, o cavalo onipresente no centro de treinamento.
Segundo Silence, mais de 500 fãs compareceram à abertura do prédio no início de maio. "Alguns deles choraram de emoção", conta. Há pessoas que vêm de outros estados só para conhecer a estrutura, única desse porte no Brasil.
Se parece absurdo para quem não é familiarizado com os games, vale lembrar que grandes disputas chegam a reunir mais de 12 mil pessoas torcendo em estádios de futebol, com as partidas transmitidas em telões.
Para quem joga, não há dúvida de que os praticantes dos esportes eletrônicos são atletas, tanto que contam com apoio de nutricionistas, fisioterapeutas, além de psicólogos para suportar a pressão por resultados e longas finais que podem durar de cinco a seis horas de disputa frenética.
No prédio em São Paulo, até um toque de "cromoterapia" faz a diferença na hora do "vamos ver". Em alguns ambientes, as luzes são reguladas para ter a cor supostamente necessária a determinado momento. Por exemplo, o vermelho é para que todo mundo entre na partida "com sangue nos olhos". Já o azul acalma os jogadores.
A dedicação é tanta que, na última semana, às vésperas de partidas importantes, a equipe feminina da Team Liquid, que disputa o game Valorant, preferiu não conceder entrevistas para manter o foco e a concentração. As estratégias são mantidas em sigilo total dentro do Alienware Training Facility, assim como os valores do investimento no CT.
Felipe Alves da Cruz, de 22 anos, é um dos talentos da equipe no Brasil e decidiu trocar Curitiba por São Paulo em maio para se dedicar ainda mais aos treinos.
"Persa", como é conhecido entre os fãs de Fortnite, veio com o plano de alugar um apartamento na capital paulista, mas desistiu da ideia depois que passou a viver em um dos 19 dormitórios oferecidos para os jogadores da Team Liquid, distribuídos em cinco andares do prédio da Avenida Angélica.
"É impossível você ter uma estrutura melhor do que essa. Melhores monitores, internet, periféricos, conforto", diz. "Comida, água, quarto, luz. Você só precisa se preocupar em jogar o jogo e ser o melhor", conta.
Para alcançar os seus objetivos, Persa se dedica exclusivamente aos games 12 horas por dia. Também faz academia. "Me ajuda muito em relação à ansiedade. Dar o máximo lá melhora muito o meu ânimo, porque entro com foco para jogar depois", explica.
Caçula de uma família de três irmãos, o jovem curitibano se destacava nos jogos eletrônicos mesmo na concorrência com os mais velhos em casa. Passou a contar com assessoria e explodiu como atleta de e-sports.
Para ele, a admiração despertada nos fãs ainda causa estranhamento. "Até hoje, não sei lidar bem com isso. Uma pessoa gostar de você, pedir para tirar foto com você, é estranho", afirma. "Mas toda galera que vem, eu trato com o maior carinho possível", diz.
O jogador conta que muitos fãs chegam emocionados e até tremendo ao centro de treinamento repleto de símbolos alienígenas. Persa diz que tenta tranquilizar quem ainda se espanta com tudo o que rodeia esse universo. "A gente é amigo. Não precisa ficar nervoso", brinca ele.
Fonte: Metropoles