Arthur do Val, ex-deputado estadual de São Paulo, é alvo de
denúncia no Pará por expor adolescentes na ilha de Marajó. Nesta
segunda-feira, 11 de março, o Secretário Nacional da Criança e do Adolescente
do Ministério dos Direitos Humanos, Claudio Augusto Vieira, apresentou um
ofício ao Procurador Geral de Justiça do Ministério Público do Pará pedindo uma
investigação a respeito da produção e divulgação, no dia 8 de março, de um
vídeo do ex-deputado intitulado "Fui a Marajó e fiquei chocado com o que vi".
Filiado ao União Brasil, do Val é membro do Movimento Brasil Livre
(MBL) e diz no vídeo que foi à ilha verificar as denúncias da
senadora Damares Alves sobre a exploração sexual infantil na região.
Na gravação, de pouco mais de meia hora, ele aparece o tempo todo acompanhado
do também integrante do MBL Matheus Faustino, alvo de um pedido de investigação
por transfobia em dezembro do ano passado.
O ofício do representante do Ministério dos Direitos Humanos exige
explicações a respeito da situação criada por Do Val para a gravação e sobre o
envolvimento da Polícia Civil na operação. Do Val combinou com moradores locais
para que levassem duas adolescentes ao hotel onde ele estava hospedado com o
objetivo de forjar a denúncia.
Em um primeiro momento, o contato do ex-deputado chega ao hotel
sem as adolescentes. Mas ele telefona para a mãe das jovens e convence a mulher
a deixar elas saírem naquela noite. O morador que funcionou como contato de Do
Val sai para buscar as adolescentes enquanto o ex-deputado aciona os policiais,
que já estavam informados sobre o que estava para acontecer.
Quando as duas chegam ao hotel, em uma motocicleta, ele pergunta a
idade delas e diz não acreditar que elas tenham 18 anos. Pede a carteira de
identidade e na cena seguinte já aparecem agentes da Polícia Civil que levam as
adolescentes para a delegacia.
O vídeo aparentemente mostra uma armação para produzir uma
suposta denúncia. E o ofício do Secretário Claudio Augusto Vieira da Silva
exige esclarecimentos. Questiona a ausência de contato com o Conselho Tutelar,
com a Secretaria de Segurança Pública ou com o Conselho de Direitos Humanos. O
documento também pergunta pela responsabilização dos adultos envolvidos na cena
e aponta que o único resultado concreto da cena armada pelo ex-deputado foi a
exposição das adolescentes.
Segundo reportagem da Agência Pública, políticos
bolsonaristas pagaram para impulsionar postagens com denúncias falsas
sobre um suposto esquema de exploração infantil na Ilha de Marajó. O tema
viralizou nas redes depois da apresentação da cantora Aymeê Rocha, que
denunciou abusos contra crianças na região em um reality show gospel, no dia 15
de fevereiro.
Famosos e influenciadores passaram a compartilhar o vídeo da
apresentação e conteúdos falsos ou descontextualizados, que trazem
desinformação sobre a região. A "Ilha de Marajó" se tornou o assunto mais
pesquisado no Google no Brasil em 21 de fevereiro.
Conhecido como Mamãe Falei, o ex-parlamentar teve seu mandato cassado
pela Alesp por unanimidade, 73 votos a favor e nenhum contra, em 2022. Com a
cassação, ele ficou inelegível pelo período de oito anos.
Após viajar à Ucrânia, já durante a guerra contra a Rússia, o então
deputado mandou áudios para um grupo de amigos no WhatsApp em que dizia coisas
como:
"São fáceis (as mulheres ucranianas) porque são pobres. E aqui minha
carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém,
mas eu colei em duas "minas", em dois grupos de "mina". É inacreditável a
facilidade. Essas "minas" em São Paulo você dá bom dia e ela ia cuspir na sua
cara e aqui são super simpáticas".
Para o pedido de cassação ser aprovado, era necessária maioria simples
de votos: 48 dos 94 deputados deveriam votar sim. Ao transmitir o resultado da
votação que cassou o mandato, o presidente da Casa, Carlão Pignatari (PSDB),
disse que casos como o do ex-deputado serão "punidos com rigor" pela
assembleia.
"Fico muito triste que ainda estamos ouvindo sobre assédio, machismo,
sexismo, não só contra mulheres, mas contra crianças e idosos. Espero que
possamos, aqui na Assembleia Legislativa, dar um grande exemplo de que isso não
irá mais acontecer e que será punido com todo o rigor". Pignatari aproveitou
para pedir desculpas às mulheres ucranianas que foram ofendidas por Arthur do
Val.
Fonte: Fonte: ICLNoticias