Nesta semana, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma
série de anúncios do Novo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC Seleções),
com investimentos de R$ 23 bilhões na primeira fase e também atingiu R$ 95,3
bilhões em investimentos de montadoras até 2032, um recorde na história do
Brasil.
"A indústria automobilística andava encruada e nós já recebemos anúncio
de investimento de quase R$ 100 bilhões na indústria automobilística brasileira
para os próximos três anos", disse Lula em evento que anuncia investimentos do
PAC Seleções, que tem previsão de investir R$ 1,7 trilhão até 2026.
Recentemente também o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) anunciou o menor desemprego desde 2014 e o crescimento de 2,9% do
Produto Interno Bruto (PIB). Em meio a um momento mais ameno do governo, como,
por exemplo, em comparação à crise da reformulação da Esplanada no início do
mandato, as pesquisas de opinião pública apontam para insatisfação da população
com o governo.
No entanto, um dos pontos mais fortes de Lula nos mandatos anteriores
vem sendo uma das pedras no sapato do governo: os discursos internacionais.
Sobretudo, a comparação da invasão de Israel na Faixa de Gaza com o holocausto,
genocídio promovido por Adolf Hitler contra judeus na Segunda Guerra Mundial.
Popularidade
Por mais que no governo o discurso seja otimista e tenha, de fato,
números acima do que analistas e o mercado esperavam, a população não vem tendo
a mesma impressão. Mesmo sem nenhuma grande crise política ou escândalo de
corrupção na atual gestão, a popularidade do presidente vem despencando e
chegou aos piores resultados somando os três governos.
Segundo a última pesquisa Quaest divulgada quarta-feira, a aprovação do
governo Lula caiu para 51% dos entrevistados, aproximando de forma inédita dos
46% que desaprovam o trabalho do presidente. De acordo com o Ipec, a aprovação
é ainda pior, de 33%.
Segundo o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom),
Paulo Pimenta, o resultado ruim foi puxado pela comparação que Lula fez entre a
invasão israelense em Gaza com o Holocausto promovido por Hitler contra os
judeus.
"A pesquisa reflete uma análise conjuntural de uma determinada
circunstância, de um posicionamento nosso (governo) sobre esse genocídio, esse
massacre que está acontecendo em Gaza [
] Na medida que o tempo vai passando,
há uma compreensão sobre a importância da manifestação do presidente Lula,
corajosa, que abriu os olhos de muita gente", disse Pimenta em entrevista
coletiva no Palácio do Planalto.
Governadores
Embora Lula tenha boa relação até mesmo com governadores da oposição, o que
poderia fazê-lo ganhar simpatia de algumas pessoas do campo político oposto,
isso não acontece. No começo de 2024 foram diversas agendas e entregas ao lado
de Tarcísio de Freitas (SP), Ratinho Júnior (PR) e Romeu Zema (MG), que
inclusive, esteve no Palácio do Planalto para reunião com Lula durante a
semana.
Dificuldade de comunicação
No entanto, outros fatores podem ter pesado na redução da popularidade do
presidente. Segundo o cientista político, Valdir Pucci, o governo e as
esquerdas como um todo possuem dificuldades para se comunicar com a população.
"O governo não está sabendo falar com a sociedade, porque se pensarmos
bem não houve uma grande crise ou não houve um freio na economia, um grande
escândalo de corrupção que justificasse uma queda acentuada na popularidade do
presidente Lula", disse.
O especialista afirma que mesmo nos pontos positivos da gestão Lula, o
governo não consegue passar para a população como um todo. Outro fator é que as
redes sociais seguem dominadas pelo bolsonarismo. Poucos nomes da esquerda
possuem boa capilaridade no campo digital em comparação com os políticos de
direita. Valdir Pucci também mencionou que o presidente Lula vem fazendo "falas
desastrosas",
"Falas feitas de improviso, falas que muitas vezes não refletem uma
opinião da sociedade brasileira ou majoritária da sociedade brasileira e que
acabam causando um certo dissabor do presidente com a imprensa e
consequentemente também com a sociedade. E é claro que também as redes sociais
de oposição, que elas sabem fazer isso muito bem, acabam se aproveitando desses
momentos para poder atacar a popularidade do presidente Lula", avaliou.
Agendas
Apesar do discurso estar afetando a popularidade dentro do país, no exterior
Lula segue alçando o Brasil a um papel de liderança. Seja na presidência do G20
ou em eventos em que participou como convidado, como a Comunidade do Caribe
(Caricom). Mas a influência do presidente brasileiro ultrapassa os limites da
América Latina.
Na última quarta-feira (6), o presidente da Espanha, Pedro Sánchez, fez
uma visita oficial ao Brasil e durante as cerimônias no Palácio do Planalto,
foram firmados quatro atos para a cooperação em quatro setores diferentes de
atuação. Lula e Sánchez também trocaram afagos e promessas de aumentar
parcerias, acordos comerciais e investimentos. Ambos também se manifestaram
favoráveis ao acordo comercial Mercosul e União Europeia.
Investimentos
No mesmo dia, Lula se reuniu com Carlos Tavares, CEO e diretor-executivo global
da empresa automotiva Stellantis. Foi anunciado um ciclo de investimentos de R$
30 bilhões entre 2025 e 2030 para a fabricação de 40 novos produtos, incluindo
veículos híbridos e elétricos. Contando com outros investimentos anunciados por
empresas como BYD, General Motors e Hyundai, o governo Lula chegou ao total de
R$ 95,3 bilhões em investimentos de montadoras.
Segunda-feira (4), Lula teve reuniões com líderes de instituições
financeiras internacionais e nacionais. Já na segunda-feira, ele se reuniu com
a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.
Nascida em Sofia, na Bulgária, Georgieva veio ao Brasil participar do encontro
de ministros da Economia do G20, sediado em São Paulo, e aproveitou para se
encontrar com Lula em Brasília. Logo na sequência, o presidente da República se
reuniu com o presidente do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura
(AIIB), o chinês Jin Liqun.
Liqun anunciou que o AIIB está disposto a aumentar o leque de
investimentos no Brasil e que os aportes em eventuais parcerias chegarão "sem
restrição de capital", mas impôs como condição a apresentação de "bons
projetos".
Durante uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, Liqun afirmou
que não foram debatidas áreas específicas, mas que existe uma preferência para
investir em projetos de rodovias, portos e ferrovias. Disse ainda que o AIIB
deseja investir em obras que possam conectar a malha rodoviária e a ferroviária
do Brasil ao Oceano Pacífico, para facilitar importações e exportações com o
mercado asiático.
Apesar de ter ferramentas para aumentar a popularidade, o governo vem
decaindo desde as primeiras pesquisas, que chegaram a apontar 60% de aprovação.
"Então, esses três fatores, devem ser muito bem observados pelo governo,
ou seja, melhorar a sua comunicação, tentar controlar as falas de improviso do
presidente, principalmente no que se refere à política externa, e também o
governo e principalmente a esquerda no Brasil deve aprender melhor a lidar com
as redes sociais", concluiu Valdir Pucci.
agoranoticiasbrasil.com.br